Internacional
Zelensky alerta para intensificação da ofensiva russa contra Kharkiv e rejeita proposta de 'trégua olímpica'
Líder ucraniano diz ter apenas "25%" das defesas aéreas necessárias, e quer o envio de até 130 caças ocidentais; Putin diz que não quer conquistar Nordeste do país

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, alertou que a ofensiva russa no Nordeste do país, e que parece ter Kharkiv, segunda maior cidade ucraniana, como alvo deve se intensificar nos próximos dias, mas que a situação está “sob controle”. Ao mesmo tempo, ele cobrou mais apoio dos países ocidentais, e rejeitou uma trégua no período das Olimpíadas de Paris, em julho.
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Em entrevista à AFP, publicada na sexta-feira, Zelensky afirmou que a Rússia está lançando “ondas” contra a região de Kharkiv, conquistando vilarejos e atacando de forma incessante a cidade. Segundo o governador local, quase 10 mil pessoas foram retiradas de áreas de conflito, um número que deve aumentar nos próximos dias. Contudo, o líder ucraniano pareceu confiante em suas forças.
— Eles deram inicio à operação. Ela consistiria em várias ondas. Houve a primeira onda e a situação está sob controle. Eles estão a cinco, dez quilômetros da fronteira, no ponto onde os barramos. Não diria que foi um grande sucesso para eles, mas precisamos ser sóbrios e entender que eles estão entrando em nosso território — disse Zelensky. — Eles querem atacar, mas entendem que é difícil, Kharkiv é uma cidade grande, e sabem que temos forças que lutarão por muito tempo.
Localizada a algumas dezenas de quilômetros da fronteira e com uma grande parcela da população etnicamente russa, Kharkiv era um objetivo da ofensiva inicial da Rússia, em fevereiro de 2022. As tropas de Moscou chegaram a entrar nos subúrbios da cidade, mas se retiraram em meio a uma grande mudança no cenário de operações, que incluiu também um recuo dos militares que estavam nos arredores de Kiev. Os mísseis jamais deixaram de cair na cidade, e milhares de pessoas abandonaram suas casas desde então.
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Oficialmente, a Rússia do presidente Vladimir Putin diz que não quer conquistar Kharkiv , mas sim criar uma espécie de “zona tampão” perto da fronteira.
— Isso [ofensiva russa] que está acontecendo ao redor de Kharkiv também é culpa deles [ucranianos]. Porque eles têm atacado e continuam atacando áreas próximas à fronteira, incluindo Belgorod — disse Putin na sexta-feira, durante viagem à China. — E eu disse publicamente que se isso continuar, seremos forçados a criar uma zona segura, uma zona sanitária, e é o que estamos fazendo.
Zelensky conversou com a AFP em um dos momentos mais difíceis da guerra: a demora no envio de ajuda ocidental, o baixo número de novos recrutas e as dificuldades para treiná-los a tempo, além da construção de capacidades ofensivas russas permitiu uma das mais bem sucedidas ofensivas russas no Leste e Nordeste ucranianos. Para o presidente ucraniano, um ponto fraco crítico neste momento é a quase incapacidade de suas forças para impedir os ataques aéreos não apenas em Kharkiv, mas em praticamente todas as áreas do país.
— Acredito que hoje tenhamos apenas 23% do que precisamos para defender a Ucrânia, e estou falando em sistemas de defesa aérea — afirmou Zelensky. — Sobre as aeronaves, eu digo abertamente que, para que a Rússia não tenha a superioridade aérea, nossa frota deveria ter entre 120 e 130 aeronaves modernas. Nós precisamos de caças F-16, justamente para chegar a essa paridade.
Promessa de países como os EUA, a entrega dos caças enfrenta obstáculos técnicos, como a pouca familiaridade dos pilotos ucranianos com os modelos ocidentais, e políticos, em especial o temor do governo de Joe Biden de intensificar as tensões com os russos. Biden amenizou essa objeção, mas ainda não deu um prazo para fornecer as aeronaves a Kiev.
Na conversa, Zelensky cobrou um papel mais ativo da China nas negociações para o fim do conflito. No mês que vem, cerca de 50 países se reunirão na Suíça para uma conferência de paz, mas Pequim não estará presente (tampouco a Rússia, que não foi convidada).
— [Os líderes chineses] têm um certo sentimento de que se a Rússia perder a guerra, não será uma derrota para a Rússia, mas sim uma vitória para os EUA. Uma vitória do Ocidente, e eles querem encontrar um equilíbrio, por isso eu gostaria de vê-los envolvidos na Cúpula de Paz [da Suíça] — disse o líder ucraniano. — Eles têm influência sobre a Rússia, e quanto mais países tivermos do nosso lado, mais a Rússia terá que lidar com isso.
Ele também acusou os países ocidentais de “terem medo da Rússia perder a guerra”, mas ao mesmo tempo “não desejarem que a Ucrânia perca” no campo de batalha, e rejeitou qualquer possibilidade de aceitar a proposta feita pelo presidente da França, Emmanuel Macron, de uma trégua durante os Jogos Olímpicos de Paris, em julho.
— Eu disse: “Emmanuel, não podemos acreditar nisso, em fingir que haverá algum tipo de cessar-fogo”. Em primeiro lugar, nós não confiamos em Putin. Segundo, ele não vai retirar suas tropas — afirmou o presidente. — Eu também disse a ele: “quem pode garantir que a Rússia não usará esse período para levar tropas ao nosso território?”. Somos contra uma trégua que vá beneficiar o inimigo.
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