Internacional
Em reunião do Conselho de Segurança sobre a Ucrânia, representante da ONU chama ataques a hospitais de 'crimes de guerra'
Encontro foi marcado um dia depois de russos atingirem hospital pediátrico em Kiev, em meio a bombardeios que deixaram quase 40 mortos no país

A chefe interina de ajuda humanitária da ONU chamou de “crimes de guerra” os ataques contra instalações médicas na Ucrânia, um dia depois do maior hospital pediátrico do país ser atingido por um míssil, em meio a uma série de ataques russos que deixou 38 mortos no país. As declarações foram feitas durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, que em julho é presidido pela Rússia.
— Estes incidentes fazem parte de um padrão profundamente preocupante de ataques sistemáticos que prejudicam os cuidados de saúde e outras infraestruturas civis em toda a Ucrânia. E os ataques intensificaram-se desde a primavera de 2024 [no Hemisfério Norte] — afirmou Joyce Msuya, diante dos representantes dos países do Conselho. — Direcionar, de maneira intencional, ataques contra um hospital protegido é um crime de guerra, e seus autores devem ser responsabilizados.
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Na segunda-feira, várias cidades da Ucrânia foram atingidas por mísseis lançados de posições russas, afirmam as autoridades ucranianas, destruindo casas, escolas, clínicas e infraestruturas básicas, incluindo o hospital Ohmatdyt, referência em cirurgias pediátricas e no tratamento de câncer. Segundo o presidente Volodymyr Zelensky, quase 200 pessoas ficaram feridas, muitas em estado grave.
Msuya voltou a cobrar que os envolvidos na guerra, assim como toda a comunidade internacional, ajam também para garantir que pessoas em áreas de combate, como no Leste da Ucrânia, tenham acesso a cuidados médicos e alimentos
— De acordo com a lei humanitária internacional, é imperativo que um apoio humanitário imparcial seja facilitado para civis que precisem dele — disse Msuya, pedindo que governos e instituições privadas intensifiquem suas doações a agências do sistema ONU, para “garantir as operações em um ambiente cada vez mais complexo e perigoso”.
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A reunião foi convocada a pedido de países como Estados Unidos e Equador, que ocupam assentos permanentes e não permanentes no Conselho de Segurança, mas não havia expectativa por uma condenação mais contundente da Rússia: Moscou tem poder de veto no órgão, e ocupa, em julho, a presidência rotativa, o que lhe dá algum poder para definir a pauta. Isso não impediu críticas agudas aos russos.
Antes do início, o embaixador da República Tcheca na ONU, Jakub Kulhanek, acusou os russos de “fazerem de tudo” para impedi-lo de discursar — o país não integra o Conselho de Segurança na atual formação. Posteriormente, a Chancelaria divulgou o texto do discurso, o qual afirma que “o espetáculo horrível de morte e destruição implacáveis causados pela agressão flagrante da Rússia atingiu um novo capítulo sombrio”.
“Não importa quais mentiras os propagandistas russos continuem a espalhar, a verdade simples permanece: a Rússia de [Vladimir] Putin [presidente da Rússia] é o agressor. O lançamento desta guerra de agressão territorial é uma escolha da Rússia. A violação grosseira da Carta da ONU e do direito internacional é escolha da Rússia. O bombardeio de escolas e hospitais é uma escolha da Rússia”, diz o texto do discurso.
No plenário, o embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslutya, acusou os russos de “atacar deliberadamente” o hospital, onde muitas crianças fazem tratamentos para doenças graves.
— Ontem [segunda-feira], a Rússia mais uma vez mostrou sua repugnante versão de empatia com as crianças ao atacar o [hospital] Ohmatdyt com seu míssil de cruzeiro Kh-101 — disse o diplomata, citando a arma que Kiev afirma ter sido usada no ataque. Ele mostrou um vídeo do momento em que o projétil atinge o prédio, e imagens dos fragmentos do míssil, afirmando que uma “investigação completa” está sendo realizada.
As críticas vieram também dos EUA: a embaixadora do país na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que a simples menção de um ataque a um hospital infantil “lhe causou um frio na espinha”. Ela acusou a Rússia de ignorar a segurança das crianças não apenas nos bombardeios de segunda-feira, mas desde o início do conflito, em 2022.
— O fato é que, ao redor do país, centenas de crianças foram mortas, milhares feridas e milhões deslocadas de suas casas enquanto a Rússia continua sua campanha de terror na Ucrânia — disse Thomas-Greenfield. — E também existem as crianças que a Rússia deportou ou transportou de maneira forçada, roubando dos ucranianos não apenas sua juventude, mas suas próprias identidades.
Geng Shuang, vice-embaixador da China na ONU, pediu que todos os envolvidos na guerra respeitem a lei internacional, e evitem ataques contra civis ou infraestruturas civis.
— A China está profundamente preocupada com isso e reiteramos o nosso apelo às partes em conflito para que exerçam a racionalidade e a contenção, cumpram eficazmente o direito humanitário internacional e façam o máximo para evitar vítimas civis — disse o diplomata.
Ele também defendeu que russos e ucranianos devem agir para reduzir a intensidade do conflito o quanto antes — em fevereiro, Pequim, aliada próxima de Moscou, divulgou um plano de paz com 12 pontos, incluindo um cessar-fogo imediato e o início de negociações. A proposta foi apoiada pela Rússia, mas recebida com ceticismo em Kiev e em capitais no Ocidente.
Como esperado, a Rússia usou o plenário para contestar as acusações de que está por trás do ataque ao hospital pediátrico. Vassily Nebenzia, embaixador russo, disse que o prédio foi atingido por um míssil lançado por um sistema de defesa aérea norueguês, e que apenas “alvos militares” foram alvejados pelos foguetes vindos da Rússia. Ele ainda sugeriu que a ação foi uma forma usada pelas autoridades ucranianas para “distrair as massas da ilegalidade diária da corrupção do Governo”.
— Eles [governos ocidentais] provavelmente viram muitas análises do que aconteceu em fotos e vídeos, das quais se conclui claramente que se tratava de um míssil da defesa aérea ucraniana — disse Nebenzia. — Aqui você tem a magia da ginástica verbal demonstrada pelos membros ocidentais do Conselho de Segurança, tentando por todos os meios proteger o regime de Kiev.
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