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Primeiro-ministro da Eslováquia está estável após cirurgia de cinco horas, mas quadro ainda é 'grave'

Robert Fico foi alvo de cinco tiros enquanto cumprimentava um grupo de pessoas em Handlova, após uma reunião de gabinete; autoridades eslovacas falam em 'ataque político'

Agência O Globo - 16/05/2024
Primeiro-ministro da Eslováquia está estável após cirurgia de cinco horas, mas quadro ainda é 'grave'
Primeiro-ministro da Eslováquia está estável após cirurgia de cinco horas, mas quadro ainda é 'grave' - Foto: Reprodução/internet

O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, alvo de uma tentativa de assassinato na tarde de quarta-feira, está em condição estável, mas seu quadro permanece "muito grave", anunciou o vice-primeiro-ministro Robert Kalinak nesta quinta-feira. Os cirurgiões passaram cinco horas na sala de operação durante a noite operando o político de 59 anos, que está "lutando pela própria vida". Também nesta quinta, as autoridades eslovacas pediram calma e a suspensão da campanha eleitoral da União Europeia (UE).

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— Os médicos conseguiram estabilizar o paciente durante a noite — afirmou Kalinak, que também é ministro da Defesa, em uma entrevista coletiva diante do hospital Roosvelt de Banska Bystrica, na região central do país. — Infelizmente, o estado de saúde ainda é muito grave porque os ferimentos são complexos.

A diretora do hospital, Miriam Lapunikova, disse que Fico foi submetido a uma cirurgia de cinco horas, e que a unidade dispunha de duas equipes cirúrgicas operando o premier. Ela confirmou um quadro "realmente grave" e disse que o premier permanecerá na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Robert Fico foi atingido por cinco tiros na tarde de quarta-feira, após sair de uma reunião de gabinete em Handlova, no centro da Eslováquia. Um disparo atingiu seu abdômen e outro, uma articulação no braço. Ele foi levado para um hospital da cidade e depois transferido de helicóptero para outra unidade, onde foi submetido à cirurgia.

Segundo Kalinak, o ataque de quarta foi um "ataque político" e é necessário reagir. A tentativa de assassinato também alimentou os temores de uma polarização maior ou até mesmo de mais violência, poucas semanas antes das eleições para o Parlamento Europeu, que ocorrerão em junho. A expectativa é de que os partidos de extrema direita obtenham ganhos neste pleito.

'Pode não ser o último'

A política da Eslováquia tem sido dividida há anos entre os campos pró-europeus e os nacionalistas, com as últimas eleições fortemente influenciadas pela desinformação, acusações mútuas e ataques nas redes sociais.

— Estou pedindo a todos os partidos políticos da Eslováquia que suspendam temporariamente ou reduzam consideravelmente sua campanha eleitoral europeia — disse o presidente eleito da Eslováquia, Peter Pellegrini, aos repórteres.

Pellegrini, aliado de Fico que assumirá o cargo em junho, disse que a Eslováquia deveria evitar “novos confrontos” em uma declaração conjunta com a presidente que está deixando o cargo, Zuzana Caputova. Os dois políticos representam campos políticos rivais, mas Caputova disse que eles queriam “enviar um sinal de compreensão nessa situação tensa”, enquanto ela pedia o fim do “círculo vicioso do ódio”.

Na visão do analista político Miroslav Radek, o ataque corre o risco de causar “mais radicalização de indivíduos e políticos na Eslováquia”.

— Temo que esse ataque possa não ter sido o último — disse Radek à AFP.

'Ameaça sem precedente à democracia'

As imagens registradas logo após o tiroteio mostraram agentes de segurança retirando Fico, ferido, do chão e o levando para um veículo preto. Ao mesmo tempo, alguns policiais algemavam um homem na calçada. Segundo a imprensa eslovaca, o suspeito do ataque é um escritor de 71 anos.

— Não tenho a menor ideia do que meu pai estava pensando, o que estava planejando ou a motivação — disse o filho do suspeito ao site de notícias eslovaco aktuality.sk.

Pellegrini disse ter ficado "horrorizado" ao saber do ataque contra seu aliado. "Uma tentativa de assassinato contra o titular de um dos principais cargos constitucionais é uma ameaça sem precedentes à democracia eslovaca", acrescentou na rede social X (antigo Twitter).

O atentado provocou uma grande comoção no país do centro da Europa e uma onda de condenações internacionais, com declarações vindas dos líderes da Ucrânia, apesar das relações complicadas com o país, Rússia, EUA, França, Espanha, Polônia, República Tcheca, Reino Unido e das autoridades do bloco da União Europeia (UE).

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, condenou veemente "o ataque vil". "Esses atos de violência não cabem em nossa sociedade e violam a democracia, nosso bem comum mais precioso", afirmou.

Também houve reações da América Latina. O governo do Brasil expressou consternação e repúdio ao ataque, e o Chile condenou "toda forma de violência que atente contra a democracia".

Relações com a Ucrânia

Além de seu atual mandato como primeiro-ministro, Fico também esteve à frente do governo em outros dois períodos, entre 2006 e 2010 e de 2012 a 2018.

Desde a sua última eleição, em outubro, o premiê fez uma série de comentários que enfraqueceram os laços entre a Eslováquia e Ucrânia, ao defender uma solução negociada com a Rússia pelo fim da guerra.

Quando ele foi eleito, a Eslováquia parou de enviar armas para a Ucrânia, que enfrenta uma invasão russa desde 2022. Durante a campanha eleitoral, ele prometeu que não forneceria a Kiev "uma única bala".

Apesar das relações complicadas, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, condenou o que chamou de ato de violência contra o chefe de Governo "do Estado parceiro vizinho".

O presidente russo, Vladimir Putin, classificou o ataque como um "crime hediondo", descrevendo Fico como "um homem corajoso e decidido".

Fico também provocou protestos em massa devido às suas mudanças controversas, incluindo uma lei de Comunicação que, segundo os críticos, prejudicará a imparcialidade da rádio e da televisão públicas.