Quando Jason Weaver chegou na escola, em Chicago, usando um moletom do “O Rei Leão”, em 1993, os amigos riram dele. O casaco era um presente da Disney, dado quando Weaver gravou a voz do jovem Simba, mas o filme de animação de grande sucesso ainda não havia sido lançado.

— Eles falavam ‘O que diabos é ‘O Rei Leão’? — relembra Weaver, aos 44 anos. — Eles não acreditavam de forma alguma que eu tinha feito um filme da Disney. Não um garoto daquele lugar.

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Até então, Weaver havia feito trabalhos de publicidade em Chicago, tinha acabado de conseguir um pequeno papel no drama “The long walk home” e interpretado o jovem Michael Jackson na minissérie “The Jacksons: An American Dream”, da ABC. Mas, para as crianças, um filme da Disney estava em outro nível.

Um ano antes, numa sessão de uma hora e meia, Weaver tinha acabado de completar 13 anos, e gravou os vocais principais de “I just can't wait to be king”, o hino cantado pelo leão filhote Simba enquanto fantasia sobre as terras que vai herdar de seu pai, Mufasa.

Pouca fama, muitos royalties

Estreando em junho de 1994, “O Rei Leão” se tornaria o filme de animação de maior bilheteria de todos os tempos. Sua trilha sonora vendeu mais de 7 milhões de cópias, e “I just can’t wait to be king” foi certificado com dupla platina.

De acordo com Weaver, sua mãe, Marilyn “Kitty” Haywood – uma ex-cantora de jingles e artista que trabalhou com Aretha Franklin e Curtis Mayfield – recusou a oferta inicial da Disney e negociou um pagamento de US$ 100 mil mais royalties lucrativos para seu filho.

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Ainda assim, mesmo depois do sucesso de “O Rei Leão”, poucos perceberam que Weaver estava envolvido. Jonathan Taylor Thomas, o superastro adolescente de cabelos desgrenhados conhecido por “Home Improvement” e filmes para a família, fez a voz do jovem Simba e teve grande destaque na promoção do filme, então muitos presumiram que Thomas também cantava. Outra curiosidade: a Disney também dividiu o papel adulto de Simba: Matthew Broderick dublou as falas, enquanto o vocalista do Toto, Joseph Williams, cantou as músicas.

Weaver seguiu uma carreira sólida na TV, com trabalhos em séries como “Smart Guy”. Mas apenas nos últimos anos, diz, começou a receber mais reconhecimento por seu papel em “O Rei Leão”. A Disney também mantém o burburinho em torno do filme: em maio, organizou um concerto de aniversário, com Weaver e alguns dos outros dubladores originais, que será transmitido no Disney +. Também anunciou um relançamento do filme original nos cinemas americanos para julho, e um prelúdio da história, “Mufasa: O Rei Leão”, que estreia em dezembro.

Os olhos de Weaver brilham por trás dos óculos de aros grossos enquanto ele fala de Chicago, onde está filmando o drama da Showtime “The Chi”. Já adulto, diz, ele passou a apreciar seu papel no clássico da Disney. Estes são trechos editados de nossa conversa.

Como surgiu a oportunidade de ser a voz do jovem Simba?

Eu estava filmando a minissérie “The Jacksons” e, ao longo da produção, grandes artistas sempre passavam pelo set porque eram amigos dos Jacksons ou apenas por curiosidade. Num dia em particular, eu estava cantando “Who’s lovin’ you” e Elton John (que compôs canções de "O Rei Leão” com Tim Rice) passou por lá. Ele me viu ao vivo e procurou a minha mãe. Eles queriam que a voz do Simba tivesse uma vibração jovem de Michael Jackson, e eu consegui fazer um teste um dia depois de terminarmos “The Jacksons”.

Como foi o processo de gravação?

Era simplesmente para ser um teste. Fui só para saber se se eles me considerariam para o papel. Mas (os diretores) Rob Minkoff e Roger Allers estavam lá, e o produtor Don Hahn. Quando entrei no estúdio de gravação de Burbank, eles tinham storyboards com arte básica esboçada a lápis mostrando a aparência de Simba. E disseram: “Quando você entrar na cabine, teremos câmeras instaladas para capturar suas ações, porque se gostarmos do que você está fazendo, podemos colocar isso na animação do personagem”.

Quando a música começou, eu me senti muito confortável. A energia na sala era boa. Cantei “I just can't wait to be king” umas duas vezes e Roger disse: “Bem, você conseguiu o emprego”. Tive que terminar toda a gravação naquele dia porque precisava voltar para Chicago. Então eu também cantei parte de “Hakuna Matata” e depois fiz outra música que nunca entrou no filme chamada “Warthog Rhapsody”.

Depois que terminamos as gravações, Roger me perguntou: “Ei, você quer fazer um teste para a voz falada?”

Eles não haviam escalado Jonathan Taylor Thomas até então?

Estavam esperando para saber se o negócio seria fechado com ele. então, depois de ler algumas linhas, voltaram cinco ou 10 minutos depois e disseram que tinham acabado de fechar negócio com ele.

O áudio daquela audição foi o que acabou no filme?

Sim, a sessão que me deu o trabalho é a sessão que foi usada. Para nosso crédito, eu e minha mãe realmente nos preparamos para isso. Trabalhamos muito em “I just can’t wait to be king” vocalmente para ter certeza de que, quando eu entrasse em estúdio, seria capaz de executá-la completamente.

Você foi a estreia de “O Rei Leão”?

Não, naquela época era diferente. A Disney se concentrou nas grandes estrelas com as vozes. Portanto, a atenção estava centrada em Jonathan Taylor Thomas, Matthew Broderick, Jeremy Irons, James Earl Jones, Whoopi Goldberg — e com razão. Eram grandes estrelas e era isso que eles queriam para promover o filme.

“O Rei Leão” abriu portas após o lançamento?

Não. Não era algo que eu destacava quando tentava novos papeis ou outras oportunidades. Minha questão era que se a Disney não estivava se esforçando para que as pessoas soubessem, eu não queria que parecesse que estava forçando uma ligação.

North West, filha de Kim Kardashian e Kanye West, cantou recentemente “I just can’t wait to be king” no Hollywood Bowl. O que você achou da atuação dela?

Se apresentar para 18 mil pessoas pela primeira vez aos 10 anos? Acho que ela fez um trabalho fantástico. Independentemente de qualquer crítica, sempre que uma criança tem a oportunidade de brilhar, nós, como adultos, devemos sempre apoiá-la. Esse foi o seu momento, quer a mãe ou o pai a tenham ajudado a consegui-lo, e ela ocupou o espaço com coragem.

Você foi convidado para cantar?

Não. Não consigo mais fazer isso vocalmente. Ainda tenho uma voz aguda, mas “I just can't wait to be king” foi um desafio, mesmo quando eu era criança. Acho que eles também queriam dar uma oportunidade para outro jovem artista entrar no legado do “Rei Leão”.

Como é a sua vida hoje?

Moro em Atlanta há 24 anos. Foi onde criei meu filho. Gravei “The Chi”, em Chicago. Também sou um chef com formação clássica. Me formei na escola de culinária em 2009 e até hoje cozinhar é muito terapêutico para mim. Sempre que sinto que estou em um ponto baixo em minha carreira, entro na cozinha e preparo uma refeição para meus amigos e familiares. É como se eu estivesse oferecendo a eles um filme ou uma música que criei. É o mesmo tipo de sentimento.

Os royalties que sua mãe negociou para “O Rei Leão” renderam mais do que a oferta original ao longo dos anos?

Ah, com certeza. Recebo cheques desse filme várias vezes por ano, dependendo do nível de envolvimento que acontece no mercado ou do que a Disney está fazendo com “O Rei Leão”. Mesmo quando eles fazem shows no gelo ou a música toca em hotéis, tudo isso soma.

Você notou uma mudança nas pessoas que reconhecem seu trabalho no “Rei Leão”? O TikTok está cheio de fãs aprendendo com entusiasmo sobre o seu papel.

Recentemente. Isso é gratificante, me deixa muito orgulhoso. Mas nunca foi essa a intenção. Não me importo se você está prestando atenção em mim, desde que o trabalho seja bom.