Internacional
Irã escolhe novo presidente em meio a apatia da população com regime teocrático e disputa acirrada entre opostos
Após primeiro turno ser marcado pela participação mais baixa desde a Revolução Islâmica de 1979, eleitores decidem nesta sexta entre candidato ultraconservador e reformista

Após o primeiro turno das eleições presidenciais do Irã ter sido marcado pela participação mais baixa desde a Revolução Islâmica de 1979, com apenas 40% de comparecimento, os iranianos foram às urnas mais uma vez nesta sexta-feira para a segunda rodada do pleito, dividido entre o ultraconservador Saeed Jalili e o reformista Masoud Pezeshkian. Embora ambos estejam em lados opostos, analistas indicam que, pela primeira vez em mais de uma década, o resultado é difícil de prever. Para críticos, a baixa adesão eleitoral reflete a apatia da população com o regime iraniano – seja por alienação ou em resposta ao fracasso de administrações anteriores em produzir mudanças significativas.
Contexto: Um reformista e um ultraconservador lideram eleições presidenciais no Irã, apontam parciais
Marcelo Ninio: A rota chinesa do presidente do Irã
Os dois candidatos oferecem visões contrastantes das perspectivas para o país: de um lado, Jalili, um veterano de 85 anos que está há duas décadas próximo do aiatolá Ali Khamenei, prometeu enfrentar os inimigos do Irã, intensificar as restrições sociais e expandir relações com a Rússia e China. Do outro, o outsider Pezeshkian jurou fazer as pazes com o mundo, aliviar as regras sufocantes para jovens e mulheres – incluindo a abolição da polícia moral, que impõe a lei do hijab – e negociar com o Ocidente para remover as sanções. A corrida, que se transformou em uma competição acirrada, depende de quantos iranianos que não votaram na eleição geral decidiram participar no segundo turno.
— Esta eleição é sobre correntes concorrentes, não sobre candidatos concorrentes por si só — disse Sanam Vakil, diretora do Oriente Médio da organização Chatham House, ao New York Times. — As duas linhas políticas refletem, por um lado, a tentativa de preservar valores revolucionários, a ideologia islâmica e a noção de resistência dentro do Estado iraniano, e, por outro, uma alternativa que não é exatamente uma reforma, mas um clima social e político mais moderado e aberto.
No sistema teocrático de governança do Irã, o presidente não tem o poder de mudar políticas importantes que possam levar ao tipo de mudança estrutural que muitos iranianos gostariam de ver. Esse poder é responsabilidade apenas do líder supremo, o aiatolá Khamenei. Dois presidentes anteriores que foram eleitos com grandes margens prometeram transformações sociais, mas não conseguiram cumpri-las – o que gerou uma desilusão generalizada no país. Ainda assim, dizem analistas, o mandatário não é totalmente impotente. O chefe de Estado iraniano é responsável por definir a agenda doméstica, escolher os membros do gabinete e exercer alguma influência na política externa.
Khamenei votou na manhã desta sexta-feira no centro religioso anexado ao seu complexo. Sem indicar qual candidato tem seu apoio, ele se limitou a dizer que, “neste momento, as pessoas devem naturalmente estar mais resolutas e finalizar o trabalho”. Nesta quarta-feira, o aiatolá disse estar “desapontado” com a baixa participação no primeiro turno, e reconheceu que há um desencanto com o regime islâmico, ainda que tenha descartado a ideia de que isso representa uma rejeição ao sistema.
— Dissemos isso repetidamente — reforçou Khamenei. — A participação das pessoas é um apoio ao sistema da República Islâmica, é uma fonte de honra, é uma fonte de orgulho.
As seções eleitorais abriram hoje às 8h (1h30 em Brasília) e devem fechar às 22h (15h30), embora alguma extensão seja esperada. Muitos iranianos optam por votar à noite por causa do calor do verão. Com o segundo turno, esperava-se que a participação fosse ligeiramente maior devido à forte polarização, mas também porque muitas pessoas temem o potencial de uma administração extremamente linha-dura. O Ministério do Interior disse que representantes de ambos os candidatos estariam presentes nas seções eleitorais durante a votação e a contagem dos votos.
Candidatos opostos
Jalili faz parte de um partido político linha-dura marginal, mas influente, conhecido como Paydari, com seguidores que o veem mais como um líder ideológico do que como um político. Pezeshkian, cardiologista e ex-ministro da Saúde e membro do Parlamento, até recentemente não era amplamente conhecido fora dos círculos políticos e de saúde. Sua linha de conselheiros e equipe de campanha reflete as diferenças entre os dois e deu aos eleitores uma visão do que cada administração poderia parecer.
A equipe de Jalili inclui conservadores que prometem que sua presidência seria uma continuação das “políticas de resistência” do ex-presidente Ebrahim Raisi (1960-2024), cuja morte em um acidente de helicóptero em maio provocou uma eleição de emergência. Comandantes militares e clérigos o endossaram, elogiando seu zelo em assuntos religiosos e revolucionários. Pezeshkian, por sua vez, montou uma equipe de tecnocratas experientes, diplomatas e ministros, incluindo o ex-ministro das Relações Exteriores Mohammad Javad Zarif, que estão percorrendo o país em apoio a ele, principalmente alertando sobre o que chamam de “apocalipse” caso Jalili seja eleito.
— A eleição de sexta-feira, 5 de julho, é sobre o futuro — disse Zarif nesta terça. — Essas duas escolhas são tão diferentes quanto o dia e a noite.
Os reformistas estão contando com deserções mensuráveis do campo conservador, onde Jalili há muito é visto como uma figura divisiva. Muitos conservadores o consideram extremo demais, dizem os analistas, e temem que sua presidência possa aprofundar a ruptura entre o governo e o público e colocar o Irã em rota de colisão com o Ocidente. Pesquisas realizadas por agências governamentais nas últimas semanas pareciam indicar que um número considerável de eleitores que apoiaram o candidato conservador mais moderado, Mohammad Baqer Ghalibaf, o presidente do Parlamento, migrariam para Pezeshkian em um esforço para bloquear as chances de presidência de Jalili.
Os apoiadores de Jalili reagiram acusando os reformistas de insultos e espalhar o medo. Eles contra-atacaram caracterizando Pezeshkian como um fantoche do ex-presidente moderado, Hassan Rouhani (2013-2021). Eles disseram que o médico não tem um plano real e estava se excedendo em questões que estariam fora de sua autoridade como presidente – particularmente sua promessa de abolir a amplamente detestada polícia da moralidade e normalizar os laços com os Estados Unidos. Para analistas, o resultado da eleição ainda é difícil e prever. Alguns acreditam que Pezeshkian pode ter sido autorizado a concorrer como candidato reformista apenas simbolicamente, para aumentar a participação.
— Os dois candidatos estão empatados e não está claro qual nome sairá da urna — disse Nasser Imani, analista político em Teerã. — O que é certo é que nesta eleição, dizer 'Não' é a tendência. (Com New York Times)
Mais lidas
-
1FOLHA INCHADA
Câmara de Vereadores de Palmeira dos Índios escancara descontrole: contratados e comissionados superam em mais de cinco vezes os efetivos
-
2
Misa recebe exposição ‘Terra’ com fotografias de Sebastião Salgado
-
3ADEUS AO MESTRE CHICO POTIGUAR
Morre aos 84 anos o professor Francisco Vieira Barros, referência da Matemática e da educação em Palmeira dos Índios e Alagoas
-
4UCRÂNIA
'Zelensky chorará lágrimas de crocodilo': especialista dá detalhes da zona tampão russa na Ucrânia
-
5ACABOU A SINECURA
Folha paralela da Câmara de Vereadores de Palmeira dos Índios: MP firma TAC e dá prazo para exoneração em massa; veja a lista