Política

Como dinastias políticas transformam municípios alagoanos em presas de seus interesses

Clãs familiares avançam sobre pequenos municípios alagoanos em busca do controle dos cofres públicos

Vladimir Barros 07/05/2024
Como dinastias políticas transformam municípios alagoanos em presas de seus interesses

Um fenômeno preocupante foi observado na cena eleitoral de Alagoas. Grupos políticos familiares que detêm o poder em alguns municípios, e que por força da legislação eleitoral não podem continuar na gerência dessas cidades, migraram como predadores para outros municípios com o intuito de dominar os cofres públicos. Cidades pequenas, onde a fiscalização e transparência são escassas, tornaram-se alvos desses "exterminadores" que pleiteiam o voto do cidadão, geralmente com o poder corruptor do dinheiro, um fator crucial nas eleições municipais no estado.



No Sertão, dois exemplos são notórios nas rodas políticas, destacando-se pela influência dos protagonistas na esfera estadual. De Santana do Ipanema para Poço das Trincheiras, Marcelo Melo, esposo da prefeita Christiane Bulhões e cunhado do deputado federal Isnaldo Bulhões, anunciou sua candidatura à prefeitura do pequeno município que possui apenas 12 mil habitantes. Situado a apenas 9 quilômetros da cidade governada por sua esposa, Santana do Ipanema mantém uma forte influência econômica sobre Poço das Trincheiras. Christiane também escolheu seu primo, Dudu Bulhões, para sucedê-la em Santana do Ipanema, reforçando a nociva tese de que política é um negócio de família.

De Cacimbinhas para Estrela de Alagoas, o presidente da AMA testará seu poderio indicando seu tio, Roberto Wanderley, para confrontar o ex-prefeito Arlindo Garrote, que tem como líder a suplente de deputada, sua mãe Ângela. Sem indicar parentes, mas operando de maneira igualmente questionável, os Wanderley também tentam tomar o poder em Minador do Negrão para consolidar o comando nas três cidades limítrofes do médio sertão.

Contudo Cacimbinhas não ficará descoberta: Vaval Wanderley, ex-vice-prefeito de Cacimbinhas e primo do atual prefeito é o sucessor escolhido pela família.

Esses movimentos demonstram que a política deixou de ser um instrumento de prestação de serviço ao povo, onde cidadãos abnegados emprestavam seus nomes para dirigir as cidades em busca do bem comum. Transformou-se em um negócio obscuro de família, onde clãs buscam se perpetuar no poder, tratando a atividade política como uma profissão para benefício próprio e de parentes próximos. Sem mais espaços em seus redutos, muitas vezes por força da legislação eleitoral que impede três mandatos consecutivos, esses políticos procuram brechas na legislação para indicar parentes distantes e, quando não podem, lançam-se à conquista de municípios menores, onde exercem influência econômica por meio de suas gestões anteriores.


Da terceira maior cidade, Rio Largo para Messias


Um caso emblemático dessa prática é o de Gilberto Gonçalves, prefeito de Rio Largo, envolvido em escândalos de corrupção amplamente noticiados, inclusive com passagens pela Polícia Federal. No último fim de semana, ele apresentou seu filho, GG Filho, como candidato a prefeito de Messias, um município de apenas 15.405 habitantes. GG não se descuida de Rio Largo, mesmo com tantas controvérsias, planejando lançar seu sobrinho Carlos Gonçalves como sucessor.



Em Messias, GG disse que agora a cidade teria jeito e em tom desafiador perguntou aos correligionários, em vídeo publicado nas redes sociais: “Não é assim?”, com todos balançando a cabeça em tom afirmativo.

Essa triste realidade reflete a deterioração do cenário político alagoano, onde a manipulação, a perpetuação no poder e o nepotismo corroem as bases da democracia e prejudicam o desenvolvimento social e econômico das comunidades mais vulneráveis.

Pai de JHC quer cofre de prefeitura pequena


Outro caso emblemático que chama a atenção da opinião pública é o do ex-deputado João Caldas, uma figura controversa no cenário político alagoano, envolvido em vários escândalos, incluindo o episódio das Sanguessugas. Praticamente aposentado das urnas, João Caldas busca novamente os votos, lançando-se como pré-candidato a prefeito de Colônia Leopoldina, um município com apenas 21.935 habitantes. Ele continua operando nos bastidores da política da capital, onde seu filho, o prefeito de Maceió JHC, busca a reeleição.



Prefeituras para tios e sobrinhos


Na cidade de Palmeira dos Índios, o cenário também não é menos preocupante. O "filho da verdureira", Julio Cezar, que entrou na prefeitura com um patrimônio modesto – apenas com um salário de soldado da PM – está deixando o cargo supostamente com um patrimônio muito maior, levantando suspeitas entre os cidadãos. Sem ter ganho na loteria e sem ter herdado a "banca de verduras" de sua mãe, que ainda está viva (graças a Deus), o prefeito escolheu para sucedê-lo sua tia, Julia Duarte, a "irmã da verdureira".

Julio Cezar tem lidado duramente com todos os adversários e aliados para manter o poder e o "patrimônio" na "Princesa do Sertão", que está bem maquiada, porém doente e esconde para o público o mal que a fulmina: a saúde está em frangalhos, a educação deficiente, e a assistência social está repleta de escândalos, apenas para citar três áreas críticas de gestão.


Até Arapiraca não fica fora da moda: o prefeito Luciano Barbosa que já tem um filho deputado-federal pensou em lançar o segundo rebento seu vice-prefeito agora em outubro.

Porém um movimento de bastidores parece que vai impedir a escolha e ele deverá ficar com Yale Fernandes na vaga que será desocupada por Ruth Pereira, a irmã do deputado Ricardo Nezinho.





Esses casos exemplificam uma prática deplorável na política alagoana, onde a manipulação de poder e a perpetuação de dinastias familiares sobrepõem-se ao interesse público e à integridade. A política tornou-se um jogo de interesses pessoais e familiares, onde os cargos públicos são vistos como propriedades privadas destinadas a enriquecer e proteger os membros da família em vez de servir à comunidade. Este ciclo vicioso de corrupção e nepotismo ameaça a estrutura democrática e impede o desenvolvimento justo e equitativo que os cidadãos de Alagoas merecem.