Internacional
Guerra em Gaza: mortos ultrapassam 35 mil, e secretário-geral da ONU pede 'cessar-fogo' imediato
UNRWA estimou que cerca de 300 mil civis em Rafah se deslocaram desde a primeira ordem do Exército israelense, em 6 de maio

Mais de 35 mil palestinos foram mortos no conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde do enclave neste domingo. Os combates completaram sete meses na semana passada, e tampouco dão sinal de trégua: além dos combates e bombardeios espalhados pelo território, Tel Aviv tem ampliado suas ordens para deslocamento de civis na cidade de Rafah, extremo sul. Nesta última semana, cerca de 300 mil civis foram deslocados, informou a Agência da ONU para Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês). Frente à escalada, o secretário-geral da ONU instou um cessar-fogo "imediato", a libertação dos reféns mantidos em cativeiro e o aumento da entrada de ajuda no território palestino.
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De acordo com as autoridades sanitárias de Gaza, controlada pelo Hamas desde 2007, só nas últimas 24 horas morreram 63 pessoas. Ao todo, são 35.034 mortos, sendo mulheres e menores de idade as principais vítimas. Além disso, o conflito também deixou mais de 78,6 mil feridos. Em discurso em vídeo durante uma conferência internacional de doadores no Kuwait, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que um cessar-fogo "seria apenas o começo".
"Será um longo caminho para se recuperar da devastação e do trauma desta guerra", afirmou.
No sábado, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que um cessar-fogo poderia ser alcançado “amanhã” se o Hamas libertasse os reféns mantidos em Gaza desde 7 de outubro, quando o grupo lançou um ataque terrorista contra o sul de Israel, que deixou 1,2 mil mortos e fez cerca de 250 sequestrados. Segundo autoridades israelenses, 128 ainda permanecem em cativeiro no enclave, incluindo 36 mortos. Mas, apesar da mediação dos EUA, Egito e Catar, as negociações para um novo acordo para a troca entre reféns e prisioneiros palestinos, a partir de uma trégua, seguem estagnadas.
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Correspondentes da AFP, testemunhas e médicos disseram que ataques aéreos israelenses atingiram partes do norte, centro e sul de Gaza durante a noite e até a manhã deste domingo. Os militares israelenses confirmaram, por sua vez, que seus jatos atingiram “mais de 150 alvos terroristas em toda a Faixa de Gaza” no último dia. Em Rafah, o hospital do Kuwait disse que recebeu os corpos de “18 mártires” mortos em ataques israelenses nas últimas 24 horas.
'Não há lugar seguro'
Apesar da pressão internacional e das tentativas de dissuasão de seu principal aliado, os EUA, Israel disse que seguirá com seu plano em Rafah. No início da semana, em uma mensagem de que a ofensiva está em preparação, militares israelenses ordenaram o deslocamento de civis e tomaram o posto fronteiriço da cidade, que separa Gaza do Egito, substituindo bandeiras palestinas por israelenses.
Com a tomada do posto, o fluxo de entrada de ajuda humanitária secou quase totalmente no enclave, segundo a ONU. Segundo a diretora de comunicações da UNRWA, desde 6 de maio, apenas seis caminhões de farinha e pouco combustível chegaram por Kerem Shalom, que tinha sido fechada após a morte de quatro soldados em um ataque no domingo.
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No sábado, os militares ampliaram uma ordem de deslocamento para o leste de Rafah e disseram que 300 mil palestinos deixaram a área, estimativa semelhante à da UNRWA, que denunciou, em uma publicação no X (antigo Twitter) neste domingo, o “deslocamento forçado e desumano de palestinianos” que “não têm nenhum lugar seguro para ir” em Gaza. O alerta foi reforçado neste domingo pelo alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Turk.
Em um comunicado, Turk afirmou que as ordens do Exército de Israel "afetam perto de um milhão de pessoas em Rafah. Então, para onde deveriam ir agora? Não há lugar seguro em Gaza!" A cidade, pobre até para os padrões do enclave palestino, abrigava 250 mil pessoas em seus 65 km², população que aumentou para quase 1,5 milhão — mais da metade dos 2,3 milhões habitantes do enclave — com o deslocamento forçado pelo conflito.
"Essas pessoas exaustas e famintas, muitas das quais já foram deslocadas muitas vezes, não têm boas opções", observou o alto comissário da organização, destacando que uma ofensiva em grande escala poderia ter um “impacto catastrófico... incluindo a possibilidade de novos crimes atrozes”.
Volker destacou que não consegue ver como "as últimas ordens de deslocamento, muito menos um ataque total, numa área com uma presença extremamente densa de civis, poderiam ser conciliadas com os requisitos vinculativos do direito humanitário internacional e com os dois conjuntos de medidas provisórias vinculativas ordenadas pela Corte Internacional de Justiça."
Palestinos se preparam
Os palestinos em Rafah, muitos deslocados pelos combates em outras partes do território, empilharam tanques de água, colchões e outros pertences em veículos e se prepararam para fugir novamente.
— Os bombardeios de artilharia não pararam [por vários dias] — disse Mohammed Hamad, de 24 anos, que saiu do leste de Rafah para o oeste da cidade à AFP. — Não nos moveremos até sentirmos que o perigo está avançando para o oeste. Não há nenhum lugar seguro em Gaza onde possamos nos refugiar.
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Os moradores foram orientados a ir para a “zona humanitária” de al-Mawasi, na costa a noroeste de Rafah, embora grupos de ajuda tenham alertado que ela não estava preparada para um fluxo de pessoas. No sábado, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse nas redes sociais que os civis de Rafah estavam sendo mandados para “zonas inseguras”, denunciando isso como “inaceitável”.
Hisham Adwan, porta-voz da autoridade de travessias de Gaza, disse à AFP neste domingo que o posto fronteiriço da cidade permaneceu fechado desde que as tropas israelenses tomaram seu lado palestino na terça, “impedindo a entrada de ajuda humanitária” e a saída de pacientes que precisam de cuidados médicos. Ele disse que as forças israelenses “avançaram da fronteira leste” cerca de 2,5 km em Rafah.
No cruzamento de Kerem Shalom, local de vários confrontos, o exército disse que interceptou dois lançamentos disparados contra o cruzamento a partir de Rafah.
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