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Vídeo: Líder da China abraça Putin, uma rara expressão de afeto que dá recado aos EUA; entenda

Viagem de presidente russo à China tem como objetivo mostrar que ele tem amigos poderosos apesar do isolamento em relação ao Ocidente causado por sua guerra contra a Ucrânia

Agência O Globo - 17/05/2024
Vídeo: Líder da China abraça Putin, uma rara expressão de afeto que dá recado aos EUA; entenda

O presidente russo, Vladimir Putin, visitou nesta sexta-feira Harbin, uma cidade chinesa com passado russo, no segundo dia de uma viagem à China cujo objetivo é mostrar que ele tem amigos poderosos apesar do isolamento em relação ao Ocidente causado por sua guerra contra a Ucrânia. A visita à cidade ocorreu um dia depois de um encontro com o líder chinês, Xi Jinping, que pareceu orquestrado para transmitir não só o alinhamento estratégico anti-Ocidental dos dois líderes poderosos e autocráticos, mas também uma ligação pessoal.

A mídia estatal mostrou Putin e Xi, sem gravata, passeando sob salgueiros e tomando chá em um pavilhão tradicional no amplo terreno de Zhongnanhai, o complexo murado da liderança em Pequim, apenas com seus intérpretes após a reunião de quinta-feira. Mais tarde, ao se despedir de Putin, Xi até iniciou um abraço — uma rara expressão de afeto para o líder chinês.

— O abraço muito deliberado de Xi e Putin diante das câmeras não foi apenas para enfatizar a proximidade da relação política entre os dois países e seus líderes — disse Richard McGregor, pesquisador sénior para a Ásia Oriental no Instituto Lowy, em Sydney. — Houve também um toque de desdém dirigido a Washington, que tem pressionado Pequim a retirar o apoio a Moscou. Isso claramente não vai acontecer de forma substantiva.

A demonstração de camaradagem foi o toque final de um encontro que culminou em uma declaração conjunta que tinha como alvo os EUA, acusados por Putin e Xi de tentar reprimir seus países. A declaração prometia que a Rússia e a China trabalhariam mais estreitamente em setores críticos como o de energia, espacial e militar.

Embora a China e a Rússia não sejam aliados formais comprometidos a se defender militarmente, suas forças armadas têm trabalhado mais estreitamente nos últimos anos, com exercícios militares conjuntos, incluindo perto do Alasca e de Taiwan, a ilha autônoma reivindicada por Pequim. E, embora a China tenha prometido não fornecer armas letais à Rússia, tem sido seu principal fornecedor de componentes como semicondutores e ferramentas de máquinas para utilização tanto civil quanto militar.

Mas Putin ainda procura acesso a ferramentas mais sofisticadas sob esses crescentes laços de segurança entre os dois países detentores de armas nucleares, um ponto focal de sua visita a Harbin.

O Instituto de Tecnologia de Harbin é mais conhecido por sua pesquisa de foguetes, mísseis e tecnologia espacial — conhecimentos especializados dos quais a Rússia se beneficiaria enormemente, uma vez que a guerra na Ucrânia reavivou a sua necessidade de um complexo militar-industrial mais robusto. O instituto também treinou cientistas norte-coreanos que trabalharam no programa de armas nucleares de Pyongyang, segundo o The Wall Street Journal e a mídia sul-coreana.

A visita de Putin ao instituto é repleta de simbolismo. A instituição de 103 anos abriu recentemente um campus conjunto com a Universidade Estadual de São Petersburgo, a alma mater do líder russo. E, em uma espécie de afronta a Washington, faz parte da chamada lista de entidades dos Estados Unidos, impedindo-a de acessar a tecnologia americana e participar de intercâmbios educacionais devido às suas ligações com o Exército de Libertação Popular da China.

— Devemos nos preocupar menos com as tecnologias específicas que a China pode estar compartilhando com a Rússia em Harbin ou em qualquer outro lugar do que com o padrão e o aviso mais amplos que essa visita representa — disse Markus Garlauskas, especialista em segurança do Atlantic Council, um laboratório de ideias baseado em Washington. — A China não precisou receber Putin em Harbin para transferir tecnologias de lá para a Rússia. O fato de essa visita ter ocorrido de forma tão aberta é um sinal visível e simbólico de que Pequim está disposta a fornecer tecnologia diretamente aplicável a fins militares para apoiar a guerra da Rússia contra a Ucrânia.