Economia
Entenda o aumento de gastos com o BPC/Loas, que é pago pelo INSS a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda
Após uma elevação de 130 mil beneficiários entre janeiro de 2019 e maio de 2022, número de pessoas que recebem benefício aumenta em mais de 1,1 milhão nos últimos dois anos

De janeiro de 2019 e maio de 2022, o número de pessoas que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC/Loas) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) cresceu apenas 130 mil beneficiário. Porém, nos últimos dois anos, a base de benefIciários aumentou em mais de 1,1 milhão de pessoas. Essa disparada na concessão é apontada como uma das causas do bloqueio orçamentário que o governo federal precisou fazer.
Os números apontam que foi a partir de junho de 2022, quatro meses antes da eleição presidencial, que o número de concessões mudou de tendência.
O BPC/Loas é um benefício concedido a pessoas com deficiência de qualquer idade ou idosos acima de 65 anos que não têm meios de garantir a sua própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. Esse valor é concedido independentemente do tempo de contribuição para a Previdência Social.
Em maio de 2022, o total de beneficiários do BPC/Loas era de 4,7 milhões. Em maio deste ano, é de 5,9 milhões. Como padrão de comparação, três anos antes, em janeiro de 2019, esse número era de 4,6 milhões de pessoas.
As concessões podem ser dadas pelas vias administrativa ou judicial, isto é, quando determinadas por algum Tribunal após a apresentação de ações. Os números apontam que as concessões administrativas se mantiveram em patamar inalterado entre 2019 e 2022, e vem aumentando consistentemente desde então. Já a concessão judicial já vinha aumentando desde 2019, mas também se acelerou a partir de 2022.
Via judicial
No caso das concessões determinadas pelo Judiciário, por exemplo, em 2019, 469 mil dos beneficiários tinham obtido o pagamento dessa forma, valor que chegou a 573 mil em maio de 2022, um aumento de 22%. Em maio deste ano, foi a 776 mil — um crescimento de 35% em dois anos.
Essa aceleração ocorreu principalmente com uma atuação da Justiça para garantir o direito a pessoas com deficiência. Atualmente, 658 mil beneficiários com alguma deficiência obtiveram o benefício por meio de alguma ação judicial, enquanto 117 mil idosos conseguiram dessa forma.
Via administrativa
Por outro lado, a concessão administrativa incluiu de forma praticamente idêntica pessoas com deficiência e idosos. Atualmente, 2,6 milhões conseguiram o beneficio administrativamente, sem necessidade de processo judicial, por se enquadrarem como pessoas com deficiência. Da mesma forma, 2,5 milhões de idosos também adquiriram o benefício pela via tradicional.
Diversos motivos explicam a concessão administrativa para pessoas com deficiência, mas a maior parte dos casos são explicados por autismo, transtornos globais do desenvolvimento, retardo mental moderado, esquizofrenia paranoide e acidente vascular cerebral, segundo as definições do INSS.
Aumento em 2024
Segundo dados do INSS, o gasto com o auxílio no primeiro semestre de 2024 atingiu R$ 44,076 bilhões, alta de 19,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já o número de concessões do benefício deu um salto de 40% no período, saindo de 786.087 em 2023 para 1,105 milhão.
O aumento desse tipo de gasto com BPC/Loas e com benefícios previdenciários, como aposentadoria e auxílio-doença, por exemplo, obrigou o governo a fazer um bloqueio de R$ 11,3 bilhões no Orçamento de 2024 para evitar o descumprimento das regras fiscais. O tamanho do congelamento que chegará a R$ 15 bilhões vai afetar toda a administração pública, segundo técnicos da equipe econômica. Os detalhes sobre as áreas mais atingidas serão divulgados no fim deste mês.
Mais para pessoas com deficiência do que para idosos
Os números mostram ainda que no atual governo as concessões de BPC/Loas para pessoas com deficiência (PcDs) crescem acima do número do auxílio para idosos. No primeiro semestre de 2022, foram concedidos 463.189 auxílios para PcDs, contra 862.268 no primeiro semestre de 2024.
Em relação aos idosos, as concessões de BPC/Loas passaram de 183.877 no primeiro semestre de 2022 para 243.146 no mesmo período deste ano. Na comparação entre os semestres, a alta foi de 32,23%.
Política de reajuste
Um dos motivos para a alta das despesas com o BPC/Loas é a política de reajuste do salário mínimo, ressuscitada no atual governo, que considera o crescimento da economia, mais a inflação. Outro fator apontado por especialistas é o alto índice de judicialização para obter o benefício.
Para contornar esse problema, o governo passou a aprovar o BPC/Loas para beneficiários com renda de até meio salário mínimo (R$ 706) por pessoa da família, em casos específicos. Pela legislação, são elegíveis pessoas com renda de até um quarto do salário mínimo (R$ 353).
Mudança na lei
Outra alteração foi uma lei aprovada em 2020 que autorizou o pagamento do BPC/Loas para até duas pessoas por famílias. Antes, apenas uma tinha direito ao auxílio.
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) cita ainda o aumento do reconhecimento do BPC/Loas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Contudo, a lei só autoriza o benefício em casos graves da doença.
Para o especialista e ex-presidente do INSS Leonardo Rolim, mesmo considerando todas as variáveis, é preciso apurar a ocorrência de fraudes e pagamento indevidos. Apesar do rápido processo de envelhecimento da população, o que empurra as pessoas sem contribuição para o INSS para a fila do BPC e maior conscientização dos casos de autismo, não houve mudança significativa no perfil demográfico em tão curto espaço de tempo, explicou Rolim.
— O crescimento no número de requerimentos de BPC, tanto de pessoas com deficiência quanto de pessoas idosas, bem como de concessões de benefícios tão elevado não pode ser explicado pelo envelhecimento da população nem pelo aumento do número de pessoas com deficiência, muito menos pela evolução da pobreza. Em 2020 tivemos um aumento similar nas concessões do Seguro-defeso e após realizar diversos cruzamentos de dados, concluiu-se que grande parte desse incremento era derivado de fraudes cibernéticas — disse Rolim.
Número de benefícios
Janeiro de 2019: 4.638.591
Maio de 2022: 4.769.445
Maio de 2024: 5.956.798
Concessão administrativa (total de benefícios)
Janeiro de 2019: 4.169.501
Maio de 2022: 4.195.915
Maio de 2024: 5.180.507
Concessão judicial (total de benefícios)
Janeiro de 2019: 469.090
Maio de 2022: 573.530
Maio de 2024: 776.291
Como se dividem (total de benefícios)
Concessão administrativa - pessoas com deficiência
Maio de 2022: 2.124.919
Maio de 2023: 2.334.600
Maio de 2024: 2.644.620
Concessão administrativa - idosos
Maio de 2022: 2.070.996
Maio de 2023: 2.316.094
Maio de 2024: 2.535.887
Concessão judicial - pessoas com deficiência
Maio de 2022: 473.678
Maio de 2023: 532.202
Maio de 2024: 658.873
Concessão judicial - idosos
Maio de 2022: 99.852
Maio de 2023: 106.285
Maio de 2024: 117.418
Gastos
2022: R$ 34 bilhões
2023: 36,7 bilhões
2024: 44 bilhões
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