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Espaço em que poderá ser construído futuro estádio do Flamengo quase foi explodido durante Ditadura Militar

O Viaduto do Gasômetro, terreno desapropriado nesta segunda-feira para a construção da arena rubro-negra, foi um dos alvos de um plano secreto do governo com uma série de atentados com explosões

Agência O Globo - 24/06/2024
Espaço em que poderá ser construído futuro estádio do Flamengo quase foi explodido durante Ditadura Militar

Com a desapropriação do viaduto do gasômetro nesta segunda-feira (12), o Flamengo realizou mais um passo para o sonhado estádio. O plano rubro-negro ganhou força em ano eleitoral, devido ao impacto que, uma ação histórica como essa, possa vir a fazer com o prestígio de políticos. O espaço estava inativo desde 2005, mas foi muito importante para a economia fluminense. Além disso, durante a Ditadura Militar, quase se tornou parte de uma das maiores tragédias da história brasileira por ser um dos alvos de um plano de atentados com explosivos, arquitetado pelo Brigadeiro João Paulo Burnier, e impedido pelo seu subordinado, o então capitão, Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho.

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Caso Para-sar

O “Caso Para-Sar", como ficou conhecido, ocorreu há 56 anos e tinha como objetivo realizar grandes atentados no estado. Foram escolhidos locais que tivessem grande movimentação de civis, como lojas de roupas e bancos; relacionados à política, como a embaixada americana, e à infraestrutura, casos da represa de Ribeirão das Lajes, que fornecia parte da energia elétrica para a capital fluminense, e do Gasômetro do Rio, que era o principal fornecedor de gás.

Milhares de pessoas seriam vitimadas com os atentados, e se chegou a estimar até 100 mil mortes somente num possível atentado ao Gasômetro na hora do rush. O governo militar culparia os movimentos de esquerda com a intenção de gerar grande comoção pública. A partir daí, poderia endurecer o regime e combater opositores com o aval da sociedade civil. Na ocasiãi, Burnier ordenou que Sérgio Carvalho, também conhecido como Sérgio Macaco, coordenasse a sua unidade de elite Para-Sar — junção de “Para” (abreviatura de Paraquedista) e “Sar”, a sigla em inglês para Search and Rescue (busca e salvamento) — para realizar o plano.

Além de não acatar as ordens de seu superior, Macaco o denunciou e a história do caso foi repercutida na imprensa, impactando negativamente os militares. Como punição por insubordinação, o capitão passou 25 dias preso e durante o Ato Institucional nº 5, foi compulsoriamente reformado.

Macaco ainda sofreu outros processos da Força Aérea Brasileira, do Serviço Nacional de Informação, do Ministério da Justiça e do Superior Tribunal Militar, e do próprio Burnier, mas venceu todos. Anos depois, foi readmitido nas Forças Armadas em processo pelo Superior Tribunal Federal (STF) e promovido a Brigadeiro em 1992.

Já Burnier seguiu negando sua responsabilidade no caso e, mesmo com toda a tropa de 37 cabos e sargentos do Para-Sar como testemunhas, não mudou o discurso até o dia de sua morte, em 2000, aos 80 anos.