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Onça abatida, roupas íntimas queimadas, palmas proibidas: os 'percursos caóticos' da chama olímpica, que chega à França

Símbolo dos Jogos desembarca nesta quarta-feira em Marselha e dá início a megaesquema de segurança

Agência O Globo - 07/05/2024
Onça abatida, roupas íntimas queimadas, palmas proibidas: os 'percursos caóticos' da chama olímpica, que chega à França

Com a chegada da chama olímpica a Marselha na próxima quarta-feira (8), a França vai iniciar um esquema de segurança que culminará na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos no dia 26 de julho, em Paris, e se estenderá até o final da competição.

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A primeira etapa deste "desafio de segurança nunca antes visto" é a chegada da chama a Marselha a bordo do veleiro Belém, com a mobilização de 6 mil membros das forças de segurança. A chama fará então uma longa viagem de 12 mil quilômetros por mais de 400 pontos do país, incluindo seus territórios ultramarinos, antes de chegar a Paris em 26 de julho.

Ao longo de seu percurso, uma "bolha" formada por 115 policiais e gendarmes [guardas de elite] protegerá constantemente a chama, à qual se somarão uma centena de forças móveis. O objetivo é evitar o fiasco ocorrido em 2008, durante sua passagem por Paris antes dos Jogos de Pequim, interrompida após incidentes com manifestantes que denunciavam a política da China no Tibete.

Desde a criação dos Jogos Olímpicos em 1896, o percurso da chama olímpica registrou vários episódios caóticos e curiosos.

Chama caseira e roupa íntima queimada

Brincadeira ou fraude genial, o incidente mais memorável da chama olímpica remonta a 1956. Um jovem estudante australiano, Barry Larkin, conseguiu enganar todo mundo com uma tocha fabricada por ele mesmo, na qual queimou roupas íntimas.

Larkin, que planejou uma escolta motorizada falsa, se encontrou rodeado por várias motos da polícia quando começou a correr, aplaudido pelos espectadores, que lhe acompanharam até a prefeitura de Sidney.

No alto das escadas, o prefeito da cidade recebeu a tocha. Quando ia discursar, a fraude foi descoberta.

Uma onça fugitiva

Seria uma das imagens simbólicas do percurso da tocha até o Rio em 2016. Uma das etapas passava pela Floresta Amazônica, com uma corredora incomum, uma onça de 17 anos chamada Juma, uma espécie em vias de extinção nessa região.

Durante o percurso, Juma fugiu. Quatro fechas com tranquilizantes não foram suficientes para prendê-la, e a fera atacou um domador. Os soldados decidiram abatê-la.

Pombas queimadas em Seul

O ponto culminante da jornada olímpica, o acendimento da pira olímpica, também deixou imagens memoráveis, como, por exemplo, o arqueiro que iluminou os Jogos de Barcelona em 1992 ou a lenda do boxe Mohamed Ali, que já sofria de mal de Parkinson, completando o último revezamento na edição de Atlanta quatro anos depois.

Mas às vezes as coisas não saem como planejado. Isso aconteceu em Seul 1988: liberadas alguns momentos antes, dezenas de pombas se aproximaram do caldeirão enquanto ele estava sendo aceso e várias queimaram diante dos olhos dos espectadores.

As manifestações

As manifestações são um grande clássico do revezamento olímpico, porque oferecem uma exposição midiática mundial. Foram especialmente chamativas em 2008, quando os defensores do Tibete aproveitaram que os Jogos estavam sendo sediados em Pequim para se manifestar. Em Paris, a tocha terminou sua jornada em um ônibus devido aos incidentes.

Durante seu percurso até Sidney, para os Jogos de 2000, um espectador sem nenhuma motivação visível tomou a tocha do surfista Tom Carroll e tentou jogá-la no porto de Kiama, no Sul da cidade, antes de ser imobilizado no chão. Um estudante também tentou apagá-la com um extintor.

Apagões e pandemia

Em 2012, a chama olímpica, eterna segundo a lenda, teve de ser reacendida depois de se apagar quando era carregada pelo astro paraolímpico do badminton David Follett. O fogo não resistiu a uma rajada de vento no sudoeste da Inglaterra.

Nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi-2014, as tochas, fabricadas por uma marca de mísseis russa, se apagaram várias vezes e tiveram que ser reacendidas discretamente por membros do serviço secreto.

Em 2020, o percurso da chama foi interrompido repentinamente pela pandemia da covid-19. Depois de chegar a Tóquio em 19 de março, ela não continuou sua jornada até 25 de março de 2021. Durante um ano, ela permaneceu iluminada no Museu Olímpico da capital japonesa. No percurso final até o estádio, os poucos espectadores que a viram, usando máscaras, foram proibidos de bater palmas para evitar a propagação do vírus.