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GDA: Como a Inteligência Artificial está transformando o ensino superior na América Latina

Colômbia e Argentina lideram a oferta de estudos universitários em IA na região

Agência O Globo - 05/05/2024
GDA: Como a Inteligência Artificial está transformando o ensino superior na América Latina

Desde 1980, a Inteligência Artificial (IA) tem estado presente no ensino superior em países da América Latina, embora nos últimos anos seu uso tenha se expandido gradualmente nas salas de aula: uma evolução que trouxe oportunidades para novas formas de aprendizado, mas ao mesmo tempo desafios sobre como a tecnologia poderia afetar a forma tradicional de ensino.

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Em algumas universidades de Argentina, Colômbia, Chile, México e República Dominicana, o uso e estudo da IA tiveram um impacto maior do que em outras áreas da região, com a abertura de novos cursos, integração de disciplinas relacionadas em outras áreas e a criação de ferramentas e aplicativos para facilitar tanto o ensino quanto a pesquisa.

O GDA realizou uma análise de como as novas tecnologias transformaram o ensino superior em vários países da América Latina, com exemplos como a abertura de um hospital de simulação com realidade aumentada na Costa Rica, centros de pesquisa em México, Brasil e Argentina, e a criação de um drone inteligente que recolhe resíduos sólidos do mar, criado por um estudante de tecnologia na República Dominicana.

Projetos pioneiros

Para Constanza García, diretora do Departamento de Matemática da Universidade Externado da Colômbia, o desafio é fazer as pessoas entenderem que a IA e o uso dessas tecnologias vieram para ficar:

— É necessário desmistificar muitos temas, é preciso capacitar, ensinar e sensibilizar para fazer um uso adequado.

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Até o momento, a Colômbia é uma das líderes em estudos de IA na região, com aproximadamente 18 programas acadêmicos de nível superior e um curso de graduação em Ciência da Computação e Inteligência Artificial oferecido pela Universidade Sergio Arboleda. Em 2022, o centro de Inteligência Artificial e Robótica AudacIA, em Barranquilla, foi o primeiro a ser reconhecido pela Organização dos Estados Americanos (OEA).

Mais ao sul, a Universidade de Buenos Aires (UBA), na Argentina, tem mais de 450 ofertas educacionais que incluem atividades acadêmicas relacionadas à IA. Brasil, Chile e México também oferecem algumas graduações — no Peru, elas estão começando apenas neste ano. Já países como Venezuela e El Salvador ainda não avançaram.

Na República Dominicana, existem pelo menos 54 salas de aula inteligentes — uma delas está desenvolvendo um sistema de registro acadêmico por meio de identificação facial. Também há laboratórios de educação imersiva e um curso de graduação, além de três mestrados e um doutorado em IA. Até abril de 2024, outros dois países já ofereciam estudos de doutorado nesta tecnologia, sendo o Chile o primeiro da América do Sul. Na lista também está o México, com a Universidade Tecnológica de Mixteca e no Centro Tecnológico de Monterrey.

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Além disso, desde ferramentas para facilitar as atividades docentes, até chatbots para os estudantes, várias universidades latino-americanas têm criado plataformas e aplicativos com o auxílio da IA.

Víctor Cuchilla, coordenador do Mestrado em Gestão de Tecnologias da Universidade Francisco Gavidia, de El Salvador, explicou que o centro, junto com a organização argentina Evaluada AI, está executando um projeto no qual os professores colocam conteúdos em uma plataforma que será usada para sugestões de atividades acadêmicas.

Enquanto isso, a Universidade do Chile criou um modelo de detecção precoce de estudantes que podem estar em risco de abandono ou baixo desempenho acadêmico, modelo similar ao usado pela Pontifícia Universidade Católica Madre y Maestra, da República Dominicana. A universidade também tem uma IA para analisar doenças em cultivos agrícolas e outra para detectar condições do tráfego através de visão computacional.

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Usos éticos

Mas não são apenas as universidades que lideram esses tipos de projetos. Como parte de suas atividades, os estudantes do Instituto Tecnológico das Américas (ITLA), em Santo Domingo, desenvolveram um drone inteligente que identifica e coleta resíduos sólidos encontrados no mar, depositando-os posteriormente em aterros sanitários. Além disso, criaram uma plataforma para prever doenças em diferentes pacientes, com o objetivo de determinar certos tipos de patologias.

Outro projeto criado por estudantes argentinos é chamado “Árvores filogenéticas e evolução viral”, que integra a tecnologia para ensinar conceitos complexos em genética e evolução viral.

Tanto estudantes como alguns professores também têm utilizado a IA generativa para facilitar os estudos e o planejamento das aulas.

— Quando tenho uma prova ou uma tarefa prática e quero avaliar o quanto estou preparado, peço ao ChatGPT que formule perguntas, desenvolva casos clínicos únicos para que eu os analise, e também faça questionários com respostas objetivas — disse Carlos Leonel Lima González, estudante de medicina da Universidade Pública dominicana.

Para Juan Carlos Rojas, professor na Costa Rica, usar o recurso na sala de aula não é um grande problema. Na prática, ele permite que os alunos o usem abertamente.

— Eu pessoalmente não vejo isso diferente de pedir ajuda a um irmão, a um amigo ou colega. Não há como impedir. Se usarmos a nosso favor, pode ser uma boa ferramenta.

Nos últimos anos, as próprias universidades latino-americanas têm oferecido cursos e workshops para ensinar aos seus professores como aproveitar a Inteligência Artificial. Na Universidade de Buenos Aires, por exemplo, foi desenvolvido o Ciclo de Formação Docente em IA, em 2023, do qual participaram 1.404 professores universitários.

Um tema que preocupa as autoridades universitárias é que os estudantes usem a IA sem respeitar os princípios éticos da academia. Segundo explicou Sadoth Giraldo Acosta, professor da Universidade Ean da Colômbia, a proteção dos direitos autorais assume uma relevância essencial em questões acadêmicas.

— É necessário ensinar aos alunos o uso e as utilidades que existem, mas também a responsabilidade de cuidado e uso adequado dessas ferramentas.

Até o momento, não há evidências de que a integração da IA diminua ou prolongue o tempo de estudo.

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