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Quem é a mulher que espalhou medo em uma cidade com ataques incendiários e se tornou a principal inimiga do governo

Leila Schmitt é companheira de um dos maiores traficantes argentinos, que atualmente se encontra preso

Agência O Globo - 25/05/2024
Quem é a mulher que espalhou medo em uma cidade com ataques incendiários e se tornou a principal inimiga do governo
Um exemplo desse esquema de violência, que sustenta o negócio criminoso, é o que aconteceu no bairro La Tablada no início do ano. - Foto: Reprodução / internet

O bunker do narcotráfico não representa apenas um problema pelo consumo de drogas ampliado em suas proximidades, mas também por ser um ponto de conflito constante entre os grupos que gerenciam o tráfico nos bairros de Rosario. Assassinatos, tiroteios e ameaças crescem nesses ambientes.

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Um exemplo desse esquema de violência, que sustenta o negócio criminoso, é o que aconteceu no bairro La Tablada no início do ano. Em 12 de janeiro passado, os operários de uma cooperativa de bairro estavam demolindo as paredes de um bunker localizado na Ayacucho ao 4300, quando uma jovem de 27 anos apareceu e os ameaçou.

"Vão embora porque vamos atirar em vocês", gritou a mulher, após a saída dos policiais e funcionários políticos que queriam tirar uma foto com o primeiro ponto de venda de drogas derrubado, no âmbito da recente adesão da província de Santa Fé à desfederalização do tráfico de drogas, aprovada em dezembro passado.

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Aquele lugar era controlado pela mulher que apareceu inesperadamente: Leila Schmitt, parceira de Alan Funes, um narcotraficante de 26 anos atualmente preso na penitenciária de Ezeiza. Em janeiro passado, foi realizada a demolição de um simbólico bunker do clã Funes. Alan Funes ganhou notoriedade no final de 2018, quando se filmou disparando uma metralhadora na casa de sua avó, onde cumpria prisão domiciliar.

A partir desse vídeo, que tinha como objetivo mostrar o poder de fogo de um grupo de narcotraficantes que ele formava com seus irmãos – dois foram assassinados –, ele começou a se transformar em uma engrenagem violenta do narcotráfico.

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Todos conheciam os antecedentes de violência do clã Funes quando Leila Schmitt ameaçou os operários que demoliam o bunker. Os operários saíram correndo. Não ficou ninguém. Foi o primeiro ponto de venda que foi derrubado por ordem da Promotoria de Rosario. A escolha desse bunker foi porque ele é um emblema em um bairro marcado pela violência. Pelo menos duas gerações do clã Funes estiveram à frente desse ponto de venda de drogas.

Leila Schmitt foi presa e acusada de ameaçar os operários, que abandonaram as ferramentas e fugiram diante da mulher que é uma narcotraficante influente na zona. Na audiência, foi estabelecido que ela deveria pagar uma fiança de $400 mil, dinheiro arrecadado em poucas horas de venda de drogas em La Tablada.

Um mês depois, ela foi presa novamente. E desta vez não foi por uma ameaça, mas por estar ligada a um duplo homicídio, pelo menos inicialmente. Os assassinatos ocorreram em 13 de fevereiro nesse bairro, onde foram executados o taxista José Luis Assale, de 63 anos, e o passageiro que ele transportava, Carlos Uriel Acosta, de 21. O alvo, segundo a investigação, era o homem mais jovem, mas os atacantes não hesitaram em matar o motorista.

Não demorou muito até que ela fosse presa novamente. Em 13 de maio, em várias batidas, foi encontrado entre os escombros do bunker da família Funes, na Ayacucho ao 4300, um galão de gasolina, que teria sido usado para semear terror em Rosario e manter o medo entre a população após a sequência de quatro homicídios que abalaram a cidade no início de março.

Nos ataques incendiários, assim como nos assassinatos dos dois taxistas, do motorista de ônibus e do frentista do posto de gasolina, foram encontradas ameaças contra o governador de Santa Fé, Maximiliano Pullaro, e a ministra de Segurança da Nação, Patricia Bullrich, e seu homólogo provincial, Pablo Coccoccioni. Funes é um homem próximo a Esteban Alvarado, de quem se suspeita ser a mente por trás desses atentados, que o governo classificou como "narcoterroristas".

Na audiência, o promotor Socca acusou Schmitt, juntamente com Elisabet Aguirre e Carlos Cavallari, de ordenar e planejar o incêndio de 23 carros na rua durante três dias, em 27 de abril, 3 de maio e 12 do mesmo mês.

O promotor contou que mais de 4 mil placas de carros foram analisadas por câmeras de segurança para identificar os supostos autores, que, segundo testemunhas, se movimentavam em um Fiat Fiorino.

O juiz Hernán Postma ordenou a prisão preventiva dos três acusados. Também atendeu ao pedido de Socca de suspender todas as visitas a Schmitt – exceto de suas filhas – e as comunicações.

Ontem, por ordem do Ministério Público da Acusação, três casas precárias na zona norte de Rosario, que até pouco tempo funcionavam como bunkers, foram demolidas. A operação foi realizada em Leonardo Fabio e Pizzurno, na zona norte de Rosario, onde o promotor regional de Rosario, Matías Merlo, explicou que os pontos de venda de drogas que começaram a ser demolidos “eram lugares em torno dos quais se geravam atos de violência altamente lesivos”.

Nesse caso, como em outros que foram investigados anteriormente, revela-se que em torno dessas casas ocorreram graves delitos como tiroteios e homicídios.

— Há vários anos esses pontos estavam em operação e, desde 2023, estavam registrados por relatórios da Justiça Federal. Também realizamos um total de 14 batidas, das quais quatro estavam relacionadas a esses pontos de venda — afirmou Merlo.