Olhar em detalhes os resultados das análises de material bacteriológico da água e observar a "corrente louca" do rio Sena: a menos de 50 dias para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, a tensão é palpável, e as autoridades examinam o céu ante as contínuas chuvas que perturbam os preparativos.

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A primavera parisiense com chuvas abundantes nas últimas semanas provocou o adiamento de vários ensaios para a cerimónia de abertura. Se o tempo permitir uma trégua, eles acontecerão na semana de 17 de junho.

"Não adianta fazer um ensaio em condições climáticas que não sejam semelhantes às do mês de julho", insistem a comissão organizadora e a prefeitura da região de Île-de-France, que abriga a capital Paris.

O chuvoso mês de maio fez com que o fluxo da artéria fluvial parisiense aumentasse para 400 metros cúbicos por segundo. Durante esse período, arquibancadas temporárias nas estruturas olímpicas estão sendo instaladas em Paris, e o tempo avança para os Jogos (26 de julho a 11 de agosto), que serão iniciados em 48 dias.

Basta uma pequena pausa no céu e novas nuvens de chuva aparecem no horizonte — com o consequente risco de transbordamento dos esgotos, o que aumentaria a sujeira no rio.

Os nadadores franceses, que pretendiam dar um mergulho na segunda-feira para se familiarizarem com o Sena, deixaram para depois.

— É lógico que não pudemos nadar porque havia uma corrente louca — explicou à AFP Stéphane Lecat, diretor de natação em águas abertas para Paris-2024, que, no entanto, reconheceu "não estar preocupado" com os Jogos.

'Perigoso se banhar'

O nado da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, no Sena, marcado para 23 de junho como um gesto para demonstrar o estado ideal das águas do rio, também será "provavelmente adiado" devido ao forte fluxo.

"Devido às fortes chuvas de maio e ao caudal muito forte do rio, o nado de 23 de junho provavelmente será adiado", disse a Câmara Municipal à AFP. Mas também pela qualidade da água. A nova data deve ser domingo, 30 de junho.

Seria "perigoso tomar banho", relata a prefeitura da região parisiense. As análises do início de junho “não serão boas”, alertam todos os envolvidos nos bastidores, mas garantem que os alarmes ainda não dispararam.

As declarações à AFP da atual campeã olímpica de natação em águas abertas, a brasileira Ana Marcela Cunha, considerando que a qualidade da água do Sena era “uma preocupação” e apelando a “um plano B” no início de março, não caíram bem entre as autoridades francesas. Elas insistem que não há alternativa, exceto o adiamento dos testes por alguns dias.

Investimento milionário

Em maio, a associação Surfrider, que realizou as suas próprias análises, concluiu que as taxas da bactéria E.Coli eram superiores aos padrões exigidos pela Federação Internacional de Natação, especialmente perto da Ponte Alexandre III, no coração de Paris. Por ali passarão a prova de natação em águas abertas (8 e 9 de agosto) e a prova de triatlo (30 de julho e 5 de agosto).

No verão europeu passado, a prova de natação em águas abertas foi cancelada porque o Sena estava muito poluído após um episódio incomum de chuva. As instituições públicas investiram 1,4 bilhão de euros para permitir ao público em geral banhar-se no Sena em 2025.

Mas todos estão atentos: em caso de chuvas fortes, esses equipamentos não serão suficientes.

— O certo é que se trata de uma tremenda aposta — resume uma fonte política à AFP.