Economia
CVM cria site falso para mostrar como brasileiro é suscetível a golpe financeiro. E metade clica
Experimento feito em parceria com Anbima prometia retorno alto e rápido em criptoativos. Dos que visitaram a página, 48% tentaram fazer negócio. Entidades alertam para os riscos

Quase metade dos brasileiros está sujeita a cair em golpes financeiros. A conclusão é de um experimento feito pela Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Para alertar a população sobre o cuidado com fraudes, os órgãos criaram um site falso que oferecia retorno alto e rápido ao investir em criptomoedas.
A página da corretora fictícia — que ficou no ar durante quatro meses do segundo semestre de 2023 — ainda continha outras características que poderiam levantar desconfiança em investidores mais atentos, como erros de português, falta de informação sobre o CNPJ da empresa, dados divergentes e incentivo a pirâmide financeira.
Mesmo assim, 48% dos visitantes únicos foram seduzidos pela promessa de lucro fácil, o equivalente a 49 mil pessoas.
Ao serem fisgados pela armadilha, os investidores recebiam um alerta e eram direcionados a um site educativo que as instituições colocam no ar com orientações para evitar casos semelhantes.
'Isso é feito de maneira massificada'
Marcelo Billi, superintendente de Sustentabilidade, Inovação e Educação da Anbima, diz que qualquer pessoa está sujeita a cair em golpes financeiros, já que os criminosos que aproveitam da falta de atenção das vítimas:
— Não tem a ver com grau de instrução, renda, capacidade cognitiva. Isso é feito de maneira massificada. As pessoas podem ser pegas em um momento de vulnerabilidade, seja por receber uma oferta que se encaixa muito na vida dela ou em um dia em que estão correndo, fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Tendemos a acreditar em propostas que, em tese, resolveriam algum problema que temos.
Uma outra pesquisa da CVM, porém, revelou que 91% das vítimas de golpes financeiros são homens. A maioria (36,5%) tem entre 30 e 39 anos, renda familiar mensal entre 2 e 5 salários-mínimos (23%) e possui pós-graduação (38%). E as criptomoedas são o produto de investimento mais citado pelas vítimas de golpes financeiros, sendo mencionadas por 43,3% dos respondentes.
— Cerca de 41% dos brasileiros são imediatistas. Para se proteger, não tome nenhuma decisão sobre o destino do seu dinheiro correndo, sem refletir, sem conversar com pessoas e profissionais que você confia. Só esfriar a cabeça já ajudaria a evitar o maior número de golpes — recomenda Billi.
A iniciativa foi inspirada em países asiáticos, que costumam fazer esse tipo de teste com a população. É a segunda vez que a Anbima e a CVM fazem esse tipo de experimento para medir o nível de vulnerabilidade dos investidores brasileiros. Na primeira edição, que ocorreu antes da pandemia, 49% dos que acessaram seriam vítimas em potencial.
Até o dia 19 de maio, as instituições realizam a 11ª edição da Semana Nacional de Educação Financeira, a Semana Enef, com diversas iniciativas gratuitas de instituições públicas e privadas para a disseminação da educação financeira.
— A CVM busca alcançar, por meio da educação financeira, especialmente o público economicamente vulnerável. É importante despertarmos o interesse público e o engajamento em torno de iniciativas como essa como forma de ampliar sua disseminação, alcançando de fato aqueles que mais precisam: os cidadãos comuns — comenta Nathalie Vidual, Superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores (SOI) da CVM.
Como evitar cair em golpes financeiros?
Desconfie de...
Promessas de lucros altos ou ganhos gigantes em curto prazo.
Informações distorcidas ou insuficientes
Pouca informação sobre a empresa ofertante, o produto, o serviço, o suposto negócio ou o investimento
Para se proteger:
Confira o CNPJ das empresas, procurando informações sobre a sua atuação no mercado.
Verifique se uma instituição é participante do mercado de capitais através da consulta gratuita da CVM. A Anbima também conta com uma lista pública de empresas associadas e aderentes aos seus códigos de autorregulação.
O que fazer se for vítima?
Ao ser vítima de uma fraude, Luis Mauro Moura, supervisor do Núcleo Bancário da Nelson Wilians Advogados, diz que o primeiro passo é comunicar ao seu banco. A chance de reembolso, segundo ele, é grande caso a tomada de decisão seja rápida.
Veja as dicas do advogado:
Para os golpes que envolvem o Pix, solicite o bloqueio cautelar, que é um bloqueio preventivo dos recursos pelo prazo de até 72 horas para que haja tempo de análise da notícia de fraude indicada pela vítima;
Faça Boletim de Ocorrência nas autoridades policiais;
No caso de pirâmide financeira, reúna toda a documentação que puder: conversas em Whatsapp, comprovantes de depósito, e-mails trocados, contrato assinado (se houver). Faça Boletim de Ocorrência e apresente a um advogado para abrir uma ação judicial;
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