Internacional

Orbán desembarca na Rússia dias após visitar a Ucrânia, e União Europeia critica: 'Não está representando o bloco'

Na presidência rotativa da UE, premier húngaro é o líder mais próximo de Putin no continente, tendo instado Kiev a considerar um cessar-fogo

Agência O Globo - 05/07/2024
Orbán desembarca na Rússia dias após visitar a Ucrânia, e União Europeia critica: 'Não está representando o bloco'

Poucos dias após visitar a Ucrânia, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, desembarcou na Rússia e encontrou-se com o presidente Vladimir Putin para tratar sobre a guerra, que se estende por mais de dois anos. O premier húngaro foi recebido pelo presidente russo no Kemlin. Putin disse, em conversações transmitidas pela televisão, esperar que o líder húngaro falasse em nome da Europa enquanto ocupa a Presidência rotativa da União Europeia (UE). O bloco advertiu que a viagem ameaça minar sua posição frente ao conflito.

— Entendo que desta vez você não veio somente como uma amigo de longa data, mas também como presidente da conselho — disse Putin a Orban, acrescentando que esperava que o aliado delineasse "a posição dos parceiros europeus" sobre a Ucrânia. Putin também afirmou que queria "discutir as nuances que se desenvolveram" sobre o conflito.

A visita é a primeira de um líder europeu a Moscou desde a visita do chanceler austríaco Karl Nehammer em abril de 2022. Orbán e Putin encontraram-se pela última vez em outubro de 2023, em Pequim, onde discutiram a cooperação energética.

Os líderes da União Europeia — que em sua maioria se opõe à ofensiva militar russa e impôs uma série de sanções contra Moscou — criticaram o premier húngaro pela visita ao líder russo, à medida que a notícia da viagem se espalhava.

"O apaziguamento não vai deter Putin", escreveu no X, antigo Twitter, a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acrescentando que "apenas a unidade e a determinação abrirão o caminho para uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia". O chefe do conselho do bloco, Charles Michel, reiterou a posição comum de que "nenhum debate sobre a Ucrânia pode ter lugar sem a Ucrânia".

Josep Borrell, chefe da política externa da UE, destacou em comunicado que a "visita de Orbán a Moscou se insere exclusivamente no quadro das relações bilaterais entre a Hungria e a Rússia", sublinhando que "o primeiro-ministro [Viktor] Orbán não recebeu qualquer mandato do Conselho da UE para visitar Moscou".

"Esta posição exclui os contatos oficiais entre a UE e o presidente Putin. O primeiro-ministro húngaro não está representando a UE de forma alguma", afirmou Borrell, recordando a emissão de ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) contra Putin por crimes de guerra cometidos na Ucrânia em relação à "deportação ilegal" de crianças ucranianas.

Por estar na presidência semestral da União Europeia, a Hungria detém o controle sobre a agenda e as prioridades do bloco durante esse período. Na terça-feira, Orbán viajou para Kiev e se encontrou com o presidente Volodymyr Zelensky, em sua primeira visita ao país desde a invasão russa, em fevereiro de 2022. O premier é a principal voz de oposição às políticas de apoio financeiro adotadas pelo bloco para sustentar Kiev na conflito.

Na visita, o premier húngaro defendeu que o governo ucraniano deveria considerar a possibilidade de um cessar-fogo "o mais rápido possível", o que na sua visão poderia "acelerar as negociações de paz". A Ucrânia, porém, não comentou o pedido.

O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, mostrou-se incrédulo com a viagem de Orbán a Moscou, enquanto o primeiro-ministro finlandês, Petteri Orpo, considerou-a "uma notícia perturbadora".