Cidades
Prefeitura de Maragogi e startup se unem para regenerar corais afetados pelo branqueamento
Termo de Cooperação é assinado para instalação de base de regeneração e do Programa de Restauração Recifal
A Prefeitura de Maragogi e a Biofábrica de Corais – Startup de Biotecnologia e Restauração de Ecossistemas Recifais – se uniram para regenerar e tentar salvar os corais existentes na costa do município, localizado no Litoral Norte de Alagoas e integrante da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais.
Colônias inteiras sofrem, sobretudo, com o branqueamento provocado pelo aquecimento oceânico e a consequente morte desses organismos, dentre outros danos.
Para tentar reverter essa situação, foi firmado o Termo de Cooperação, assinado pelo prefeito de Maragogi, Fernando Sérgio Lira, e pelo CEO da Biofábrica de Corais, Rudã Fernandes. O acordo prevê a instalação de uma base de restauração de corais e a implantação do Programa de Restauração Recifal, no município.
“A perspectiva da Biofábrica de Corais em Maragogi é montar uma base de restauração e, com isso, fazer o trabalho de transplantação de corais, como também de educação ambiental e de integração, a médio prazo, com o turismo”, explica Fernandes, engenheiro de pesca com doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Termo de Cooperação foi assinado no dia 26 de abril, em Maragogi (foto: Severino Carvalho)De acordo com ele, o trabalho é semelhante ao já realizado pela startup em Porto de Galinhas, no município turístico de Ipojuca, em Pernambucano. Lá o processo de restauração de corais começou a ser desenvolvido em 2016. Desde então, foram obtidos resultados positivos, a exemplo do crescimento de 40%, em 90 dias, da espécie Millepora alcicornis e crescimento de 200%, em 150 dias, da espécie Mussismilia harttii.
Metodologia
Com metodologia e abordagem próprias, com pedido de patente acerca das tecnologias empregadas, o processo de restauração consiste na coleta de corais enfermos, tombados no fundo do mar. Esses organismos são fragmentados e dispostos em mesas de cultivo.
Eles crescem saudáveis nos berçários durante meses. Após esta etapa, são transplantados a um ambiente degradado para que atue na recuperação da biodiversidade e repovoe a área. Os corais abrigam cerca de 65% dos peixes, favorecem a economia, por meio do turismo; protegem a costa de efeitos adversos como ventos, tempestades e o avanço do mar, dentre outros benefícios.
Reprodução / fonte : Biofábrica de CoraisComo a iniciativa busca integrar as atividades científicas às econômicas em prol da restauração recifal, num segundo momento os turistas que desembarcarão em Maragogi serão incentivados a contribuir com o processo de recuperação da biodiversidade.
Isso já acontece em Porto de Galinhas, onde o “bioturista” participa das experiências regenerativas proporcionadas pela Biofábrica de Corais. Ele se torna “cientista por um dia” e pode até adotar um coral.
“Se a comunidade não tiver senso de pertencimento, não adianta a gente investir um mundo para salvar os corais, que são o nosso maior produto e que eu posso chamar até de floresta, uma floresta subaquática”, ponderou o prefeito Sérgio Lira, quando da assinatura do Termo de Cooperação, no dia 26 de abril.
Na oportunidade, foram lançados pela Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Seturde) outros dois projetos: o Roteiro de Turismo de Experiência em São Bento e o Cadastro Único Digital dos Prestadores de Serviços Turísticos de Maragogi.
“Vamos aproveitar a nossa rede de contatos com Brasília para tentar reverter essa situação e dá percentual dessa arrecadação do ICMS Verde, de maneira perene, para incentivar pesquisas, exemplo da startup da Biofábrica de Corais”, acrescentou o prefeito de Maragogi.
Em Porto de Galinhas, processo de restauração de corais começou a ser desenvolvido em 2016 (foto: Filipe Cadena)O CEO da Biofábrica, entretanto, afirma que o trabalho em Maragogi é ainda mais desafiador, em comparação a Porto de Galinhas, devido à dimensão da área afetada pelo processo de branqueamento dos corais.
“Existem diversos pesquisadores fazendo vários mapeamentos aqui na região. Fiz um mergulho recente em um pequeno trecho de Maragogi. Exemplares das espécies Millepora alcicornis e Millepora braziliensis (espécies de coral-de-fogo), mais de 90% do que eu vi, já estavam mortos, e os 10% restantes, branqueados. Então é um desafio bastante grande restaurar todos esses recifes de coral”, observou.
Estudo
Estudo realizado por pesquisadores do Peld Costa dos Corais Alagoas e Projeto Conservação Recifal (PCR), publicado na Frontiers in Marine Science, revela uma alta mortalidade de corais que chega em até 50% no caso de algumas espécies.
Conforme, o estudo, um conjunto recifal na costa de Maragogi registrou, em 2020, o maior acúmulo de estresse por calor da série histórica, que data de 1985, quando a metodologia de medição foi criada e os monitoramentos começaram.
Em mergulho recente, Fernandes identificou o branqueamento dos corais em MaragogiO DHW (degree heating week), unidade que mede esse estresse, atingiu o nível 12 em maio de 2020 – quando marcações acima de 4 costumam causar branqueamento de 30% a 40% dos corais afetados.
Fernandes espera iniciar as atividades em Maragogi ainda neste semestre. Passo importante para começar os trabalhos foi dado com a assinatura do Termo de Cooperação.
Licença
Para desenvolver o projeto na APA Costa dos Corais – maior Unidade de Conservação Federal Marinha e Costeira do Brasil – Fernandes explica que a Biofábrica teve de receber a anuência do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio do SISBIO – sistema de atendimento à distância que permite a pesquisadores solicitarem autorizações para coleta de material biológico e para a realização de pesquisa em unidades de conservação federais e cavernas.
Biofábrica proporciona experiências por meio do turismo regenerativo (foto: Filipe Cadena)“Já temos a licença para fazer o trabalho de transplantação. Também submetemos a Biofábrica ao Conselho de Turismo e de Meio Ambiente do Município, que também aprovaram. Plantar corais, restaurar a natureza, é um processo caro e demorado. Então pra gente poder iniciar o trabalho era necessário esse Termo de Cooperação para determinar os canais de recursos que vão financiar a operação e iniciar”, concluiu.
Turismo regenerativo
Para a assessora de Promoção Turística e Sustentabilidade do Costa dos Corais Convention & Visitors Bureau (CCC&VB), a bióloga Roberta Carvalho, fomentar ações de recuperação dos corais é fundamental para a conservação desses ecossistemas recifais, ambientes fundamentais para o meio ambiente e o turismo da Costa dos Corais, que se utiliza deles como atrativos turísticos para atrair visitantes à região e desenvolver a economia local.
“Os recifes de coral do planeta vêm enfrentando diversas ameaças nos últimos anos, principalmente relacionadas ao aquecimento global e ao branqueamento, que podem levá-los à morte”, observou Roberta.
“Poder contar com o trabalho de startups como a Biofábrica de Corais para a restauração destes ambientes é essencial para recuperação e a conservação recifal, além de destacar uma outra forma de turismo, o regenerativo, um mecanismo de engajamento da sociedade para a cultura oceânica e emergência climática, colaborando com o desenvolvimento sustentável de umas das regiões mais importantes para o turismo nacional e que encontra-se dentro de uma das principais unidades de conservação do Brasil, a APA Costa dos Corais”, acrescentou.
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