Enquanto operadoras de planos de assistência médica têm dificuldade em expandir a carteira de clientes – num cenário de altos custos e oscilando numa média anual de 49 milhões de usuários na última década – planos de saúde focados em odontologia estão em franca expansão no país. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), contratos que cobrem exclusivamente atendimentos realizados por dentistas encerraram 2023 com 32,6 milhões de clientes. Há dez anos, eram 19,6 milhões de pessoas cobertas, o que representa um aumento de 66%.

Leia também: Senacon notifica 18 operadoras de planos de saúde e associações do setor para explicarem cancelamentos unilaterais de contratos

E mais: Usuários da Unimed-Rio transferidos para Unimed Ferj têm dificuldades para obter boleto de mensalidade

Com procedimentos e tratamentos que costumam pesar no bolso dos consumidores, empresas e entidades do setor acreditam que os preços mais acessíveis dos planos são o principal fator de atratividade dos usuários. Isso porque, segundo a Associação Brasileira de Planos Odontológicos (Sinog), a mensalidade média é de R$ 20.

– Há também uma facilidade de aquisição. A oferta crescente de canais de comercialização online facilita a pesquisa e contratação dos planos, permitindo aos beneficiários acessarem informações detalhadas sobre coberturas oferecidas, redes credenciadas, carências, preço, meios de pagamento, diferenciais das empresas, tudo sem sair de casa – observa o presidente da entidade, Roberto Seme Cury.

Ao todo, há 238 operadoras de planos odontológicos no país. A ANS determina uma lista de procedimentos que os planos devem obrigatoriamente cobrir. A relação inclui atendimentos como consultas de diagnóstico, procedimentos de urgência e emergência, exames radiológicos e obturações, entre outros. Mas, em geral, as empresas oferecem serviços adicionais – como próteses e tratamentos de ortodontia, como os aparelhos e alinhadores – que aumentam os custos mensais.

Os contratos de assistência médica têm pesado no orçamento das famílias. Enquanto os reajustes anuais dos planos individuais têm patamares máximos definidos pela agência reguladora, os coletivos devem subir esse ano na casa dos dois dígitos, no que o setor justifica como um reflexo dos custos assistenciais (a chamada sinistralidade).

E mais: Reajuste dos plano de saúde individuais deve ser de 7% neste ano

No caso dos planos exclusivamente odontológicos, porém, a lógica é diferente. Sejam individuais ou coletivos, segundo a ANS o percentual de correção anual deve estar claramente expresso nos contratos, com aplicação no mês de aniversário do contrato.

– O rol de procedimentos cobre aproximadamente 85% dos eventos mais realizados nos consultórios. Desta forma, os planos não sofrem pressão constante de aumento de procedimentos e tem reajuste anual próximo aos índices de inflação. Além disto, há uma menor complexidade, bem menos especialidades. Tudo isto gera uma pressão menor nos custos e um ticket médio menor – analisa Cury.

Clínicas também se expandem

Enquanto planos conquistam mais clientes, clínicas odontológicas que oferecem serviços a preços populares têm expandido as operações. No Rio, elas são cada vez mais comuns em bairros da Zona Norte e Oeste, cidades da Baixada Fluminense, Região Metropolitana e até municípios do interior.

Muitas das marcas operam com franquias. Dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) mostram que franquias focadas em serviços odontológicos representam cerca de 20% do segmento de Saúde, Beleza e Bem-Estar, que registrou um aumento de 17,5% faturamento e 5,6% em operações em 2023.

Um dos exemplos é o grupo OdontoCompany, que inclui ainda as marcas Oral Sin e OrthoDontic, e soma cerca de 2.800 unidades no país.

– Trabalhamos com grandes distribuidores de insumos e equipamentos, o que nos permite garantir ao cliente um preço acessível – afirma o presidente da rede, Paulo Zahr.

Planos de saúde: com reajuste à vista, portabilidade é opção para tentar fugir de aumento. Veja regras

CEO da rede Sorridents, Carla Sani analisa que, além do preço, influencia também a capilaridade das redes:

– Odontologia sempre foi uma área da saúde com custo mais elevado e pouquíssima cobertura pública, muitos chegam a considerar como um “serviço de luxo” – diz. – Estamos fazendo uma expansão maior nos interiores, para pacientes que acabam não tendo muita escolha na hora de buscar uma solução odontológica, o que fatalmente pode interferir na inflação dos preços.

Na hora de buscar atendimento, pacientes devem ter alguns cuidados para garantir que o estabelecimento escolhido é confiável. Preços baixos demais, por exemplo, podem ser um sinal de alerta. É o que orienta o presidente do Conselho Federal de Odontologia (CFO), Juliano do Vale.

Ele recomenda que o primeiro passo deve ser consultar nos sites da entidade ou dos conselhos regionais se tanto a clínica quanto o profissional estão com os cadastros regulares. Essa busca também pode ser feita, no caso do estabelecimento, junto à Vigilância Sanitária.

– Outro ponto é que muitas vezes o paciente procura por um tratamento característico de uma especialidade. Não que outro profissional não possa fazê-lo, mas o que detém mais experiência e competência é o especialista – diz.

O que os planos oferecem

Hapvida NotreDame Intermédica: Os contratos têm carência e os preços variam pela contratação (individual, coletivo empresarial ou por adesão), cobertura, forma e meio de pagamento (pré ou pós-pago, e se via boleto, cartão de crédito ou débito em conta). Assim, planos individuais custam mais caro que os coletivos e, quanto mais serviços cobertos, maior a mensalidade. O valor médio, segundo a empresa, é de R$ 10,30. A cobertura mínima garantida é o Rol da ANS, mas há possibilidade de produtos extras, como próteses, ortodontia e estética. Segurados têm facilidades como descontos em farmácias, varejistas e cinema.

Odontoprev: Há produtos para clientes pessoa física, pequenas e médias empresas e MEIs (de 3 a 199 vidas) e negócios de grande porte (acima de 200 vidas). O tíquete médio de entrada varia entre R$ 17 e R$ 42. Além dos procedimentos do Rol da ANS, a cobertura pode incluir ortodontia, próteses, implantes, restaurações e clareamento. Há carência para alguns atendimentos. Os clientes têm descontos em itens de higiene bucal, medicamentos, perfumaria e higiene pessoal em algumas redes de farmácia.

Sulamérica: Há opções de contratos com ou sem carência. Para o plano individual, a mensalidade é de a partir de R$ 43,90. Para pequenas e médias empresas, a partir de R$ 26,90. Já os contratos empresariais têm valores negociados. Os preços no contrato empresarial é negociado. Os clientes têm benefícios como até 70% de desconto em grandes redes de farmácias.

Unimed: As mensalidades vão de R$34,90 a R$58,80, a depender do plano escolhido e da região. Há três opções de contratos individuais e familiares, com coberturas que incluem desde procedimentos básicos (consultas, limpezas, extrações e radiografias) até atendimentos complementares, como próteses. Nesses casos, há carência. Já para os contratos destinados a empresas, as opções podem ser customizadas de acordo com o número de funcionários e necessidades específicas. Os usuários têm acesso a descontos nas drogarias Pacheco, São Paulo e Raia.

Amil: Para pessoa física, há planos individuais ou familiares, a partir de três vidas. Já para contratos empresariais, a cobertura começa a partir de duas vidas. O valor mínimo é de R$ 42,50. Os planos incluem a cobertura básica e outros serviços, a depender da modalidade escolhida, com serviços como clareamento, alinhadores e próteses. Os clientes têm descontos de até 40% nas drogarias Pacheco e São Paulo. A carência depende do contrato escolhido.

O que as clínicas oferecem

OdontoCompany: As clínicas oferecem desde serviços de clínica geral como próteses dentárias, tratamentos de ortodontia (aparelhos e alinhadores), periodontia (cuidados da gengiva), tratamento de canal, estética e cirurgias. A rede tem 1.700 unidades em todo o país. No Rio, há clínicas em 62 municípios. A relação completa está disponível em odontocompany.com/clinica/estado/rj.

OrthoDontic: A rede é especializada em tratamento ortodôntico, que corrige a posição dos dentes e dos ossos maxilares, com aparelhos fixos tradicionais, autoligados, estéticos e os alinhadores invisíveis. São cerca de 300 unidades em diferentes pontos do país. No Rio, há seis clínicas: em Campos dos Goycatazes, no Norte Fluminense, em Duque de Caxias e Nova Iguaçu, na Baixada, e nos bairros de Madureira, Campo Grande e Bangu, na capital. Os endereços estão disponíveis em orthodonticbrasil.com.br/encontre-uma-orthodontic/.

ProRir: Entre os tratamentos oferecidos estão limpeza, restauração, prótese, facetas, aparelhos ortodônticos e alinhadores, implantes, tratamentos de canal e procedimentos pediátricos. Fundada em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, a rede tem 16 unidades nos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, São João de Meriti, Magé e Queimados, além de duas unidades na cidade do Rio, nos bairros da Praça Seca e Vila Valqueire. Os endereços podem ser consultados em prorir.com.br/clinicas/.

Sorridents: A marca oferece tratamentos de estética, como clareamento e faceta, até ortodontia, implantes, próteses, extrações e procedimentos clínicos, como limpeza e tratamento de canal. São 480 clínicas em 22 estados. No Rio, são 17 unidades distribuídas na capital fluminense e em cidades das regiões dos Lagos e Serrana, além da Baixada e Grande Rio. Os endereços estão disponíveis em sorridents.com.br/unidades/.

Orthopride: Com unidades em todo o país, a rede é especializada em tratamentos ortodônticos, com opções de aparelhos fixos, removíveis, estéticos, autoligados e os alinhadores transparentes. No Rio, há clínicas em 32 municípios, incluindo 38 unidades na capital fluminense. Os endereços podem ser consultados em orthopride.com.br/encontre-uma-unidade.