Internacional

Hamas deixa o Cairo após conversas sobre cessar-fogo e diz que 'bola está com Israel'

Grupo aceitou proposta na segunda-feira, mas plano foi considerado 'muito aquém' pelos israelenses; agências alertam para agravamento da crise em Rafah

Agência O Globo - 10/05/2024
Hamas deixa o Cairo após conversas sobre cessar-fogo e diz que 'bola está com Israel'

O grupo terrorista Hamas anunciou nesta quinta-feira que a delegação que participava de conversas sobre um cessar-fogo na Faixa de Gaza, no Cairo, deixou o Egito, e afirmou que “a bola agora está completamente” com Israel. A decisão veio três dias depois da organização a ceitar uma proposta mediada por Egito, Catar e Estados Unidos, e deixa em dúvida a possibilidade de uma aguardada pausa nos combates.

“A delegação de negociação deixou o Cairo em direção a Doha. A ocupação [Israel] rechaçou a proposta apresentada pelos mediadores que tínhamos aceitado”, diz o Hamas, em mensagem enviada a outras facções palestinas e obtida pela AFP. “Por consequência, a bola está completamente no campo da ocupação.”

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Horas antes o anúncio do Hamas, a imprensa do Egito havia declarado que as delegações do grupo palestino e de Israel tinham deixado o Cairo, onde acontecem as discussões sobre o acordo de cessar-fogo. Não houve declarações dos israelenses ou dos países que mediam as conversas — citando pessoas que participaram das negociações, o jornal Haaretz afirma que o diálogo parece ter chegado a uma “rua sem saída”, mas representantes israelenses e palestinos ainda acreditam ser possível um consenso.

Na segunda-feira, após uma ofensiva diplomática liderada pelos EUA, o Hamas anunciou que havia concordado com uma proposta de cessar-fogo para Gaza, centrada em três etapas distintas, cada uma com duração de 42 dias. Cada uma delas estabelecia passos para a pausa nos combates, a retirada das forças israelenses de Gaza e o retorno de reféns capturados no dia 7 de outubro de 2023, além da libertação de prisioneiros palestinos.

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O plano também abria caminho para discussões sobre a reconstrução do território e, eventualmente, para a criação das bases de um futuro Estado palestino. Apesar da euforia inicial dos mediadores, representantes do governo de Israel apontaram que a proposta era “diferente” da que havia sido acertada previamente, e o premier Benjamin Netanyahu disse que o texto estava “bem aquém” do desejado. Mesmo assim, ele concordou em enviar representantes para as negociações no Cairo, desde que fossem respeitadas as “condições necessárias para a segurança de Israel”.

O aparente fracasso de mais uma série de conversas entre Israel e Hamas ocorre no momento em que as forças israelenses iniciam uma aguardada e temida operação terrestre em Rafah, cidade que era considerada um dos últimos refúgios na Faixa de Gaza — cerca de 1,4 milhão de pessoas vivem na área, em boa parte vindas de áreas devastadas no enclave, e muitas receberam ordens para buscar refúgio em outro lugar.

No momento, a maior preocupação de governos e agências de ajuda humanitária é com o fechamento do posto de fronteira entre Rafah e o Egito, principal ponto de entrada de suprimentos e de profissionais de apoio médico e logístico. As tropas israelenses dominam a passagem desde segunda-feira, e o bloqueio deixou Rafah “à beira do precipício”. A passagem de Kerem Shalom, que liga o território israelense a Gaza, também está fechada.

— Eles estão vivendo em condições muito difíceis em tendas, barracos, em condições sanitárias chocantes, porque não há um sistema de esgoto por lá — disse à CNN Hamish Young, coordenador de emergência do Unicef em Gaza. — No nível de diarréia aguda, que pode matar crianças facilmente, está 20 vezes mais alto do que no ano passado.