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'A situação é muito séria': em Kharkiv, alvo de ofensiva russa, Zelensky cobra mais armas do Ocidente

Presidente ucraniano afirma que 'não pode se dar ao luxo' de perder a segunda maior cidade do país; governo acusa tropas da Rússia de executarem civis

Agência O Globo - 16/05/2024
'A situação é muito séria': em Kharkiv, alvo de ofensiva russa, Zelensky cobra mais armas do Ocidente
Volodymyr Zelensky - Foto: Fonte: Agência Brasil

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, visitou nesta quinta-feira a cidade de Kharkiv, segunda maior do país e que está sob intenso bombardeio de forças da Rússia, que dão sinais de que pretendem expandir a linha de frente para a área. Para Zelensky, a situação é “muito difícil”, e a Ucrânia "não pode se dar ao luxo" de perder sua segunda maior área urbana.

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Após reunião com comandantes militares na região, ele disse que os esforços neste momento estão voltados ao fortalecimento das unidades que tentam repelir os avanços russos. Em entrevista à rede americana ABC, em um hospital de Kharkiv, o presidente ucraniano cobrou mais armas do Ocidente.

— Tudo que precisamos são dois sistemas [de defesa aérea] Patriot. A Rússia não será capaz de ocupar Kharkiv se tivermos esses equipamentos — disse Zelensky, dizendo que os recentes avanços militares russos são resultado da demora na entrega de armas prometidas pelos aliados ocidentais.

Embora o ritmo dos avanços russos em direção a Kharkiv tenha reduzido, de acordo com o mais recente relatório produzido pelo Instituto para o Estudo da Guerra, as tropas seguem ocupando áreas próximas a Kharkiv, que esteve perto de ser ocupada nos primeiros dias de conflito, mas que tem resistido nesses quase dois anos e meio de invasão.

— Nossas forças estão impedindo que os invasores ganhem terrenos em algumas áreas da região Norte de Kharkiv — afirmou em entrevista a uma TV local o coronel Nazar Voloshyn, que atua nas operações de defesa na área. — Os avanços do inimigo em algumas regiões foi interrompido. Contudo, o inimigo está tentando garantir as condições para maiores avanços e garantir posições de vantagem.

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Devido à proximidade da cidade da fronteira com a Rússia, as forças de Moscou seguem lançando mísseis, causando vítimas e abalando as linhas defensivas — daí a cobrança específica de Zelensky por sistemas de defesa aérea, como o Patriot.

— A situação é muito séria. Não podemos nos dar ao luxo de perder Kharkiv — disse o presidente ucraniano à ABC.

Nesta quinta-feira, o ministro do Interior ucraniano, Ihor Klymenko, acusou as forças russas de sequestrar e executar civis nos arredores de Kharkiv, no que, para ele, seria mais um exemplo de crimes de guerra cometidos por Moscou.

“Eles começaram a sequestrar as pessoas e as levar para porões”, disse Klymenko, em publicação no Telegram. “Um dos moradores de Vovchansk tentou escapar a pé, se recusou a seguir as ordens dos invasores e foi morto pelos russos.”

Os representantes militares russos não comentaram as acusações.

'É culpa do mundo'

Apesar das cobranças recorrentes aos aliados ocidentais, Zelensky evita um tom mais crítico em suas entrevistas desde o início da invasão russa. Mas na conversa com a ABC, o líder ucraniano não se esforçou em esconder a insatisfação com o que vê como demora no envio de munições, armas e demais equipamentos. No mesmo período, a Rússia de Putin incrementou sua capacidade de produção militar, e firmou parcerias com Irã e, especialmente, Coreia do Norte, que tem enviado munições e foguetes para o front de forma constante.

— É culpa do mundo. Eles deram a [Vladimir] Putin a oportunidade de ocupar. Mas agora o mundo pode ajudar — afirmou.

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No caso americano, foram meses até que o Congresso aprovasse um pacote de US$ 61 bilhões em ajuda militar, no mês passado, um dinheiro que, embora nominalmente seja considerável, pode não ser suficiente caso a guerra se estenda por mais alguns meses…ou anos. Para rebater as críticas feitas por muitos americanos e políticos de todos os campos políticos americanos, Zelensky afirmou que os bilhões de dólares prometidos pela Casa Branca vão, no final das contas, beneficiar os próprios EUA.

— O dinheiro não está sendo dado à Ucrânia. Ele é gasto em fábricas americanas, cria empregos americanos, e não estamos apenas lutando pela nossa liberdade. Se não fosse a Ucrânia, seria outro país — concluiu à ABC.