Economia

Conheça sete golpes que já foram divulgados por influenciadores digitais e veja como evitar ciladas

Famosos podem ser enganados por empresas que contratam 'publis'. Mas se houver indícios do conhecimento, há responsabilidade jurídica

Agência O Globo - 16/06/2024
Conheça sete golpes que já foram divulgados por influenciadores digitais e veja como evitar ciladas

As redes sociais de influenciadores digitais estão cheias de recomendações diárias de produtos e serviços nas chamadas “publis”. Os milhares de seguidores e páginas verificadas podem passar o sentimento de credibilidade para o que foi divulgado. No entanto, nem sempre isso corresponde à realidade. Empresas fraudulentas também conseguem contratar algumas dessas celebridades da internet para elas anunciarem produtos que nunca serão entregues ou são falsificados e até supostos aplicativos para obter uma renda extra.

— A maioria desses golpes promete ganhos rápidos e fáceis (à audiência), bastando curtir fotos, se cadastrar em determinada plataforma ou digitar valores, sendo tarefas banais. Outra característica que pode ser observada é que eles sempre pedirão que o interessado aporte um valor, seja para liberar o suposto saque, para comprar moedas e pontos, para 'liberar o app' ou para participar da 'plataforma' — afirma Fabio Assolini, diretor da Equipe Global de Pesquisa e Análise da empresa de cibersegurança Kaspersky.

O influenciador pode ser uma vítima da contratante, sem saber que se trata de fraude, como seu seguidor. Mas os especialistas indicam mais cuidado ao referendar uma empresa.

Por outro lado, famosos também já foram acusados de utilizarem vídeos de resultados mentirosos, como se fossem seus, para convencer os seguidores. Esses podem ser indícios da má-fé.

— Se o influenciador edita um vídeo na produção de conteúdo para fingir que está ganhando dinheiro com determinada ação, mas nunca obteve essa renda, podemos, no mínimo, falar em dolo eventual, que é quando ele assume o risco da produção do resultado — explica o professor de Direito Penal da Universidade Federal Fluminense (UFF) Rodrigo Costa.

Valores nuca pagos

Um dos golpes mais comuns na internet, divulgado por influenciadores digitais, é uma plataforma que promete apresentar ao consumidor cupons fiscais que valem dinheiro. Para liberar o saque, o cidadão precisa pagar apenas R$ 49 à empresa que concede os códigos dos cupons. Alguns influenciadores já gravaram vídeos exibindo ganhos dessa forma. No entanto, em sites como o Reclame Aqui, há diversas queixas de que os valores nunca são pagos aos consumidores reais.

— No geral, o dano à vítima é perda financeira direta. Outros danos indiretos de golpes envolvem clonagem do cartão de crédito e abuso dos dados pessoais fornecidos pela vítima — explica Assolini.

Casos se torne vítima, a pessoa deve formalizar queixa junto à polícia, guardando as provas da fraude.

Falsas recompensas de lojas

Levantamento da Kapersky já identificou a propagação por influenciadores digitais de recompensas dadas por avaliações de “looks” da Shein. Trata-se de um golpe aplicado por empresas fraudulentas, que passaram a comprar anúncios no Google e espaço nas redes sociais das celebridades, em busca de credibilidade. O “golpe das avaliações na Shein” exige que a pessoa compre o acesso a um aplicativo para usufruir das recompensas. Mas o dinheiro gasto, na verde, nunca retorna.

Como acontece com os golpes em geral, as dinâmicas têm pequenas modificações de tempos em tempos, para dificultar a sua identificação. Por isso, não basta estar atento ao nome do falso aplicativo da vez. A Shein recomenda “que nenhuma pessoa realize cadastros nestes sites ou aplicativos, a fim de evitar o uso indevido de seus nomes, informações pessoais e dados bancários”.

Em outro golpe visto nas redes de influenciadores digitais, é divulgada uma suposta “função secreta” da Shopee, que, sendo desbloqueada por outra ferramenta paga, distribuiria dinheiro no aplicativo. Mas a empresa esclarece que não existe essa função: “Qualquer comunicação com promessas desse tipo devem ser denunciadas”.

Golpe de produto falsificado

Golpistas geralmente se valem de assuntos em alta para chamar a atenção das vítimas. Por isso, desde que os copos térmicos da Stanley viraram tendência, sites fraudulentos usam o nome da empresa para dar golpes. E, algumas vezes, conseguem contratar publicidades de influenciadores para divulgarem suas falsas dinâmicas.

A Stanley já identificou fraudes em que pesquisas falsas requerem cadastro ou pagamento com a promessa de brindes e ainda a venda de produtos falsificados, entre outras dinâmicas.

A marca, porém, alerta que o único site oficial no Brasil é www.stanley1913.com.br e que não realiza pesquisas através de páginas em redes sociais. Mesmo as pesquisas oficiais, realizadas apenas por e-mail, não necessitam de cadastro ou pagamento, nem entregam brindes ou produtos como recompensa.

A empresa ainda acrescenta que não recebe pagamentos através de pessoas físicas. Todos os pedidos realizados no seu site são processados pela Vindi, que dá segurança nas transações financeiras, e são efetuados em nome da Yapay Pagamentos. Assim, qualquer pagamento pedido que tenha divergência em relação a esses dados não deve ser feito.

Benefícios sociais como isca

Usar medidas políticas e benefícios sociais também são iscas eficientes para tirar vantagem das pessoas, principalmente daquelas em situações de desespero financeiro.

Em alguns casos, a narrativa pode ser completamente mentirosa, como o anúncio falso de que o governo liberou o saque geral do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) — o que não ocorreu. Em outros casos, o benefício pode até existir, como o salário-maternidade, mas o acesso a ele ser gratuito. Em ambas as situações, influenciadores divulgaram, este ano, que empresas agilizam e tornam mais fácil a retirada das quantias, mediante o pagamento de uma pequena taxa.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, para acessar o Fundo de Garantia, os canais seguros são o aplicativo FGTS ou os sistemas de atendimento da Caixa Econômica Federal, que é o agente operador do fundo.

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) também reforça que não utiliza intermediários para concessão de salário-maternidade e quaisquer outros serviços, que são gratuitos e devem ser acessados por aplicativo, no site Meu INSS ou pela central 135.

Quando uma rifa virtual é ilegal?

Em abril deste ano, a Polícia Civil do Rio realizou uma operação contra rifas na internet, que movimentaram ilegalmente pelo menos R$ 15 milhões. Foram cumpridos mandados de busca de bens, como celulares de influenciadores digitais. Com milhões de seguidores, neste caso, eles não são investigados apenas pela publicidade de rifas, mas sim pela organização e venda delas, prometendo prêmios em dinheiro, celulares, carros de luxo e até apartamento para possíveis ganhadores — nunca contemplados.

O delegado responsável pelo caso, Luiz Henrique Pereira, da Delegacia do Consumidor (Decon), aguarda a chegada do exame pericial, com recuperação de dados dos telefones celulares apreendidos, para concluir a investigação.

— Rifa sem registro é contravenção, então a sanção é penal — explica Carlos Affonso Souza, professor de Direito da Universidade do Estado do Rio.

O registro de uma rifa, ele explica, deve ser feito no Ministério da Fazenda, e pode ser conferido por qualquer cidadão. Mas o que é necessário para obtê-lo?

— As rifas legais são realizadas com a finalidade beneficente visando a ajudar alguma instituição filantrópica. Se não tiver instituição filantrópica beneficiada, é ilegal — explica o delegado Pereira.

Para evitar cair no golpe da rifa, o cidadão deve observar se há um número de cadastro — ou pedi-lo — e indicar no site https://scpc.seae.fazenda.gov.br/scpc/login.jsf. O site também permite a consulta da promoção por nome.

Civilmente, segundo Affonso Souza, a parte prejudicada numa rifa ilegal não costuma conseguir reaver, em processo movido, o dinheiro gasto. Tribunais já decidiram que como a rifa é uma contravenção, não há direito. A Polícia, que atua na esfera criminal, porém, pede para as vítimas denunciarem os casos na delegacia.

Dicas de cuidados na internet

Confira links - A Kaspersky orienta a prestar atenção nas páginas abertas quando se clica em um anúncio pelas redes sociais. Antes de colocar qualquer dado ou fazer algum pagamento, observe o link. Veja a URL e como é a estrutura desse site. Ele tem textos com erros ortográficos ou página única, sem outras seções? Esses são alguns indícios de um golpe.

Atenção ao meio de compra - Se o anunciante solicitar uma transação por redes sociais ou WhatsApp, também é sinal de risco. A Stanley recomenda evitar comprar através dessas plataformas que não garantem a segurança da transação.

Olhe a reputação - Nem sempre o golpe objetiva um ganho financeiro imediato. Obter dados pode ser uma estratégia para, mais tarde, conseguir dinheiro de forma fraudulanta. Por isso, a Kaspersky lembra: antes de fornecer alguma informação sigilosa, busque pelo site no Google, no Reclame Aqui ou, no caso de aplicativos, leia a área de comentários antes de fazer o download. Se for um golpe, provavelmente terá reclamações de outras vítimas relatadas ali.

Invista na segurança - Soluções tecnológicas de segurança são boas aliadas para avisar sobre os possíveis sites maliciosos e ataques de “phishing” (roubo de dados). O plano básico da Kaspersky custa, no primeiro ano, R$ 39,90.

Fui vítima, e agora? - Caso a vítima tenha efetuado um pagamento para golpista usando cartão de crédito e identifique o golpe em seguida, é possível pedir o cancelamento da transação ao banco ou à operação do cartão. Caso tenha feito via Pix, o banco deve ser comunicado através do Mecanismo Especial de Devolução (MEC). Em nenhum dos casos, porém, a devolução é garantida. Mas, se o pagamento foi via boleto, não há como pedir a devolução.