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Relatório mostra que 55,5% dos argentinos viviam na pobreza até o fim do primeiro trimestre deste ano

Dados do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA) mostram ainda que extrema pobreza cresceu e quase dobrou em relação ao último trimestre avaliado

Agência O Globo - 04/06/2024
Relatório mostra que 55,5% dos argentinos viviam na pobreza até o fim do primeiro trimestre deste ano
Relatório mostra que 55,5% dos argentinos viviam na pobreza até o fim do primeiro trimestre deste ano - Foto: Reprodução/internet

A pobreza atingia 55,5% da população da Argentina no final do primeiro trimestre deste ano, de acordo com um relatório do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina (UCA) apresentado pela Cáritas Argentina — o que representa cerca de 25 milhões de habitantes. O período de tempo coincide com a administração do presidente Javier Milei, que chegou à Casa Rosada em dezembro, enquanto a divulgação do relatório ocorre em meio à crise que envolve o Ministério do Capital Humano, que recorreu à uma decisão da Justiça para distribuir alimentos armazenados. O último dado oficial disponível corresponde ao segundo semestre de 2023, quando o índice de pobreza ficou em 41,7%, segundo o instituto estatístico Indec, que informará em setembro sobre os resultados do primeiro semestre de 2024.

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A instituição privada católica divulgou o relatório “Raio X da pobreza na Argentina: realidade social e solidariedade que é esperança" uma semana depois da Conferência Episcopal exortar o governo Milei a distribuir milhares de toneladas de alimentos estocados desde que ele interrompeu, em dezembro, a assistência alimentar por meio de refeitórios comunitários para auditá-los. Nesta terça-feira, o Ministério do Capital Humano começou a distribuição dos alimentos prestes a vencer e o restante será guardado "para eventuais catástrofes", disse o porta-voz presidencial, Manuel Adorni.

De acordo com o Observatório da UCA, a extrema pobreza também cresceu e chegou a 17,5% no primeiro trimestre (ou oito milhões de pessoas). Em seu último relatório, referente ao terceiro trimestre de 2023, a UCA havia relatado 44,7% de pobreza e 9,6% de extrema pobreza. Com esse paralelo, é possível estimar que cerca de cinco milhões de pessoas caíram abaixo da linha da pobreza. Diante dos números drásticos, chegou-se à conclusão de que “a pobreza e a miséria hipotecam vidas”.

O relatório também mostra que uma em cada quatro pessoas sofre de “insegurança alimentar”, um défice que se traduz em alarme face à investigação judicial que impactou o Ministério do Capital Humano e provocou a demissão de vários funcionários. Entre os menores de 18 anos, esta deficiência atinge 32%. Entretanto, a insegurança alimentar grave — quando há fome — afeta 10% da população. O percentual sobe para 15% entre os menores de 18 anos.

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O drama social não é apenas alimentar, e o relatório mostra que 25% das crianças dos 3 aos 5 anos não frequentam sistematicamente o jardim de infância ou a pré-escola, e pelo menos 10% dos alunos estão atrasados no ensino, frequentando séries inferiores às correspondentes à sua idade. O documento aponta ainda que 35% dos jovens entre os 18 e os 19 anos não concluíram o Ensino Médio.

O índice do Indec estima a pobreza com base nos rendimentos, enquanto o da UCA tem uma abordagem multidimensional que inclui o acesso a serviços essenciais, algo que o Indec mede apenas a cada dez anos no censo populacional. Segundo o Indec, a pobreza atingiu seu pico em 2002 (65,5%) e desde então recuou até 2017 (25,7%).

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A Argentina enfrenta uma crise econômica com forte recessão que contribuiu para a desaceleração da inflação, cujo último índice de abril a situou em 8,8% ao mês. O poder de compra se deteriorou enquanto os custos dos serviços essenciais aumentaram, em média, mais de 300% no último trimestre, devido à desregulamentação das tarifas e à política de redução de subsídios. Na cidade de Buenos Aires, a tarifa do metrô aumentou 450% de maio a junho, enquanto os serviços de água e eletricidade triplicaram no mesmo período.

Segundo o Indec, uma família típica (dois adultos e duas crianças) precisou, em abril, de 828.000 pesos (cerca de R$ 4,8 mil na cotação atual) para despesas básicas com alimentação, saúde e habitação, o que representa um aumento de 67% desde janeiro e 300% em um ano. O salário mínimo na Argentina é de 234.315 pesos (cerca de R$ 1,3 mil) em uma economia com quase 50% dos trabalhadores na informalidade. (Com AFP e La Nácíon)