Política

Em ano eleitoral, Marcha para Jesus é capitalizada por Castro e Ramagem, enquanto Paes não comparece

Maior evento evangélico no Rio de Janeiro tem participação massiva de bolsonaristas ao lado do pastor Silas Malafaia

Agência O Globo - 25/05/2024
Em ano eleitoral, Marcha para Jesus é capitalizada por Castro e Ramagem, enquanto Paes não comparece
Eduardo Paes - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Ao lado de pastores, políticos conservadores acompanharam a Marcha para Jesus no Rio de Janeiro neste sábado em evento lotado e entoado por louvores. No trio principal, o governador Cláudio Castro (PL) e o pré-candidato à Prefeitura do Rio, Alexandre Ramagem (PL), marcharam em tom alegre e de comemoração na companhia do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos organizadores do evento. Com presença confirmada, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que tenta a reeleição, não compareceu ao evento.

Dezenas de milhares de fiéis acompanharam o caminho de dois trios elétricos no Centro do Rio até a Praça da Apoteose, onde artistas do universo gospel se apresentaram ao público. No carro de som principal, Malafaia recebeu uma série de políticos, que também inclui o vereador Alexandre Isquierdo, que já comandou a Secretaria de Juventude e Envelhecimento Saudável da gestão Castro, o secretário de Transportes, Washington Reis, e seu irmão, o deputado estadual Rosenverg Reis. Também compareceu o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL), que também é pastor da igreja comandada por Malafaia.

Em tom alegre, Castro foi um dos primeiros políticos a subir no trio e rapidamente se juntou a Isquierdo ao microfone para entoar louvores em apresentação aplaudida pelos colegas no trio. Antes de entrar na política, o governador atuou como cantor de músicas católicas e chegou a lançar CDs. Ramagem, que também acompanhou a marcha do trio, passou boa parte do tempo ao lado do chefe do Executivo estadual e de Sóstenes, um dos principais fiadores de sua campanha.

Adversário de Ramagem na disputa, o prefeito Eduardo Paes decidiu não comparecer ao evento deste sábado. A presença dele, no entanto, era confirmada, conforme apurou O GLOBO. Apesar de não se identificar com a ala mais conservadora, ele costuma comparecer à Marcha para Jesus na condição de prefeito da cidade. A equipe de Paes, no entanto, não informou o motivo da ausência no encontro evangélico.

Logo após o evento, o prefeito compartilhou em uma rede social que a prefeitura do Rio "tem a honra de patrocinar" a Marcha para Jesus durante seus mandatos e que fica feliz em ver o "Rio de fé lotando o sambódromo".

Desde o show da Madonna na Praia de Copacabana, ele vem sendo alvo de questionamentos da oposição por investir R$ 10 milhões na realização da apresentação, classificada como uma "Sodoma e Gomorra". A estratégia adotada pela comunicação para reverter essa imagem foi dar mais publicidade aos investimentos em megaeventos evangélicos e católicos, como a própria Marcha para Jesus, conforme informou a colunista do GLOBO, Malu Gaspar. Neste mandato, ele já aplicou R$ 3,3 milhões para edições do evento.

Ataques a Moraes

Um dos principais organizadores do evento, o pastor Silas Malafaia fez discurso crítico à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, de suspender resolução do Conselho Federal de Medicina que vedava o aborto em caso de estupro em caso de mais de 22 semanas de gravidez. Já na Praça da Apoteose, o religioso afirmou que a autorização da interrupção da gravidez em qualquer estágio é uma "vergonha" e voltou a se referir ao magistrado como "ditador da toga".

— Vamos pressionar os ministros do STF, porque a decisão de Alexandre de Moraes foi em caráter liminar. Precisamos agir como cidadãos e volto a pedir que Deus tenha misericórdia dessa nação — afirmou Malafaia, que ainda pediu que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), paute um projeto de lei que prevê a proibição do aborto em qualquer circunstância.

Por lei, o aborto legal é permitido em três casos: anencefalia do feto, se gerar algum perigo à vida a mãe ou se a gravidez for fruto de estupro. Na Câmara, parlamentares bolsonaristas tentam avançar com projeto que prevê a apresentação de boletim de ocorrência para que a mulher possa realizar a interrupção da gravidez em caso de estupro. Hoje, o procedimento pode ser realizado apenas com a palavra da vítima para conferir validade à violação.