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Um ano após resgate, instituto mostra fotos dos irmãos colombianos que ficaram perdidos por 40 dias na selva; veja

Grupo ficou 40 dias na floresta amazônica após acidente aéreo; sobrevivência chamou a atenção e causou comoção global

Agência O Globo - 06/07/2024
Um ano após resgate, instituto mostra fotos dos irmãos colombianos que ficaram perdidos por 40 dias na selva; veja

O acidente de avião que deixou quatro crianças perdidas por quarenta dias na selva Amazônica completou um ano no último dia 9. Três adultos, entre eles a mãe das crianças, morreram no acidente provocado por uma falha mecânica. Por conta da data, o Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar (ICBF), órgão responsável pelos cuidados deles, publicou fotos de como os irmãos estão e um relato de como foi o resgate. Eles foram idenficados como Lesly Jacobombaire Mucutuy, de 13 anos; Soleiny Jacobombaire Mucutuy, de 9 anos; Tien Noriel Ranoque Mucutuy, de 4 anos, e Cristin Neriman Ranoque Mucutuy, de 1 ano.

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"Os quatro menores estão sob a proteção do ICBF, que tem trabalhado pelo bem-estar integral, com ênfase étnica para resguardar seus costumes. Hoje, graças aos nossos heróis, podemos continuar celebrando a vida", celebraram nas redes sociais.

A mãe dos quatro, Magdalena Mucutuy, morreu no acidente de avião que as crianças sobreviveram. No dia 1º de maio, ela e os filhos embarcaram em uma aeronave que fazia a rota Araracuara (Caquetá) – San José del Guaviare, uma área de selva amazônica com poucas opções de transporte e onde são comuns viagens desse tipo de aeronaves precárias. No meio do caminho, quando sobrevoavam Caquetá, sobre o rio Apaporis, em plena selva amazônica, o piloto comunicou pelo rádio uma falha no motor.

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Eles iam a Bogotá para se reencontrar com Manuel Ranoque, pai das crianças, que havia se deslocado da reserva onde era governador, após denunciar ameaças da Frente Carolina Ramírez, um dos grupos dissidentes da extinta guerrilha das FARC. Após a queda do avião, eles foram forçados a sobreviver com farinha de mandioca encontrada na bagagem de um dos mortos, frutas da selva e pacotes de suprimentos de emergência deixado pelos militares. Ranoque, juntamente com soldados e guardas indígenas, foi protagonista da operação de resgate.

O mesmo avião que caiu já havia caído em 2021. Não houve mortes, mas foi destruído. O aparelho foi consertado sem consultar o fabricante, porque a restauração era mais barata. O avião foi fabricado em 1982, nos Estados Unidos, e chegou à Colômbia em 2019. Um mecânico aeronáutico consultado por este jornal afirma que nunca deveria ter voado naquelas condições.

Relembre o caso

Após o desastre com a aeronave em primeiro de maio do ano passado, o presidente colombiano Gustavo Petro chegou a anunciar, dias depois, que as crianças haviam sido encontradas, mas voltou atrás na informação e as buscas continuaram.

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Mais de 100 militares com cães farejadores foram acionados para seguir o rastro dos menores e caminharam pela selva entre os departamentos de Caquetá, onde o avião ficou com a frente destruída, e Guaviare, ambos no sul da Colômbia.

No momento do acidente, a avó das crianças, Fátima, falou com o jornal El Tiempo sobre a expectativa pelas buscas aos netos e sobre a tristeza com a morte da filha, Magdalena Mucutuy, mãe dos quatro irmãos da etnia indígena Huitoto. Além da mãe dos meninos, também morreram o piloto e o outro passageiro, um líder indígena.

Durante as buscas, em uma área de mata fechada e de difícil acesso, os militares e indígenas envolvidos na operação acharam vestígios que indicavam a sobrevivência dos meninos. Fraldas, um acessório para celular, uma toalha e um par de tênis estavam entre os objetos encontrados. Os itens surgiram a cerca de 600 metros do local onde caiu o avião. Na região, há a presença constante de animais selvagens e chuva permanente que dificultaram o resgate.

Também encontraram "frutos picados da selva", disse à AFP Germán Camargo, diretor da Defesa Civil do departamento de Meta, de onde procedeu o resgate e extração dos corpos do piloto e de dois passageiros que estavam localizados no departamento de Caquetá.

Pai preso

Pouco mais de dois meses após as crianças serem resgatadas, a polícia colombiana prendeu Manuel Ranoque, pai delas. A informação foi confirmada pela Procuradoria Geral da República, que acrescentou que a captura, solicitada por um procurador e homologada por um juiz, foi realizada em Bogotá. Embora a entidade tenha se recusado a dar mais informações até que Ranoque seja processado, descobriu-se que o caso gira em torno de um suposto abuso sexual.

A aparição milagrosa das crianças trouxe à tona as denúncias contra Ranoque e o mau relacionamento que mantinha com os avós maternos das crianças. Corria o boato de que os pequenos estavam se escondendo das equipes de resgate porque temiam que o pai os espancasse por terem se perdido na selva. Ao saírem do Hospital Militar de Bogotá, o ICBF decidiu ficar com a guarda enquanto investigava as denúncias de maus-tratos contra Ranoque. O pai negou sua culpa e exigiu que o Estado lhe entregasse a custódia o mais rápido possível.

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Os avós maternos, Narciso Mucutuy e María Fátima Valencia, contaram que Ranoque batia na filha e maltratava os netos. Eles também apontaram o suposto abuso sexual de Lesly, de 13 anos e a mais velha dos quatro filhos. Os avós lutam há semanas pela custódia dos quatro filhos. Não só contra Ranoque, mas também contra Andrés, primeiro marido de Magdalena e pai de suas duas filhas mais velhas.

— Agora aparecem interessados. Desde que minha filha se divorciou dele, não ouvimos falar dele. Agora pode ser visto — disse a avó em julho do ano passado. — Eles me dão e eu levo para a Amazônia — garantiu sobre suas intenções.