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Prisões por droga, por pensão, na ditadura e depoimento em investigação de morte: as vezes em que Paulo César Pereio se envolveu com a polícia

Ator morreu no último domingo (12), após tratar uma doença hepática avançada

Agência O Globo - 13/05/2024
Prisões por droga, por pensão, na ditadura e depoimento em investigação de morte: as vezes em que Paulo César Pereio se envolveu com a polícia
Prisões por droga, por pensão, na ditadura e depoimento em investigação de morte: as vezes em que Paulo César Pereio se envolveu com a polícia - Foto: Reprodução/internet

Paulo César Pereio tinha personalidade forte, foi um ícone da rebeldia e não escondia esse lado. O ator, que morreu no último domingo (12), aos 83 anos, dedicou mais de 50 anos ao cinema e protagonizou uma série de outros trabalhos na TV. Na vida pessoal, se envolveu em algumas polêmicas e chegou a afirmar em seu documentário, "Peréio, eu te odeio" (2013): "Não sou mal-educado, eu sou escroto mesmo".

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O artista foi casado por 15 anos com Cissa Guimarães, com quem teve dois filhos, Tomáz e João Velho. Em 1994, Pereio foi preso por não pagar a pensão dos meninos para a ex-mulher. Na época, ele contou que estava impossibilitado de trabalhar por ter sofrido um acidente de carro e que a atriz tinha mais condições de arcar com as despesas das crianças. "Ela pode segurar essa encrenca. A quantia é alta, mas mesmo que o valor seja este não tenho como levantar o dinheiro", disse ele na ocasião.

O valor que o artista devia era em torno de R$ 30 mil. Depois de negociações, ele deixou a cela que ocupou por quase uma semana na 19ª DP (Tijuca), na Zona Norte do Rio de Janeiro, tendo que pagar 10% do valor da pensão atrasada. Em 2009, o ator disse em entrevista para a revista "Trip": "Eu acho que ela (Cissa) tinha toda razão. O motivo da prisão é que eu não estava pagando a pensão para as crianças. Na ocasião eu tive um acidente e perdi quase todos os meus dentes. Naquela época eu estava cuidando de mim".

A relação entre Pereio e Cissa, no entanto, se manteve boa e com carinho ao longo dos anos. A atriz ia visitá-lo no Retiro dos Artistas — onde o artista morava desde 2020 — e também deixou sua homenagem no último domingo, lamentando a morte do ex-marido: "Pereio, grande amor da minha vida, te sinto e te tenho nos nossos 'sucedâneos', Thomaz e João, que você pediu tanto para mim! Te agradeço, meu amor, por tanto aprendizado e amor. Eu era uma menina e você me mostrou o mundo e o amor pelo nosso ofício".

Essa, no entanto, não foi a primeira vez que o ator se envolveu com a polícia. Dez anos antes, em 1984, ele e outros seis integrantes do filme "Noite" foram autuados em flagrante por porte de cocaína e maconha em um hotel em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O grupo ficou 17 horas na delegacia. Na época, Pereio se declarou inocente e foi absolvido do processo.

Cinco anos depois desse episódio, o ator precisou depor na delegacia sobre a morte da cantora mineira Telma Costa, que nos anos 70 participou de gravações e shows de vários artistas, como Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e lançou apenas um disco, em 1983. Pereio foi uma das pessoas que estiveram no apartamento da artista no dia em que ela morreu, uma das últimas pessoas a vê-la viva.

A causa da morte foi dada como infarto. Na ocasião, Pereio contou que foi convidado para participar de um jantar com mais duas pessoas (uma amiga e o namorado da cantora) e, depois, todos foram ao hotel onde a artista estava. Ele disse ainda que o grupo bebeu uísque e que Telma não havia consumido drogas naquela noite.

Em 1976, Pereio precisou ir a uma delegacia por ter usado uma farda da Polícia Militar durante as gravações do filme "A queda". Ele representava um sargento da PM no longa, prestou esclarecimentos e foi liberado.

Durante a ditadura militar no Brasil, o artista ficou preso por oito dias na Operação Bandeirantes. Em entrevista para a "Trip", ele contou que o fato aconteceu quando o embaixador americano, Charles Elbrick, foi sequestrado, em 1969. Sobre o motivo, ele contou: "Eles me perguntavam isso. Eu dizia: 'Não sei, eu não sei, eu estava no Gigetto (restaurante tradicional de São Paulo) e fui preso'".

Despedida a Paulo César Pereio

Pereio estava internado no Hospital Casa São Bernardo, no Rio de Janeiro, tratando uma doença hepática avançada. Ele foi levado para a unidade durante a madrugada de domingo (12), já em estado grave, e morreu horas depois.

A administradora do Retiro dos Artistas, Cida Cabral, contou ao EXTRA que Pereio quebrou o fêmur há duas semanas, realizou uma cirurgia e tudo correu bem. No entanto, disse ela, o artista "já vinha tendo complicações". A administração do Retiro está em contato com o hospital para saber mais informações sobre a causa da morte.

Pereio dedicou mais de 50 anos ao cinema, além de ter realizado também outros tantos trabalhos na televisão, como as novelas "Duas caras" (2007), "Roque Santeiro" (1985) e "A viagem" (1994). Além dos dois filhos com Cissa Guimarães, o ator deixa outros dois filhos, Gabriel e Lara.

Além de Cissa, outros famosos estiveram recentemente no Retiro visitando os artistas que vivem por lá. Maitê Proença e o diretor de cinema Bruno Barreto foram alguns deles.