Internacional

Justiça britânica decide hoje se concede último recurso a Julian Assange contra sua extradição para os EUA

Assange enfrenta nos Estados Unidos uma sentença de 175 anos de prisão por publicar desde 2010 mais de 700.000 documentos classificados sobre atividades militares e diplomáticas americanas

Agência O Globo - 20/05/2024
Justiça britânica decide hoje se concede último recurso a Julian Assange contra sua extradição para os EUA

A justiça britânica decide nesta segunda-feira se concede a Julian Assange um último recurso para evitar sua extradição para os Estados Unidos, país que deve primeiro oferecer garantias sobre o tratamento que o fundador do WikiLeaks receberia.

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Em 26 de março passado, os juízes britânicos solicitaram às autoridades americanas que garantissem que o australiano de 52 anos, caso seja extraditado, terá o direito à Primeira Emenda da Constituição, que protege a liberdade de expressão, e que não seria condenado à pena de morte.

Caso a resposta dos Estados Unidos não convença o Supremo Tribunal de Londres, Assange poderá apelar da extradição concedida em junho de 2022 pelas autoridades e pela justiça britânica.

Se as garantias americanas forem consideradas satisfatórias pelo tribunal britânico nesta segunda-feira, Assange ainda poderá apresentar um último recurso ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH).

O fundador do WikiLeaks teria um prazo de duas semanas para apresentar este recurso perante o tribunal europeu antes que a extradição se torne efetiva, segundo seus advogados.

Assange enfrenta nos Estados Unidos uma sentença de 175 anos de prisão por publicar desde 2010 mais de 700.000 documentos classificados sobre atividades militares e diplomáticas americanas, especialmente relacionadas ao Iraque e ao Afeganistão.

Entre eles está um vídeo que mostra civis mortos por tiros de um helicóptero de combate americano no Iraque, em julho de 2007.

Desconfiança de seus próximos

O atual editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, afirmou na semana passada que os processos judiciais britânicos relacionados à extradição de Assange são "corruptos" e estão "manipulados".

"Sei que são palavras duras que costumamos usar para os tribunais de países não europeus, não de países ocidentais, mas cheguei à conclusão de que é absolutamente o caso. Isso é corrupção institucional, a nível judicial. Julian Assange é um prisioneiro político, está muito claro", disse o islandês.

A esposa de Julian Assange, Stella, não discordou do editor-chefe do WikiLeaks.

"Não espero um resultado racional dos tribunais. Tenho alguma esperança de que façam o que é certo e que Julian ganhe no final? Claro que tenho que ter alguma fé de que isso pode acontecer. E espero que sim. Mas tenho observado o que aconteceu nos últimos cinco anos (desde sua prisão no Reino Unido) e acredito que a análise de Kristinn seja sólida", explicou Stella Assange.

Em 10 de abril passado, uma janela de esperança se abriu para Assange, quando o presidente americano, Joe Biden, disse que seu país "está considerando" a solicitação da Austrália para retirar as acusações de espionagem contra o fundador do WikiLeaks.

"Estamos considerando", respondeu Joe Biden à pergunta de um jornalista sobre se haveria uma resposta americana à solicitação australiana, sem dar mais detalhes.

Risco de suicídio

Assange foi preso pela polícia britânica em 2019, após passar sete anos na embaixada equatoriana em Londres para evitar sua extradição para a Suécia por um caso de suposta violação arquivado no mesmo ano.

Para os apoiadores de Assange, o australiano expôs irregularidades no exército americano e sua batalha legal representa uma luta pela liberdade de imprensa.

Por sua vez, Washington argumenta que Assange e o WikiLeaks colocaram vidas em perigo ao publicar documentos que incluíam nomes de fontes de inteligência.

Nas últimas semanas, familiares e próximos de Assange, que está há cinco anos na prisão de segurança máxima de Belmarsh, em Londres, têm alertado para o deterioro de sua saúde.

"Todas as avaliações psiquiátricas concluíram que há um risco de suicídio", disse sua esposa Stella na quarta-feira passada.

Sua defesa também alertou durante as diferentes audiências sobre o risco de suicídio em caso de extradição.