Internacional
Israel atacou ao menos 8 operações humanitárias em Gaza mesmo com aviso prévio de organizações, aponta relatório
Documento divulgado pela Human Rights Watch indica que 31 pessoas morreram ou ficaram feridas em ataques lançados pelo lado israelense desde outubro
As Forças Armadas de Israel atacaram comboios e instalações de organizações humanitárias que atuam na Faixa de Gaza ao menos oito vezes desde outubro. É o que aponta um relatório apresentado pela Human Rights Watch (HRW) nesta terça-feira. O observatório de direitos humanos afirma que os ataques, que mataram ou feriram 31 pessoas, foram autorizados mesmo com o aviso prévio das organizações, que repassaram as coordenadas de suas operações às autoridades israelenses.
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A divulgação do relatório da HRW ocorre em um momento de particular pressão sobre Israel em razão da crise humanitária em Gaza. Mediadores que tentam auxiliar em uma saída para o conflito dizem que as negociações sobre um cessar-fogo e troca de prisioneiros estagnaram após o começo da ação militar contra a cidade de Rafah, enquanto aliados criticaram ações dentro do território israelense para impedir a entrada de ajuda humanitária no enclave palestino.
“[Os dados obtidos pelo relatório revelam] falhas fundamentais no chamado sistema de resolução de conflitos, destinado a proteger os trabalhadores humanitários e permitir-lhes prestar com segurança assistência humanitária que salva vidas em Gaza”, indicou o relatório da HRW, que acrescenta ainda que mais de 250 trabalhadores humanitários morreram no território desde o início da guerra.
Em meio aos ataques, as vítimas não envolvidas diretamente com o conflito se acumulam. A ONU comunicou a morte de um membro dos serviços de segurança da organização em um ataque israelense na segunda-feira.
O funcionário, de nacionalidade indiana, estaria em um veículo identificado com os símbolos da ONU, quando foi atingido. As Nações Unidas disseram ter informado que as coordenadas foram informadas ao comando militar israelense, que abriu uma investigação preliminar. Inicialmente, os militares disseram que o veículo estaria em uma área ativa de conflito.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, exigiu uma investigação completa sobre o caso, ainda na segunda-feira, exigindo a responsabilização dos culpados pelo ataque.
O caso guarda alguma semelhança com um outro ataque, que foi disparado a partir de um drone contra um comboio da ONG americana World Central Kitchen (WCK), que distribuía refeições aos palestinos. Sete trabalhadores humanitários morreram no ataque, que posteriormente foi investigado por Israel. O Estado judeu assumiu a culpa pelo caso e puniu militares que autorizaram o ataque.
Bloqueio de comboios
Em meio à ofensiva contra Rafah e à retomada de combates no norte de Gaza, integrantes da comunidade internacional denunciaram o que apontaram como tentativas de Israel de bloquear a ajuda humanitária enviada à população civil palestina. O Catar, um dos mediadores que atuam nas negociações com o Hamas, afirmou que nenhuma ajuda humanitária entra no enclave desde o dia 9 de maio.
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— Os nossos irmãos na Faixa de Gaza não recebem qualquer ajuda desde 9 de maio, e isto é uma indicação da perpetuação da catástrofe humanitária na Faixa de Gaza — disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores catari, Majed al Ansari, em uma conferência de imprensa em Doha.
Na segunda-feira, autoridades dos Estados Unidos e da Alemanha condenaram um ataque promovido por civis israelenses a um comboio de ajuda humanitária que seguia em direção a Gaza, a partir da Jordânia. Manifestantes, que disseram protestar pela libertação dos reféns israelenses, bloquearam os caminhões após cruzarem o posto de controle de Tarqumiyah, entre Israel e Cisjordânia. Imagens gravadas no local mostram pessoas arrancando dos veículos e jogando-os na estrada.
Os manifestantes alegaram que os itens chegariam às mãos do Hamas, o que dificultaria a libertação dos reféns. A mídia israelense informou que os ativistas eram membros do Tsav 9, um grupo que bloqueou repetidamente caminhões de ajuda humanitária com destino à Faixa de Gaza.
— É um ultraje total que haja pessoas atacando e saqueando esses comboios — afirmou o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, em entrevista coletiva na segunda-feira. — Também estamos expressando nossas preocupações ao mais alto nível do governo israelense e é algo sobre o qual não escondemos. Este é um comportamento completa e totalmente inaceitável.
O Embaixador da Alemanha em Israel, Steffen Seibert, também condenou o vandalismo em uma publicação no X (antigo Twitter): "Atafar caminhões de ajuda e impedir que os alimentos cheguem aos necessitados é vergonhoso. E certamente não ajudará a causa israelense de libertar os reféns e proteger o país contra o terror do Hamas".
A polícia de Israel disse ter aberto uma investigação sobre o ataque ao comboio. Em um comunicado, as autoridades falaram em “perturbação da ordem pública” e disse ter “aberto uma investigação que resultou na prisão de vários suspeitos”. (Com AFP)
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