Política

Indiciamento aumenta pressão em Juscelino, mas entorno de Lula não vê clima para demissão no momento

Ministro foi indicado pela bancada do União Brasil na Câmara e conta com apoio do partido, que divulgou nota em sua defesa após o indiciamento pela PF

Agência O Globo - 12/06/2024
Indiciamento aumenta pressão em Juscelino, mas entorno de Lula não vê clima para demissão no momento
Indiciamento aumenta pressão em Juscelino, mas entorno de Lula não vê clima para demissão no momento - Foto: Reprodução/internet

O indiciamento do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União-MA), por suspeitas de desvios de emendas parlamentares aumentou a pressão de alas do PT pela sua saída do governo. A avaliação no entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, é que sua demissão neste momento é improvável, uma vez que o petista não vive uma boa relação com o Congresso e a exoneração poderia resultar em mais desgaste com a sigla aliada.

Auxiliares do presidente consideram, portanto, que Lula mexeria num vespeiro ainda maior caso decida demitir Juscelino. O ministro foi indicado pela bancada do União Brasil na Câmara e conta com apoio do partido, que divulgou nota em sua defesa após o indiciamento pela Polícia Federal.

Lula tem acumulado derrotas em série entre parlamentares. Além de ter perdido vetos em seção do Congresso, há duas semanas, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) devolveu ontem ao Executivo uma Medida Provisória que limita crédito de PIS/Cofins para empresas após reação negativa entre parlamentares e empresários. Foi a primeira vez no atual mandato do presidente Lula que o Legislativo rejeitou uma medida provisória.

Outra avaliação feita por esses aliados do presidente é que, ao demitir Juscelino Filho motivado pelo indiciamento da PF, Lula poderia abrir um precedente que teria que ser aplicado a qualquer outro ministro que fosse implicado em investigações. O indiciamento pela PF, apontam interlocutores, é apenas uma etapa, e não representa uma declaração de culpa.

Lula cumpre agenda no Rio de Janeiro nesta quarta-feira e à tarde embarca para Suíça e depois irá para Itália. O presidente retorna à Brasília apenas no domingo. Auxiliares avaliam que o petista só deve conversar com o ministro após retornar da viagem.

Já entre integrantes do PT, a situação de Juscelino Filho no governo é vista como fragilizada e delicada após os apontamentos feitos pela Polícia Federal. Uma ala do partido já pressionava pela sua troca sob o argumento que, apesar de possuir três ministérios, entrega menos votos do que deveria aos projetos do governo.

Outra avaliação do grupo é de que o indiciamento de um ministro é algo constrangedor para o governo, mesmo se tratando de fatos que ocorreram antes de Filho assumir o ministério, quando ainda era deputado.

A PF indiciou Juscelino Filho por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva em um inquérito que investiga suspeitas de desvio de emendas parlamentares para pavimentação de ruas de Vitorino Freire, no interior do Maranhão. A cidade é comandada por sua irmã, Luanna Rezende, que chegou a ser afastada do cargo no ano passado, mas retomou o mandato após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). É a primeira vez que um integrante do primeiro escalão do atual mandato de Lula é indiciado.

Juscelino Filho disse nesta quarta-feira que o relatório final do inquérito é uma “ação política e previsível”. “A investigação, que deveria ser um instrumento para descobrir a verdade, parece ter se desviado de seu propósito original. Em vez disso, concentrou-se em criar uma narrativa de culpabilidade perante a opinião pública, com vazamentos seletivos, sem considerar os fatos objetivos. O indiciamento é uma ação política e previsível, que parte de uma apuração que distorceu premissas, ignorou fatos e sequer ouviu a defesa sobre o escopo do inquérito”, afirmou, em nota.