Esportes
Drama, prejuízos e solidariedade: Como os clubes menores do Rio Grande do Sul atravessam a tragédia das chuvas
Sem jogar, clubes têm atletas e funcionários atingidos, perdem receitas, mas também cumprem papel social

Localizado na Região Metropolitana de Porto Alegre, São Leopoldo foi um dos municípios mais atingidos pelas chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul nas últimas três semanas. A prefeitura estima que 100 mil estão desalojados e outros 14 mil, desabrigados. Em meio a tantos dramas está o de parte do elenco do Aimoré, clube da cidade que disputa a Série A2 estadual.
Alojados em duas casas alugadas pelo clube, oito atletas precisaram ser retirados devido aos problemas surgidos com a força da chuva. Foram levados a uma pousada, onde aparentemente estavam seguros. Acordaram, no dia seguinte, com o primeiro andar tomado pela água. Tiveram que ser resgatados de barco. Mesma solução encontrada para mais dois, hospedados em um hotel ilhado na zona central. Isso sem contar outros cinco, da própria cidade, cujas casas ficaram submersas.
Aqueles que não eram de São Leopoldo foram levados para o próprio clube. Passaram cinco dias numa sala com colchões. Até que a diretoria conseguiu mandá-los para suas casas.
Para além do trio Grêmio, Internacional e Juventude, que jogam a Série A do Brasileiro, outros clubes do Estado disputavam competições nacionais ou estaduais antes da tragédia. O caso do Aimoré, ainda sem conseguir reunir o elenco, é o mais grave. Tanto que será o único a retornar ao Gauchão A2 no dia 9, uma semana após a data marcada para recomeço do torneio. Mas todos foram impactados de alguma forma.
Muitos funcionários, dirigentes, membros de comissão técnica e atletas ficaram desalojados. Não só eles, como parentes e amigos. Quando a água baixou — nos casos em que isso já aconteceu — descobriram que perderam tudo.
É o caso de Juan Rafael e Letícia Xing, dos times masculino e feminino do Brasil de Farroupilha, que disputam, respectivamente, o Gaúchão A2 e o Brasileiro A3. O primeiro mora com o pai em Porto Alegre. No momento mais crítico, a água chegou até o teto. O pai foi para a casa de uma amiga. O irmão, que morava na mesma rua, está num abrigo.
O lateral acompanhou tudo à distância. Segue treinando com o elenco. Daqui a uma semana tem jogo.
— A cabeça fica um pouco fora do eixo, sem foco. Mas depois que entrar em campo tudo muda — diz.
A situação de Letícia é a mesma. Seus parentes precisaram deixar as casas em Porto Alegre. Hoje, os 15 familiares estão juntos no imóvel cedido pela patroa de uma das tias da jogadora.
No alojamento do time feminino, a meio-campista tenta ajudar de alguma forma. Está promovendo uma rifa de camisas de times. Dos 2 mil números, quase a metade já foi vendida. E também recebe apoio das companheiras de clube.
— As gurias se disponibilizaram para, assim que a água baixar, fazermos um mutirão de limpeza — conta.
A onda de solidariedade é o que se pode chamar de lado positivo da tragédia. No Veranópolis, os jogadores fizeram uma vaquinha entre si para ajudar o lateral Johann. O clube também lhe deu uma ajuda financeira. A casa em que mora com a mãe, o padrasto e o irmão em Porto Alegre ficou submersa.
— Esta situação é recorrente. O que a gente sempre faz é levantar móveis e tudo mais com tijolos. Mas desta vez não deu tempo e a água subiu muito mais — diz o lateral, que pediu à reportagem para informar sua chave pix ([email protected]) caso alguém queira ajudar.
De uma maneira geral, as instalações dos clubes sobreviveram aos estragos. Alguns campos ficaram muito encharcados por alguns dias. Mas nada como as cenas do Beira-Rio e da Arena.
A exceção é o Inter de Santa Maria. A água invadiu a sede e tomou quase todas as dependências. Os computadores foram salvos. Mas móveis, aparelhos da academia e da fisioterapia não. Para piorar, o fornecimento de luz e de água foi interrompidos, o que obrigou a diretoria a retirar os atletas do alojamento e colocá-los num hotel. Um gasto, somado ao do conserto na parte elétrica, fora dos planos.
Isso num momento em que, com o campeonato paralisado, a bilheteria secou. Para as agremiações menores do Estado, esta é uma receita que faz falta.
Vale lembrar ainda que os patrocinadores, em geral, são empresas da própria região. Também afetadas, algumas avisaram não ter como honrar os compromissos neste momento. Ou seja: muitos clubes não podem contar com suas principais receitas para pagar os salários e os custos extras.
— Nosso prejuízo passa dos R$ 100 mil — conta Pedro Della Pasqua, presidente do Inter de Santa de Maria.
Os clubes já pediram socorro à Federação Gaúcha, que solicitou o auxílio financeiro da CBF. Até agora, não atendido. O presidente Luciano Hocsman pretende reforçar o pleito pessoalmente durante sua viagem ao Rio para o Conselho Técnico da Série A do Brasileiro, nesta segunda, na sede da entidade.
Apesar disso, os clubes não deixaram de cumprir seu papel social. Alguns usam as redes sociais para divulgar chaves pix de instituições atuantes na ajuda aos atingidos pelas chuvas. Outros viraram ponto de coleta e distribuição de doações. E há até os que abriram espaço para canis. Como o Pelotas, que abriga cães resgatados das enchentes debaixo da arquibancada. Em determinado momento, eles chegaram a ser mais de 100. Ficam à espera de reencontrar os donos ou de serem adotados.
Na hora do almoço, em meio à rotina de treinos sem jogos e distantes dos familiares, alguns atletas do Pelotas passeiam com os cães. Uma cena que simboliza o momento do futebol gaúcho. E — por que não? — do próprio povo.
Mais lidas
-
1MÚSICA
Com Ana Castela, Mioto divulga a bela e romântica “Princesa”
-
2
Nissan inicia produção da nova geração do Kicks com robôs, bilhões e contratações
-
3GOVERNO DE ALAGOAS
Paulo Dantas destaca protagonismo de Alagoas em transição energética
-
4REALINHAMENTO COM A PREFEITA
Câmara de Palmeira rejeita requerimentos de Helenildo Neto por 14 votos a 1 e reforça suspeitas de apadrinhamento político após resultado do PSS
-
5GOVERNO DE ALAGOAS
Em Capela, governador entrega creche, autoriza pavimentação e anuncia investimentos em saneamento