Internacional
Ballroom: festas queer na Nigéria oferecem libertação e lugar seguro à comunidade
Para celebrar o mês do Orgulho LGBTQ+, baile queer é organizado em segredo, já que o país não abraça as questões da comunidade
O local do baile comemorativo teve que ser mantido em segredo. Lá, acontece um evento queer e, na Nigéria, onde relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo ou demonstrações públicas de afeto são ilegais, qualquer pessoa que se dedique a abraçar essa cultura está em perigo. Assim, comemorar o mês do Orgulho LGBTQ+ de alguma forma é um ato desafiador.
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Os organizadores do Fola Francis Ball, em homenagem a uma mulher transgênero que morreu no ano passado, só divulgaram os detalhes do local faltando poucas horas para o início do evento. Mas isso não intimidou as mais de 500 pessoas que compareceram em um bairro próximo à próspera área à beira-mar do coração comercial da Nigéria, Lagos.
— Muitos dos meus amigos estariam aqui esta noite, mas por causa do medo [de serem presos], optaram por não vir e isso me deixa triste. A cultura queer é a nossa maneira de celebrar quem somos — disse à BBC um homem gay que estava no local, citando casos anteriores em que a polícia prendeu pessoas em uma festa só para homens
Ao redor do local fechado havia peças de carros abandonadas e armazéns conhecidos por festas raves. Uma batida de graves pulsantes podia ser ouvida perto da porta: lá dentro estava a comunidade queer de Lagos, no espaço que é como uma capa que os protege do mundo lá fora.
Uma mulher com a cabeça raspada e maquiagem cintilante desfilou confiante ao lado de um homem com um vestido preto esvoaçante. Ali dentro eles poderiam ser quem quisessem: podiam usar perucas, usar seus rostos como uma tela para glitter, tons ousados e vestidos que parecem embalados a vácuo.
A dupla criativa por trás do baile, Ayo Lawson e Uyaiedu Ikpe-Etim, se inspirou em um evento semelhante de que participaram:
— Achávamos que éramos muito gays e muito extrovertidos, mas ir a um baile realmente mudou nossa perspectiva do que é ser gay e do que é realmente a alegria gay — disse Lawson à BBC.
A primeira edição do evento, no ano passado, foi realizada para comemorar o filme “14 Anos e Um Dia", com temática queer, mas este ano eles quiseram homenagear Fola Francis, uma modelo transgênero nigeriana que, em 2022, se tornou a primeira modelo trans a desfilar na Semana de Moda de Lagos.
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Até morrer afogada perto de uma praia de Lagos no final do ano passado, ela era o centro da crescente cena underground do ballroom, ou “Ball Culture", termo que representa as festas que celebram a resistência da comunidade LGBTQ+. Para muitos, o baile de Fola Francis foi uma oportunidade de prestar suas homenagens.
— Quando comecei a sair, ela sempre me dizia: 'Você está tão bonita', e isso me deu confiança para ser eu mesma — disse à BBC uma das foliãs.
Para os organizadores, o objetivo de um baile na Nigéria é claro: ser um espaço de auto-expressão e celebrar a beleza da diversidade, mesmo diante do medo. E esse medo nunca está longe: a Lei de Proibição do Casamento entre Pessoas do Mesmo Sexo, de 2014, os criminaliza.
No entanto, os organizadores fizeram tudo o que puderam para criar um ambiente seguro. Algumas das medidas incluíam disponibilizar roupas para aqueles que quisessem se vestir como seus eus mais autênticos e evitar a violência no caminho até o evento.
Houve algumas críticas de que os organizadores estavam permitindo que pessoas cisgênero e heterossexuais entrassem em um espaço queer, mas eles insistiram que queriam que aliados, famílias e amigos participassem.
— Queremos promover a narrativa de que as pessoas queer existem. Mudar a narrativa de como as pessoas queer são vistas na Nigéria — disse Ikpe-Etim à BBC.
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