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Sérgio Cabral e os tempos das 'festas loucas' de O Pasquim: 'Um sucesso que a gente não esperava nem merecia'
Jornalista, que morreu xxxx, relembrou em depoimentos a sua experiência no lendário jornal satírico no final dos anos 1960 e sua prisão na ditadura militar

Jornalista, escritor, compositor e pesquisador, Sérgio Cabral marcou época na redação de O Pasquim. Junto com os colegas Tarso de Castro e Jaguar, ele fundou o semanário alternativo e satírico, que enfrentou a censura da ditadura militar. Cabral relembrou a "festa louca" dos tempos de Pasquim em diversos depoimentos recolhidos a veículos de imprensa, que foram recolhidos pelo site da Biblioteca Nacional.
"O Pasquim fez um sucesso que a gente não esperava e provavelmente nem merecia, um sucesso muito grande", lembrou ele.
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A primeira edição saiu em junho de 1969, com tiragem de 14 mil exemplares e se esgotou rapidamente. Cinco meses depois, já vendia 100 mil exemplares e, no ano seguinte, alcançou a marca de 200 mil. Em novembro daquele ano, ele e os colegas foram presos. Apesar de unidos na adversidades, os membros da equipe brigavam frequentemente.
"Essas brigas afetaram muito pouco as relações pessoais, acho que briga, só o Millôr e o Tarso que não se falam mesmo.”
O pior mesmo, na opinião do jornalista, foi a incapacidade de gerir o jornal como empresa.
"Nós fomos extremamente incompetentes para administrar a empresa, porque ninguém estava querendo administrar a empresa, a gente era jornalista e tal", contou Cabral. "Inclusive quando eu saí do Pasquim, tinha gente que achava até que eu estava com o dinheiro, mas não estava não. Aliás, o Pasquim não me deu dinheiro nem para comprar uma bicicleta, quanto mais um automóvel".
O período na prisão foi descrito por Cabral como "uma viagem de avião de 58 dias". Ele estava em uma festa à beira da piscina em um clube no litoral de Campos, tomando gin-tônica, quando sua mulher ligou avisando que a polícia havia invadido a redação do jornal e "prendido todo mundo".
Ainda assim, voltou ao Rio e mandou imprimir o novo número do Pasquim.
"Saí da oficina e fui para o restaurante Nino's, onde encontrei um tenente-coronel, meu antigo conhecido, com quem reclamei pela prisão dos companheiros Ziraldo, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel, do Haroldinho e do fotógrafo Paulo Garcez, que havia se casado dois dias antes e estava, portanto, em plena lua-de-mel", contou. "Saíra de casa para comprar goiabada e foi apanhado, donde concluímos que no regime Garrastazu Médici recém-casado não podia comprar goiabada".
O tenente teria ficado surpreso e disse que havia uma ordem para não prender Oscar Niemeyer. Dom Hélder Câmara , Chico Buarque de Holanda e o pessoal de O Pasquim. No dia 4 de novembro, reuniu-se com os membros do jornal que ainda não tinham sido presos.
"A reunião foi realizada num bar instalado perto da redação, quando foi decidido que o melhor seria a minha apresentação. Num acesso imbecil de megalomania, achei que as, forças de repressão estavam querendo mesmo o diretor do jornal, na época eu"
O grupo fez uma vaquinha para sair de táxi de Ipanema até Marechal Hermes, onde seriam colhidos os depoimentos. A promessa é que todos seriam soltos depois disso. O que não se concretizou.
"Fizemos uma vaquinha. Flávio Rangel, Jaguar e eu para pagar o táxi de Ipanema a Marechal Hermes. Custou um dinheirão. Paramos antes de entrar na Vila Militar, num boteco, pra tomar umas cervejas. Quando beberíamos outras? A gente não levou mala, o convite era depor e depois voltar pra casa. Mas ninguém duvidava de que ia ficar em cana. Não deu outra: e a 'gripe' só acabou no dia 31 de dezembro".
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