Internacional
Puigdemont apela à 'soberania catalã' e tenta formar governo regional sem a participação de socialistas
Líder independentista catalão convocou siglas regionais a não se aliarem aos socialistas, que venceram as eleições, e apoiarem um governo de minoria
O líder independentista da Catalunha, Carles Puigdemont, anunciou nesta segunda-feira que tentará formar um governo regional separatista e de minoria, após o seu partido, o Junts pela Catalunha, ficar em segundo lugar nas eleições regionais. É a primeira vez em uma década que o movimento separatista catalão não conquista maioria no parlamento regional, com o Partido Socialista, do primeiro-ministro Pedro Sánchez, conquistando a maioria das cadeiras em disputa.
Contexto: Socialistas vencem eleições regionais na Catalunha e independentistas perdem maioria após uma década
Negociação nacional: Carles Puigdemont exige anistia a independentistas catalães para apoiar formação de governo na Espanha
— Acreditamos que há boas opções de investidura e, portanto, [quero] anunciar minha intenção de apresentar minha candidatura à presidência [da Catalunha] — disse Puigdemont em um coletiva de imprensa em Argelès-sur-Mer, no sul da França, onde montou sua base de operação eleitoral em meio ao exílio.
O Partido Socialista conquistou 42 cadeiras no parlamento regional catalão, nove a mais do que na eleição anterior. O Junts, de Puigdemont, ficou em segundo, com 33 cadeiras. A Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), sigla separatista que atualmente governa a região, obteve 20 cadeiras, 13 a menos do que em 2021, quando empatou na liderança com os socialistas. Nenhuma das siglas sozinha, ou em aliança simples com o 3º colocado, alcança as 68 cadeiras necessárias para conseguir maioria no parlamento.
É diante da margem de negociação que Puigdemont pretende atuar para garantir a liderança. Ao lado de líderes do Junts, o político catalão convocou a ERC a abandonar a ideia de um acordo tripartite com os socialistas e “construir um governo sólido de soberania claramente catalã". Além da união com o ERC, do atual presidente regional Pere Aragonès, a coalizão projetada por Puigdemont pretende agregar também o CUP, partido independentista de extrema esquerda, que conquistou apenas quatro assentos. O total seria de apenas 59 parlamentares.
Nacionalmente, as siglas catalãs apoiaram o governo socialista de Sánchez, após as eleições de julho do ano passado, quando o Partido Popular (PP), de centro-direita, ganhou a maioria dos assentos no parlamento, mas não a maioria necessária para governar. O apoio foi costurado com a promessa de um projeto de anistia para independentistas com processos judiciais, que deve beneficiar Puigdemont.
As opções fora de um acordo tripartite, incluindo os socialistas, são pouco prováveis ou também minoritários. O PP e Vox, sigla de extrema-direita, conquistaram 26 cadeiras somados, mas não são alianças possíveis para nenhum dos partidos envolvidos na disputa. As outras duas siglas que conquistaram assentos no Parlamento, mesmo parte do movimento independentista, não dialogam abertamente com as principais siglas, não têm cadeiras suficientes para formar maioria e são de extrema-direita.
Ao longo da campanha eleitoral, a mensagem de Junts girou em torno de “restaurar” a figura do autodeclarado “presidente legítimo” Puigdemont — que fugiu para a Bélgica em 2017 para evitar ser julgado por sua participação na organização de um referendo separatista. A estratégia do tudo ou nada foi concebida para ganhar votos em todo o espectro pró-independência, para além do grupo tradicional de eleitores de Junts, o que não teve o impacto esperado.
Puigdemont chegou a prometer que se aposentaria da política se fracassasse nas eleições. Mas, na segunda-feira, apareceu para dizer que tinha mais chances do que o socialista Salvador Illa de formar um governo, insistindo que o resultado das urnas não foi uma derrota decisiva.
— Temos potencialmente mais opções de uma investidura — argumentou. (Com AFP e El País).
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