Internacional
'Guerra total' há 70 anos: militarizada, maior deportação em massa dos EUA é 'modelo' para Trump
Discurso do candidato republicano à Casa Branca emula o de ex-presidente que promoveu Operação Wetback

Caso seja eleito novamente para ocupar a Casa Branca, Donald Trump promete colocar em prática "a maior operação de deportação da História dos Estados Unidos". O republicano mencionou a proposta pela primeira vez num comício em Iowa, em setembro passado, e projetou numa entrevista à revista Time que mobilizaria o Exército para expulsar migrantes indocumentados do país.
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Trump também garantiu, na ocasião, que "não descartaria nada" em relação à criação de campos de detenção de migrantes, mas acredita que não serão necessários, já que seu programa de deportação terá êxito.
— A Guarda Nacional deveria poder fazer isso. Se não puderem, eu usaria o Exército — declarou à revista. — Eles não são civis. São pessoas que não estão legalmente em nosso país. Isso é uma invasão — enfatizou, após um entrevistador lembrar que as leis locais impedem o uso das Forças Armadas contra a população civil em solo americano.
O discurso do candidato republicano à Presidência o do ex-presidente Dwight Eisenhower, responsável pela efetivação da Operação Wetback, há 70 anos. Na ocasião, quase 1,3 milhão de migrantes indocumentados, principalmente mexicanos, foram expulsos do país, no que se tornou a maior ação de deportação em massa de Washington até hoje. Para Trump, seria um modelo do que fazer num eventual novo mandato, como ele próprio já insinuou:
— Vamos fechar a fronteira porque neste momento estamos enfrentando uma invasão. Temos milhões e milhões de pessoas entrando no nosso país (...) E será necessário realizar deportações em um nível que não vemos há muito tempo, desde Dwight Eisenhower — disse, em comício.
De acordo com a BBC, críticos apontaram que cidadãos americanos de ascendência mexicana foram afetados pelo programa, e famílias foram separadas.
"Esta nova política marcou o início dos ataques modernos de deportação e da militarização da fronteira que conhecemos hoje", analisou a historiadora Delia Fernández em artigo da Ohio State University.
Como foi a Operação Wetback
A operação foi anunciada em maio de 1954 e previa uma varredura por várias regiões dos Estados Unidos para que fossem localizados migrantes indocumentados. Em tradução literal, o nome da ação se refere a "costas molhadas", como num insulto racista a estrangeiros que chegavam aos Estados Unidos após atravessarem o Rio Bravo.
O Chefe da Patrulha da Fronteira, Harlon B. Carter, disse que a ação representaria uma "guerra total" com o objetivo de expulsar esses estrangeiros e o uso de jipes e até aviões de vigilância. A operação foi colocada em prática no mês seguinte, por cerca de 800 agentes dispostos inicialmente em controles de estrada da Califórnia e do Arizona.
Ainda segundo a BBC, os agentes também bateram à porta de fazendas, fábricas industriais, restaurantes, residências e locais públicos para encontrar migrantes indocumentados. A ação então se estendeu para o Texas, o Illinois e o delta do Mississippi. Os mexicanos detidos eram levados até a fronteira e entregues às autoridades do México.
Historiadores destacam também que a "guerra total" gerou uma onda de autodeportações. Vários migrantes, aterrorizados com a perspectiva de serem detidos e expulsos sem seus parentes, decidiram partir por conta própria. No livro "Máquina de Deportação", o autor Adam Goodman conta como tal "campanha de terror" era parte do objetivo do governo dos Estados Unidos para atingir o objetivo da expulsão sem ter que custeá-la.
Especialistas ouvidos pela BBC ponderam que a Operação Wetback sofreu resistência de empregadores do Sul do Texas. Na Segunda Guerra Mundial, o governo federal criou o Programa Bracero para suprir o gargalo da mão-de-obra no país com estrangeiros, mas sob regras de condições de trabalho, de gênero (apenas homens poderiam ficar nos EUA para trabalhar, para que tivessem motivos familiares a retornar) e de limitação de tempo para a autorização de permanência.
Com a deportação em massa, fazendeiros que "preferiam" contratar indocumentados passaram a contratar agentes privados para evitar detenções. Os empregadores receberam incentivos ou foram forçados (sob ameaça de instalação de postos de controle perto de suas propriedades) a aderir ao Bracero.
Especialistas questionam os dados da Operação Wetback, mas apontam ter sido ela uma ação de publicidade para a Patrulha da Fronteira.
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