Internacional
Associated Press denuncia que Israel apreendeu seus equipamentos e cortou sua transmissão ao vivo de Gaza
Ministério da Comunicação alega que agência americana violou nova de lei de imprensa ao fornecer imagens do enclave palestino à agência al-Jazeera; AP pede que decisão seja revertida
A agência de notícias americana The Associated Press (AP) denunciou, nesta terça-feira, que autoridades israelenses apreenderam uma câmera e equipamento de transmissão da agência e cortaram sua transmissão ao vivo em Gaza, sob a justificativa de que teria violado uma nova lei de imprensa ao fornecer imagens do enclave palestino à rede al-Jazeera — que também teve sua transmissão suspensa no início deste mês devido à medida. A ação provocou protestos de parlamentares israelense, de agências e ONGs voltadas para a imprensa, da ONU, e da Casa Branca, que classificaram a medida como "terrível" e "preocupante".
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A AP disse que funcionários do Ministério da Comunicação apreenderam sua câmera e equipamento de transmissão em um local na cidade israelense de Sderot, com vista para o norte da Faixa de Gaza. Em uma publicação, a agência afirmou que os agentes entregaram um pedaço de papel assinado pelo ministro Shlomo Karhi alegando a violação do texto. Ela também afirma que teria recebido ordens verbais na quinta-feira passada para encerrar a transmissão ao vivo, o que a organização se recusou a fazer.
"A Associated Press condena veementemente as ações do governo israelense para cortar nossa transmissão ao vivo que há muito tempo mostrava Gaza e confiscar equipamentos da AP", afirmou em comunicado, acrescentando que o corte "não foi devido ao conteúdo da transmissão, mas sim ao uso abusivo, por parte do governo israelense, da nova lei de radiodifusão estrangeira do país." A agência instou as autoridades israelenses a devolverem seu equipamento e a permitirem o restabelecimento de sua transmissão ao vivo imediatamente.
Proposta pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e pelo ministro das Comunicações, a lei — aprovada no Parlamente israelense em abril — permite ao governo suspender a transmissão da al-Jazeera. Na época, o premier afirmou que a rede "prejudicou a segurança de Israel, participou ativamente no massacre de 7 de outubro e incitou contra os soldados das Forças Armadas de Israel" e que era "hora de retirar o porta-voz do Hamas do país". O texto recebeu o apoio de 71 parlamentares, enquanto dez se opuseram.
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O Ministério das Comunicações de Israel acusou a AP de violar a lei ao fornecer as imagens de Gaza à al-Jazeera e disse que seus inspetores "confiscaram o equipamento" por ordem aprovada pelo governo "de acordo com a lei". A pasta disse em um comunicado que a agência de notícias americana fazia regularmente imagens de Gaza a partir da varanda de uma casa em Sderot, "inclusive focando nas atividades dos soldados das FDI (Forças Armadas) e na sua localização".
A pasta confirmou a primeira chamada, mencionada e rejeitada pela agência, e afirmou que "continuará a tomar todas as medidas coercivas necessárias para limitar as transmissões que prejudicam a segurança do Estado."
Pouco antes de ter o seu material apreendido, a agência transmitia uma visão geral do norte de Gaza e afirmou respeitar as regras de censura militar israelense, que proíbem a transmissão de detalhes, como o movimento de tropas que possam colocar seus soldados em risco. "A filmagem ao vivo geralmente mostra fumaça subindo sobre o território", escreveu a agência em uma publicação.
'Ataque à liberdade de imprensa'
Internamente, o líder da oposição israelense, Yair Lapid, afirmou que o governo "enlouqueceu". Em uma publicação no X (antigo Twitter), afirmou que a Associated Press "não é a al-Jazeera", mas "um meio de comunicação americano que ganhou 53 prêmios Pulitzer”.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse aos repórteres no avião do presidente Joe Biden que “obviamente isso é preocupante e queremos investigar isso”. Mais tarde, um porta-voz da Casa Branca afirmou que está conversando "diretamente" com o governo israelense para "expressar nossa preocupação com essa ação e pedir que ela seja revertida".
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Em reação, as Nações Unidas (ONU) criticaram duramente a decisão de Israel.
— Francamente, é algo terrível — disse Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres. — A Associated Press deveria poder fazer seu trabalho livremente e sem restrições.
O diretor de notícias globais da Agence France-Presse (AFP), Phil Chetwynd, disse que a decisão de Israel foi “um ataque à liberdade de imprensa”. Em um comunicado, Chetwynd afirmou que "o livre fluxo de informações e imagens verificadas de fontes confiáveis é vital no atual contexto altamente carregado” e instou que as autoridades israelenses revertam "imediatamente" a decisão e permitam que os jornalistas da agência trabalhem "livremente e sem obstáculos".
A Associação de Imprensa Estrangeira (FPA, na sigla em inglês) em Israel disse estar “alarmada” com o confisco do equipamento da AP. “A medida tomada hoje por Israel é uma ladeira escorregadia”, afirmou em um comunicado, alertando que poderia levar ao bloqueio da cobertura de outras agências internacionais de notícias sobre Gaza. A FPA em Israel também denunciou o histórico "sombrio" de Tel Aviv em matéria de liberdade de imprensa durante o conflito em Gaza.
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No índice de liberdade de imprensa de 2024 publicado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Israel ficou em 101º lugar entre 180 países. "Depois de proibir a al-Jazeera, Israel vai atrás da AP. RSF denuncia a apreensão da câmera de uma agência de notícias e o encerramento de uma transmissão ao vivo que mostrava uma vista de Gaza... Isso é uma censura ultrajante", publicou a organização no X (antigo Twitter).
Relação al-Jazeera x Israel
A al-Jazeera, com sede no Catar, foi retirada do ar em Israel no início deste mês, depois que o governo de Netanyahu votou pelo seu encerramento devido à sua cobertura da guerra de Gaza. Os escritórios da agência catari em Jerusalém foram fechados, o seu equipamento confiscado e o credenciamento retirado da sua equipe. Na semana passada, autoridades israelenses confiscaram equipamentos de transmissão do estúdio da al-Jazeera na cidade árabe de Nazaré, no norte de Israel.
Desde o início do conflito, a agência catari, um dos poucos canais internacionais que transmite ao vivo de Gaza durante a guerra, tem sido criticada por parlamentares israelenses de diferentes espectros políticos por uma suposta agenda anti-Israel. No ano passado, no entanto, o governo impediu tentativas de fechar o canal de notícias para evitar atrapalhar os esforços de mediação do Catar nas negociações com o Hamas.
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O fechamento do canal no início deste mês ocorreu em meio à troca de acusações sobre o impasse em relação a um novo cessar-fogo, que seguem paralisadas, e em um momento de crescimento da pressão popular sobre Netanyahu quanto ao modo como lidou com a guerra e à demora para libertar os reféns que continuam em Gaza.
A guerra no enclave palestino eclodiu após o ataque do Hamas contra o sul israelense em 7 de outubro, que resultou na morte de 1,2 mil pessoas, a maioria civis, e fez cerca de 250 pessoas reféns — 124 dos quais permanecem em Gaza, incluindo 37 que o Exército de Israel afirma estarem mortos. A represália levada a cabo por Israel, por sua vez, já matou mais de 35,5 mil pessoas em Gaza, a maior parte mulheres e menores, de acordo com o Ministério da Saúde do enclave.
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