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HIV: cientistas anunciam 7º paciente curado da infecção; entenda

Alemão de 60 anos é mais um caso de remissão após transplante de medula óssea cujo doador era resistente ao vírus

Agência O Globo - 18/07/2024
HIV: cientistas anunciam 7º paciente curado da infecção; entenda

Cientistas anunciaram o 7º caso de cura provável do HIV. O paciente é um homem alemão de 60 anos que, assim como nos casos anteriores, passou por um transplante de medula óssea cujo doador tinha uma mutação genética que o tornava resistente ao vírus. Os pesquisadores relataram o caso nesta quinta-feira antes da 25ª conferência internacional de AIDS.

O paciente, que prefere permanecer anônimo, é apelidado de “novo paciente de Berlim”, uma referência ao primeiro “paciente de Berlim”, Timothy Ray Brown, que foi a primeira pessoa a ser declarada curada do HIV em 2008. Timothy, no entanto, morreu de câncer em 2020.

O “novo paciente de Berlim” foi diagnosticado em 2009. Em 2015, foi diagnosticado com leucemia mieloide aguda (LMA), a forma mais agressiva do câncer, e precisou receber um transplante de medula óssea. O doador tinha uma mutação genética que tornava as suas células resistentes à entrada do HIV. Com isso, o vírus parou de se replicar.

No final de 2018, o homem interrompeu o tratamento antirretroviral. Até agora, quase seis anos depois, o vírus não voltou a ser detectado no seu organismo, o que indica a cura da infecção. Os pesquisadores apresentarão o caso em Munique, na Alemanha, na conferência na próxima semana.

— Estamos muito satisfeitos que o paciente esteja em boa saúde e indo bem. O fato de ele estar sob observação por mais de cinco anos e estar livre de vírus o tempo todo indica que realmente conseguimos erradicar completamente o HIV do corpo do paciente. Então, nós o consideramos curado do HIV — disse Olaf Penack, médico do departamento de Hematologia, Oncologia e Imunologia do Câncer do hospital Charité que cuidou do paciente.

O paciente celebrou: "Uma pessoa saudável tem muitos desejos, uma pessoa doente apenas um", disse em nota.

No entanto, ainda que os casos sejam um sinal positivo de que é possível eliminar o HIV, o transplante é um procedimento complexo e arriscado e, por isso, não é considerado uma alternativa em larga escala que poderá ser oferecida a todos aqueles que vivem com HIV. É uma opção apenas aos que já necessitam passar pelo procedimento devido ao câncer.

Diferença dos casos anteriores

Todos os casos de remissão até agora do HIV foram de pacientes que necessitaram de um transplante de medula óssea devido a um câncer e, ao selecionar o doador, os médicos buscaram alguém com uma mutação genética que levava a não expressão de um receptor chamado CCR5.

Esse receptor é uma proteína que fica na superfície das células do sistema imunológico chamadas linfócitos T CD4, que são os principais alvos do HIV. Ele atua como uma espécie de fechadura por onde o vírus entra na célula. Porém, com a mutação e a ausência do receptor, a célula se torna resistente à infecção, interrompendo a replicação do vírus no organismo e eventualmente o eliminando.

O caso do "novo paciente de Berlim", no entanto, é diferente de outras remissões de longo prazo, observou Lewin. Os outros pacientes receberam a medula óssea de doadores que herdaram duas cópias do gene mutante, uma de cada pai, o que as tornava “praticamente imunes” ao HIV.

Já no caso mais recente, o doador havia herdado apenas uma cópia do gene mutante, algo mais comum e que amplia o número de doadores em potencial. Menos de 1% da população é portadora dessa mutação protetora do HIV, portanto, é muito raro que um doador de medula compatível tenha essa mutação.

— Não conseguimos encontrar um doador de células-tronco correspondente que fosse imune ao HIV, mas conseguimos encontrar uma cujas células têm duas versões do receptor CCR5: a normal e, em seguida, uma extra, mutada — explicou Penack.

Para Lewin, os resultados positivos ainda que o doador não tivesse duas cópias do gene é algo animador: — O paciente sugere que podemos ampliar o número de doadores para esses tipos de casos, embora o transplante de células-tronco seja usado apenas em pessoas que têm outra doença, como leucemia. Isso também é promissor para futuras estratégias de cura do HIV baseadas em terapia genética, pois sugere que não precisamos eliminar cada parte do CCR5 para obter a remissão.

O “paciente de Genebra”, revelado em 2023, também é outra exceção, pois recebeu um transplante de um doador que não tinha nenhuma mutação desse gene.