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Justiça dos EUA considera empresa de bananas Chiquita responsável pelo financiamento de paramilitares na Colômbia

Empresa terá que pagar US$ 38,3 milhões aos familiares de oito vítimas da guerrilha Autodefesas Unidas da Colômbia

Agência O Globo - 11/06/2024
Justiça dos EUA considera empresa de bananas Chiquita responsável pelo financiamento de paramilitares na Colômbia

Um júri da Flórida, nos Estados Unidos considerou a empresa bananeira Chiquita Brands responsável pelo financiamento das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). A Justiça americana ordenou que a empresa indenizasse os familiares de oito vítimas daquele grupo paramilitar.

“Após 17 anos de litígio, uma vitória monumental para as vítimas da violência paramilitar na Colômbia. (...) O primeiro grupo de vítimas e suas famílias finalmente obtiveram justiça”, afirmou a organização EarthRights, que ajudou a preparar o caso.

Na sua decisão, o júri convocado por um tribunal federal da Florida concedeu indenização de US$ 38,3 milhões aos familiares das oito vítimas, na sua maioria maridos e filhos perseguidos e assassinados pelas AUC.

“Nossos clientes arriscaram suas vidas ao se apresentarem para responsabilizar a Chiquita, depositando sua fé no sistema de Justiça dos Estados Unidos”, disse Agnieszka Fryszman, uma das advogadas responsáveis ​​pelo caso.

O gigante americano de bananas tinha confessado, em 2017, perante os tribunais daquele país, ter financiado as AUC entre 1997 e 2004, organização então considerada terrorista pelos Estados Unidos, o que tornou o seu apoio um crime federal.

A empresa afirmou, porém, que foi vítima de extorsão ao pagar o dinheiro ao grupo.

Os oito demandantes no caso alegaram que a Chiquita transferiu quase US$ 2 milhões para as AUC, para garantir a suposta proteção dos seus trabalhadores no Noroeste da Colômbia, apesar de saberem que a milícia estava envolvida em graves violações dos direitos humanos e atos violentos.

O júri acatou o argumento de que o dinheiro dado aos paramilitares foi utilizado para cometer homicídios, sequestros, extorsões, torturas e desaparecimentos forçados.

As AUC espalharam terror no país sul-americano na década de 1990, como parte de uma guerra amarga contra as guerrilhas de esquerda, por vezes ajudadas por membros das forças armadas.

Cerca de 20 mil combatentes desses esquadrões foram desmobilizados entre 2003 e 2006, sob o governo do então presidente Álvaro Uribe (2002-2010).

Marco Simons, conselheiro-geral da EarthRights, saudou o veredito como “uma mensagem poderosa para empresas de todo o mundo: lucrar com os abusos dos direitos humanos não ficará impune”.

Simons também elogiou a bravura das famílias que venceram uma grande empresa americana no processo judicial.