Internacional
Jordan Bardella, o 'ciborgue' e 'genro ideal' que pode levar a extrema direita ao poder na França
Depois da contundente vitória nas eleições europeias e da convocação de eleições legislativas, Bardella foi escolhido para chefiar o governo caso o partido de Le Pen vença na Assembleia Nacional
Jordan Bardella, 28 anos, vencedor das eleições europeias de domingo na França e aspirante a se tornar primeiro-ministro após as eleições legislativas convocadas para julho, foi chamado de "ciborgue" pela sua disciplina e método. Uma máquina para conquistar o poder. Ele também é conhecido como "o genro ideal", aquele líder de extrema direita que não parece de extrema direita. Ele não é fraco, nem pronuncia uma palavra mais pesadamente que outra, nem diz nada que possa facilmente servir aos seus adversários para chamá-lo de antidemocrático, xenófobo e ainda menos racista.
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O título de um livro de investigação jornalística recém-publicado sobre ele, "Le grand remplaçant", ou "O grande substituto", diz algo mais sobre Bardella. Substituto de sua mentora Marine Le Pen, líder do Reunião Nacional (RN) e filha do veterano líder ultraconservador Jean-Marie Le Pen, caso um dia ela fracasse. Ou se ele — mais gentil, menos polarizador, sem aquele sobrenome que pesa sobre ela — acabar por substituí-la.
Substituto, também, porque endossa um dos preceitos da extrema direita contemporânea: o da "grande substituição", que sustenta que os imigrantes muçulmanos e africanos ameaçam substituir a população nativa europeia.
"Eu não uso esse termo, porque é um conceito muito intelectual", disse Bardella ao jornal El País há alguns anos. E esclareceu que ele, ao contrário de alguns dos propagadores dessa teoria, não acreditava que o que ela supostamente descreve fosse uma conspiração. Mas acrescentou: "indica uma realidade: onde cresci há franceses que já não reconhecem o país onde cresceram, incluindo franceses de origem imigrante."
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Não há político de sucesso sem uma história mais ou menos embelezada que permita contar aos eleitores uma narrativa que sirva para transmitir certas ideias. A história de Jordan Bardella começa na periferia multicultural e trabalhadora de Paris, em Seine-Saint-Denis, a província mais pobre da França, a que tem mais imigrantes e a mais jovem.
Seus pais, de origem italiana, são divorciados. Ele morava com sua mãe em blocos de apartamentos onde o tráfico de drogas prospera e o islamismo impera. Eles tinham dificuldades para chegar ao fim do mês. Eis um político — da direita nacionalista, partidário da lei e da ordem e das leis mais restritivas sobre imigração — que pode dizer, e diz: "Eu sei do que estou falando".
Hoje, Bardella reside longe de Seine-Saint-Denis, no oeste abastado de Paris. E hoje se sabe — conforme relatado recentemente pelo Le Monde — que sua infância foi um vaivém entre duas classes sociais: a da mãe e a do pai, que vivia nessa parte mais rica da região parisiense, e que o levava em viagens a Miami ou, ao completar 18 anos, lhe presenteou com um carro.
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Mas o mito fundador permanece. Agora talvez mais do que nunca. Após a vitória retumbante da lista que ele liderava nas eleições europeias e depois de o presidente Emmanuel Macron ter convocado eleições legislativas antecipadas em duas rodadas, nos dias 30 de junho e 7 de julho, Bardella é o escolhido para ocupar a chefia do governo caso o RN prevaleça na Assembleia Nacional.
Bardella, primeiro-ministro? Seria a culminação de uma carreira fulgurante. A do garoto que abandonou os estudos universitários para ascender no RN. O eurodeputado aos 23 anos, embora seu balanço legislativo seja modesto. O presidente do partido aos 27 e braço direito de Le Pen. E o rosto do processo pelo qual um partido, que há alguns anos estava à margem da democracia — o antecessor do RN, a Frente Nacional, foi fundado por colaboradores da Alemanha nazista — ocupa hoje a centralidade na França.
Bardella agrada, e não assusta. Uma casca vazia com pouca preparação técnica e pouco domínio dos temas nos debates? As eleições europeias mostraram que isso não era um problema. Uma imagem superficial? Pierre-Stéphane Fort, autor de "Le grand remplaçant", está convencido de que sim: "Meu sentimento profundo", escreve, "é que, por trás da máscara sedutora da juventude, da cortina de fumaça do marketing, as ideias não mudaram."
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