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Catálogo atualizado de Frans Post e mostras sobre invasões na Bahia e em Pernambuco, no século XVII, relembram Brasil Holandês
Considerado o primeiro artista europeu a retratar a América, Post passa por valorização nas últimas décadas

Considerado o primeiro artista europeu a retratar, com impacto em sua época, as paisagens do continente americano, Frans Post (1612-1680) desembarcou em Pernambuco em 1637. Era um entre os mais de sete mil homens a bordo de 67 navios que invadiram Recife e Olinda sob o comando de Maurício de Nassau.
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Nos sete anos em que viveu no Brasil, pintou 18 quadros, dos quais apenas sete são hoje conhecidos. Mas os registros do Novo Mundo levados para a Europa se transformaram na base de mais de uma centena de obras que criou até 1669. Sua produção é reunida no catálogo raisonné assinado por Pedro e Bia Corrêa do Lago, recém-lançado pela Capivara em edição atualizada que traz novas obras: dois óleos e 34 desenhos da fauna brasileira, descobertos em 2014.
Além disso, a presença holandesa no Nordeste brasileiro, de 1624 até 1654, quando tropas luso-brasileiras retomaram o controle da região, é tema de duas exposições: “Os holandeses no Brasil”, inaugurada semana passada no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), em Salvador, e “1654”, prevista para abrir nos próximos meses no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), no Recife.
A vinda de Post e outros nomes com a missão artístico-científica holandesa, a exemplo de Albert Eckhout e Georg Marcgraf, integra um episódio maior, a invasão ao Nordeste brasileiro, cuja primeira incursão completou 400 anos dia 9 de maio. De 1624 a 1625, as forças holandesas ocuparam Salvador, o porto mais movimentado da América do Sul, importante entreposto no comércio de açúcar e escravizados. Após a expulsão pelas tropas coloniais, os holandeses saquearam a Bahia em 1627, antes de investir contra Pernambuco, em 1630.
Pesquisador do Instituto Flávia Abubakir e um dos curadores da mostra no IGHB, o historiador Pablo Iglesias Magalhães destaca a importância da chegada dos holandeses além das fronteiras brasileiras.
— A conquista da Bahia é um dos primeiros episódios de repercussão realmente global. Manuscritos e impressos sobre o fato chegaram até a Ásia, a Europa Oriental— observa Magalhães. —Já havia episódios de disputas coloniais no Brasil, as invasões francesas no Rio (1555) e no Maranhão (1612). A diferença foi a proporção da chegada dos holandeses, que ocuparam por quase um ano a então capital da colônia, e não uma região periférica.
A chegada dos holandeses à capitania de Pernambuco, em 1630, foi um empreendimento custeado com o apoio da Companhia das Índias Ocidentais. Em 1637, a vinda do então conde e futuro príncipe Maurício de Nassau para governar o Brasil Holandês trouxe uma inédita presença da alta nobreza europeia à colônia. Além de transformar o vilarejo do Recife em um centro urbano, construir a primeira ponte da América Latina e pavimentar ruas, Nassau observou a importância de registrar o Novo Mundo para a Europa a partir do olhar de cientistas e artistas.
— Via de regra, eram nobres falidos que se arriscavam a fazer a vida na América. O que não era o caso do Nassau, primo-irmão do rei da Dinamarca, então com 23 anos. Ele não veio numa simples expedição. Ficou oito anos no Brasil, construiu um palácio que era a casa mais sofisticada das Américas na época — contextualiza Pedro Corrêa do Lago, escritor, historiador e editor do catálogo. — Não era só levar à frente uma conquista econômica e militar, ele era um nobre culto que viu ali uma oportunidade extraordinária de gerar conhecimento, que seria importante para valorizá-lo entre seus contemporâneos europeus.
Neste contexto, Post, com 24 anos ao chegar a Pernambuco, começa a pintar vistas da natureza, elementos urbanos e da população, incluindo negros e indígenas. Das 18 pinturas feitas no Brasil entre 1637 e 1644, ano de seu regresso, apenas sete são conhecidas. Quatro estão no Museu do Louvre, em Paris (dadas por Nassau em 1679 a Luiz XIV, da França); uma no Rijksmuseum, em Amsterdã; uma na Coleção Cisneros; e outra na coleção do Instituto Ricardo Brennand, no Recife.
Na separação por fases da carreira de Post estabelecida por Pedro e Bia Corrêa do Lago, adotada internacionalmente pelo mercado e instituições, as obras feitas no Brasil corresponderia a um primeiro momento, seguido de outros três. A segunda etapa compreende as obras produzidas entre 1645 a 1660, nos primeiros 15 anos de retorno à Holanda; a terceira, entre 1661 e 1669, é o momento de maior popularidade; e a quarta, de 1670 a 1680 (ano de sua morte), é quando problemas de saúde e o alcoolismo levaram ao declínio de sua produção.
— Post esteve a serviço de Nassau no Brasil. Mas também acumulou uma série de registros que levaria à Europa para trabalhos posteriores — observa Pedro. — Tudo indica que, na volta à Holanda, sua clientela era de pessoas que também estiveram no Brasil e queriam registros do que haviam visto. Na fase seguinte, em busca de mais compradores, ele incluiu elementos mais exóticos e composições menos fiéis aos registros. Do ponto de vista documental, é menos precisa, mas inclui algumas de suas obras mais brilhantes.
Entre os séculos XVIII e XIX, a obra de Post recebeu pouca atenção. Ao publicar as primeiras monografias de referência sobre o pintor, entre 1937 e 1948, o diplomata pernambucano Joaquim de Souza-Leão despertou o interesse de colecionadores sobre a obra do holandês.
Responsável pela curadoria da exposição “Frans Post — O Brasil na corte de Luis XIV”, montada no Louvre, em 2005, a primeira a reunir os sete quadros pintadas no Novo Mundo, Pedro vê uma reavaliação da obra do holandês nas últimas décadas. Em 2000, o Rijksmuseum, de Amsterdã, incluiu uma obra de Post entre os nomes do chamado Século de Ouro da pintura holandesa. Já o Metropolitan, de Nova York, o expõe entre os principais paisagistas holandeses.
—Se Post tivesse retratado a América do Norte, certamente estaria entre os pintores mais famosos da História — arrisca Pedro. — O curioso é que não há muitos dados biográficos sobre ele, fora o que aparece nos cartórios, como datas de nascimento, casamento, nascimento dos filhos, mortes de parentes. Mas, curiosamente, o seu rosto chegou até nós pintado pelo Frans Hals. Era um dos pintores mais famosos da época, talvez o maior depois do Rembrandt.
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