Política

De saída do PL, Ricardo Salles pretende ajudar campanha de Marina Helena pelo Novo em São Paulo

Acerto pode atrair votos da direita para candidata do Novo, apesar de apoio de Bolsonaro ao prefeito Ricardo Nunes (MDB)

Agência O Globo - 19/07/2024
De saída do PL, Ricardo Salles pretende ajudar campanha de Marina Helena pelo Novo em São Paulo

Autorizado a abandonar o PL sem correr o risco de perder o mandato por infidelidade partidária, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) deve retornar ao Partido Novo e participar efetivamente da campanha da pré-candidata a prefeita de São Paulo Marina Helena. O movimento tem o potencial de atrair votos da direita bolsonarista e "esquentar" a candidatura faltando cerca de um mês para o início oficial da campanha.

— Vou ajudar, sim, mas ainda não conversamos sobre como fazer isso — afirmou o deputado ao GLOBO.

A direção nacional do partido, por ora, não confirma a entrada de Salles na campanha de Marina Helena, o que ainda dependeria de conversas com o presidente da sigla, Eduardo Ribeiro. A filiação, por outro lado, estaria bem encaminhada. Marina Helena também foi procurada, mas não retornou os pedidos de entrevista.

Salles estava afastado da disputa pela prefeitura de São Paulo desde que teve o nome rifado por duas vezes pelo PL, que optou por apoiar o atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB). O acordo, costurado pelo presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, enfrentou resistência do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, mas acabou se concretizando com a garantia da indicação do coronel da reserva da Polícia Militar Ricardo Mello Araújo, um bolsonarista convicto, para vice na chapa.

Salles tem consideração por Mello Araújo, mas a afinidade não é suficiente para que ele apoie a reeleição de Nunes, de quem é desafeto político. Após o acerto do PL com o emedebista, Salles declarou que não iria se envolver no pleito, atribuindo o acerto a negócios de ocasião do chamado "Centrão" e evitando comparecer ao lado de Nunes em eventos.

As críticas públicas ao próprio PL geravam incômodos, desde o ano passado, entre integrantes do grupo político liderado por Valdemar, anterior à chegada de Bolsonaro, em 2021. Houve o cuidado, porém, para liberá-lo somente após o prazo final de filiação partidária, encerrado em abril, de modo a evitar que o deputado concorresse por outra legenda. Na época, ele tinha conversas avançadas com o PRD, partido que depois também se aliou a Nunes.

Garantia em debates

Mesmo na ausência de acenos públicos por Marina, a mera entrada de Salles no partido já contribuiria indiretamente com a candidatura. Isso porque o Novo passa a ter presença garantida em debates de TV em todo o Brasil ao elevar de quatro para cinco o número de parlamentares no Congresso, que representa o "ponto de corte" para obrigatoriedade do convite pela legislação eleitoral. A sigla conta hoje com três deputados federais e um senador.

Salles já esteve filiado ao Novo, mas foi expulso, em maio de 2020, por assumir o cargo de ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro sem consentimento do partido. Ele permaneceu no cargo de janeiro de 2019 a junho de 2021. A gestão foi criticada por ambientalistas e costuma ser lembrada pelo episódio em que defendeu "passar a boiada" e modificar regras ambientais durante a pandemia de Covid-19. Em 2022, foi eleito deputado federal por São Paulo com 640 mil votos, o quarto melhor resultado no Estado. Destes, 177 mil vieram da capital.

O convite para retornar ao Novo teria sido feito ainda no começo de julho e, segundo declarações do deputado nas redes sociais, envolve a promessa de que sairá candidato ao Senado em 2026. O cenário dificulta os planos do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, outro cotado para a disputa. Apesar de o pleito renovar duas vagas, a divisão de votos no mesmo espectro político traz riscos.

Quem é Marina Helena

A pré-candidata do Novo, Marina Helena, foi diretora de Desestatização na gestão de Paulo Guedes no Ministério da Economia, durante o governo Bolsonaro. Em 2022, concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados, recebendo cerca de 50 mil votos em São Paulo, resultado que a colocou como primeira suplente da parlamentar Adriana Ventura (Novo-SP).

A campanha na capital paulista deve passar por críticas à esquerda e em favor do liberalismo econômico. Ela também fez uma série de acenos ao eleitorado bolsonarista e compareceu a uma manifestação convocada por Bolsonaro na Avenida Paulista, em fevereiro deste ano, em meio a operações da Polícia Federal contra o ex-presidente e aliados que investigam a existência de uma suposta trama golpista no Planalto após as eleições presidenciais de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada em 8 de julho, Marina Helena conta com cerca de 5% das intenções de voto. Ricardo Nunes, com 24%, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), com 23%, lideram o levantamento mais abrangente. A candidata do Novo aparece em empate técnico, mas numericamente abaixo, de outros três concorrentes: o jornalista José Luiz Datena (PSDB), com 11%, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), com 10%, e a deputada federal Tabata Amaral (PSB), com 7%. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.