Política

Para rivalizar com obras e 'máquina' de Nunes, Boulos tenta se cacifar com entregas do governo Lula

Psolista aposta em agendas com ministros e programas da gestão federal

Agência O Globo - 26/05/2024
Para rivalizar com obras e 'máquina' de Nunes, Boulos tenta se cacifar com entregas do governo Lula
Foto: Reprodução/internet

Nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a eleição à prefeitura de São Paulo, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) deve apostar na imagem de "candidato da máquina federal" para nivelar forças contra seu principal adversário, o prefeito Ricardo Nunes (MDB). À frente de um orçamento de R$ 112 bilhões neste ano, Nunes tem intensificado entregas, anúncios e inaugurações de obras a tempo da campanha eleitoral — a partir de quando esse tipo de ação é vetada —, o que preocupa a campanha psolista.

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Aliados de Boulos querem alinhar sua agenda com entregas federais para fortalecê-lo como alguém que, mesmo sem cargo municipal, já tem trazido mudanças para a cidade. Nesta sexta-feira à noite, o ministro da Fazenda e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), debutou na pré-campanha de Boulos, num evento na Avenida Paulista sob o tema "Cidades do futuro e transformação ecológica", ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede).

Boulos espera contar com a influência do governo federal para o seu programa de governo. Ele costuma citar o Plano de Transformação Ecológica, coordenado pelas pastas de Haddad e Marina e que deve guiar a transição econômica do país, como exemplo na esfera federal que deve ser replicado em âmbito municipal caso ele seja eleito.

O evento com ministros nesta sexta-feira serviu para "conectar aquilo que o governo federal está pensando para construir o melhor programa para São Paulo", nas palavras de Boulos.

— (Vamos) reforçar que uma vitória desta frente também significa um município de São Paulo andando junto com o Brasil. Uma prefeitura que, em vez de não aderir aos programas federais por questão eleitoreira, vai estar aberto de braços abertos para os programas do governo federal — afirmou ele um dia antes, na quinta-feira, em coletiva de imprensa.

Associação à máquina gera prejuízos e dividendos

Boulos e Lula já tiveram três agendas conjuntas em São Paulo nesta pré-campanha. Além do lançamento do conjunto habitacional Copa do Povo (do programa Minha Casa Minha Vida Entidades), houve a refiliação de Marta Suplicy, pré-candidata a vice na chapa, ao PT e o ato do 1º de Maio.

Mas a relação íntima com a máquina federal também rendeu problemas para o PSOL. No último encontro, Lula provocou uma polêmica ao fazer um pedido explícito de voto para o aliado, o que é proibido pela Justiça Eleitoral antes do período de campanha, que começa em agosto.

Adversários de Boulos aproveitaram o episódio para criticá-lo. Kim Kataguiri (União), Marina Helena (Novo) e o diretório municipal do PSDB acionaram o presidente na Justiça Eleitoral por propaganda irregular. O prefeito afirmou que Lula infringiu a lei eleitoral e estaria "pensando no palanque de 2026".

Em resposta, o coordenador da pré-campanha de Boulos à prefeitura de São Paulo, Josué Rocha, em nota, acusou Nunes de usar indevidamente a máquina municipal. Afirmou que "Ricardo Nunes tenta criar uma cortina de fumaça para despistar o uso de eventos oficiais da Prefeitura, realizados com dinheiro público, para a promoção de sua candidatura à reeleição. Ele é quem deve explicações à sociedade", escreveu, em referência a uma matéria do site "Metrópoles" segundo a qual uma servidora municipal convodou outros funcionários, "sem uniforme e sem crachá", para prestigiarem um evento com a presença do prefeito.

Fora os compromissos públicos, Boulos tem participado de eventos do governo em Brasília e se reunido com outros ministros para apresentar propostas para a cidade. Um exemplo foi a reunião com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), para tratar do problema dos apagões que colocaram a fornecedora Enel na corda bamba.

O episódio incomodou Nunes e foi usado pelo entorno de Boulos para mostrar que o deputado tem aliados federais capazes de resolver questões de São Paulo.

"A cidade de São Paulo, por meses, vem sofrendo com o descaso dessa empresa e, em nenhum momento, o ministro de Minas e Energia se designou e tomou qualquer atitude", disse o prefeito por meio de nota, em abril. "Somente agora, após toda a nossa pressão, e de forma tardia, toma providência, o que já deveria ter feito meses atrás. Mas, para passar a mão no telefone e fazer política, usando o sofrimento da população, ele foi bem rápido", alfinetou.

Boulos ganha aliado inusitado

O pré-candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo se aliou, nesta quinta-feira, ao Partido da Mulher Brasileira (PMB), que tem abrigado um amplo leque de políticos, da esquerda à extrema-direita.

A própria identidade do único partido brasileiro dedicado às mulheres também causa confusão. Num evento no WZ Hotel, em São Paulo, a presidente nacional do PMB, Suêd Haidar, afirmou ao lado de Boulos que o partido não é feminista. Questionada pelo GLOBO sobre qual posição a sigla ocupa no espectro ideológico, ela respondeu:

— A ideologia do PMB é cuidar da vida das pessoas. O PMB está na frente, é o bucho, é a mulher que pare. Quem estiver caminhando certo, a gente está com ele — afirmou.

Em 2022, Haidar deu legenda ao ex-ministro de Educação de Jair Bolsonaro, Abraham Weintraub, e seu irmão Arthur Weintraub disputarem vagas na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Ambas as tentativas fracassaram.

Perguntada sobre a contradição de ter lançado um candidato de extrema-direita e agora apoiar outro de esquerda, Haidar disse que Weintraub teria lhe garantido naquele ano que ele "bateria no Bolsonaro" durante a sua campanha.

Com a chegada de PMB, Boulos agora conta com sete partidos em sua coalizão: PSOL, PT, Rede, PCdoB, PV e PDT. Nunes, por sua vez, tem ao seu lado MDB, PL, Republicanos, PSD, União Brasil, PP, Podemos, Solidariedade, Avante, PRD e Mobiliza. A deputada Tabata Amaral por enquanto segue com o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin, mas tenta trazer para sua chapa o PSDB (federado ao Cidadania), que ainda não decidiu de que lado estará.