Internacional
Perfil de Trump publica vídeo que fala em 'reich unificado'; Campanha culpa funcionário, mas não retira peça do ar
Material audiovisual, que equipe do ex-presidente diz não ser peça de campanha, mostra imagens de hipotéticas matérias de jornal celebrando sua vitória nas eleições, com estética do período do pós-Primeira Guerra
O ex-presidente dos EUA Donald Trump postou um vídeo em suas redes sociais, na tarde de segunda-feira, que apresenta imagens de hipotéticas matérias de jornal celebrando sua vitória nas eleições americanas de 2024, referindo-se à “criação de um reich unificado”, sob o título “O que vem a seguir para a América?”. A campanha do presidente culpou um funcionário pela publicação do vídeo, mas não removeu o conteúdo imediatamente do ar.
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O vídeo de 30 segundos, que o perfil de Trump na rede social Truth Social publicou, apresenta várias matérias com estilo de jornais do início de 1900 – e aparentemente reciclando textos de reportagens sobre a Primeira Guerra Mundial, incluindo referências à “força industrial alemã” e “ paz através da força.” Um artigo no vídeo afirma que Trump deportaria 15 milhões de migrantes em um segundo mandato, enquanto o texto na tela lista os dias de início e fim da Primeira Guerra Mundial.
Outra manchete do vídeo sugere que o republicano, em um segundo mandato, rejeitaria os “globalistas”, usando um termo que tem sido amplamente adotado na extrema direita e que os acadêmicos dizem que pode ser usado como um sinal de antissemitismo.
A campanha de Trump disse em comunicado que o vídeo foi postado por um membro da equipe enquanto o ex-presidente estava em seu julgamento criminal na cidade de Nova York. O vídeo ainda estava em sua conta na noite de segunda-feira, e a equipe não respondeu a uma pergunta sobre por que não havia sido removido.
"Este não foi um vídeo de campanha, foi criado por uma conta on-line aleatória e republicado por um funcionário que claramente não viu a palavra, enquanto o presidente estava no tribunal", disse Karoline Leavitt, porta-voz da campanha, em um comunicado. "O verdadeiro extremista é Joe Biden".
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Trump denunciou repetidamente os judeus que votam nos democratas, acusando-os de odiar a sua religião e Israel. Em um outro vídeo neste mês, ele disse que “se o povo judeu vai votar em Joe Biden, terá de ter a cabeça examinada”.
Trump, cujos assessores têm elaborado planos para um segundo mandato que seria mais radical do que o primeiro, também atraiu críticas durante esta campanha por ecoar a linguagem de líderes autoritários do passado, desumanizando os seus adversários políticos, chamando-os de “vermes”, e prometendo que iria não ser um ditador “exceto no primeiro dia”.
Em novembro de 2022, Trump jantou com Nick Fuentes, um antissemita declarado que é um dos mais proeminentes supremacistas brancos do país. Ele também tentou minimizar a violenta marcha de Charlottesville, em 2017, descrevendo o episódio como “uma grande farsa”. Uma mulher morreu e quase 40 pessoas ficaram feridas quando um neonazista confesso jogou seu carro contra uma multidão.
O termo “reich” é frequentemente associado ao governo nazista da Alemanha, que sob Adolf Hitler estabeleceu um “Terceiro reich”. Os dois primeiros seriam o Sacro Império Romano medieval e o Império Alemão de 1871-1918, que perdeu a Primeira Guerra Mundial para as potências aliadas.
A frase referente à “criação de um reich unificado” é usada três vezes no vídeo. Lê-se, na íntegra, “a força industrial alemã aumentou significativamente depois de 1871, impulsionada pela criação de um reich unificado”. No início do vídeo, quando um locutor pergunta: “O que vem a seguir para a América”, o texto é parcialmente visível, incluindo as palavras “a criação de um reich unificado”.
O Império Alemão que lutou na Primeira Guerra Mundial foi fundado quando muitos estados e regiões de língua alemã foram unificados — alguns pela força — em uma única e poderosa nação em 1871. Esse império foi desmantelado no final da Primeira Guerra Mundial, e Hitler alimentou o ressentimento contra a perda dos antigos territórios alemães e contra o povo judeu, ao subir ao poder no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.
A campanha de Biden acusou Trump de fazer eco à Alemanha nazista ao publicar o anúncio, afirmando em uma declaração nas redes sociais que o vídeo “prenunciava um segundo mandato de Trump”.
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