Internacional
Dois mortos e centenas de feridos após protestos no território francês da Nova Caledônia; Macron pede calma
Os protestos começaram na segunda-feira, quando a Assembleia Nacional, a Câmara dos Deputados francesa, começou a debater em Paris uma reforma do censo eleitoral
Duas pessoas morreram e centenas ficaram feridas no território francês da Nova Caledônia, cenário de distúrbios desde segunda-feira, provocados pelos protestos dos independentistas contra uma reforma do censo eleitoral, anunciaram nesta quarta-feira (15) as autoridades locais. Após a segunda noite de distúrbios, o gabinete do Alto Comissário – representante do Estado francês – Louis le Franc anunciou que duas pessoas morreram, sem informar as circunstâncias dos óbitos.
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Centenas de pessoas ficaram feridas, incluindo vários policiais e agentes das forças de segurança, afirmou o ministro do Interior da França, Gérald Darmanin.
Os protestos começaram na segunda-feira, quando a Assembleia Nacional, a Câmara dos Deputados francesa, começou a debater em Paris uma reforma do censo eleitoral, aprovada na madrugada desta quarta-feira. O Senado já havia aprovado a mudança.
Atualmente, apenas os eleitores registrados em 1998 e seus descendentes podem participar nas eleições provinciais do arquipélago de 270.000 habitantes. Os independentistas nativos consideram que a ampliação do censo deve marginalizar ainda mais o povo Kanak nas instituições provinciais, que têm amplas atribuições transferidas por Paris.
Após a primeira noite de graves distúrbios, com incêndios, saques e tiros contra a polícia, as autoridades do território decretaram um toque de recolher, proibiram reuniões públicas e fecharam escolas e o principal aeroporto.
Porém, "os graves problemas de ordem pública prosseguem, com incêndios e saques de estabelecimentos comerciais, infraestruturas e estabelecimentos públicos, incluindo várias escolas", admitiu nesta quarta-feira o Alto Comissário.
— Imagine o que aconteceria se as milícias começassem a atirar contra pessoas armadas — disse Le Franc, que citou uma situação "insurrecional" no arquipélago.
O representante do Estado francês anunciou um balanço de 140 detenções na região de Noumea, a cidade mais importante do território.
Macron pede calma
Os protestos não impediram o avanço do processo parlamentar em Paris, mas, por tratar-se de uma reforma constitucional, a medida também deve ser submetida à votação conjunta das duas câmaras e obter mais de 60% de apoio para ser aprovada em definitivo.
O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que convocará esta sessão "antes do final de junho", exceto se os independentistas da Nova Caledônia e os partidários da permanência em França aprovarem uma reforma alternativa.
Em uma carta, Macron condenou o "caráter indigno e inaceitável" dos distúrbios. Também pediu aos representantes locais que condenem a violência sem ambiguidade e façam um apelo por calma.
A oposição de direita pediu ao governo que decrete estado de emergência.
Localizado 1.200 quilômetros ao leste da costa da Austrália, este arquipélago é um dos muitos territórios que a França têm no Pacífico, no Oceano Índico ou no Caribe.
Graças ao acordo de Noumea de 1998, Paris delegou mais poder político à Nova Caledônia e já permitiu a organização de três referendos, todos com derrotas para a proposta de independência.
Os nativos kanak boicotaram o último referendo, em 2021, por ter sido convocado durante a pandemia de covid.
O acordo de Noumea também congelou o censo para as eleições provinciais no território, nas quais não podem votar quase 20% dos eleitores.
Por considerar o dispositivo "absurdo" e contrário aos princípios democráticos, o governo francês propôs uma reforma constitucional para incluir as pessoas estabelecidas na Nova Caledônia há pelo menos 10 anos.
Os independentistas kanak temem que a ampliação beneficie os partidos próximos ao governo de Paris e reduza sua influência.
O líder do partido pró-independência, Daniel Gao, condenou os saques e pediu aos jovens que retornem para casa.
Mas ele fez um alerta: "Os distúrbios das últimas 24 horas mostram a determinação dos nossos jovens de não permitir que a França os controle".
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