Geral

Crítica: Madonna leva 1,6 milhão de pessoas para Copacabana em noite histórica para o RJ

Em duas horas de show, sem quaisquer grandes desvios no roteiro da turnê, cantora reverbera catarse ao repassar 40 anos de carreira

Agência O Globo - 05/05/2024
Crítica: Madonna leva 1,6 milhão de pessoas para Copacabana em noite histórica para o RJ
Foto: Reprodução / internet

O sonho de uma Madonna carioca virou realidade numa noite de sábado — e que outra noite mais adequada? — quando a cantora subiu ao palco ampliado, do encerramento de sua Celebration Tour, para um show gratuito nas areias de Copacabana.

Leia mais: Madonna no Rio — saiba quem são os filhos da cantora e como eles participam do show

Entenda: O que Madonna tem no joelho? Cantora usa equipamento para proteger lesão na perna

A cidade, que abraçara Madonna desde a sua chegada, na última segunda-feira (29), respondeu com os gritos de ansiedade reprimida ao longo da semana, quando ela, enfim, deu as caras, às 22h37, cantando "Nothing really matters", faixa do álbum "Ray of light", de 1998. A esperada catarse reverberou da frente do Copacabana Palace até o Leme: estava aberta, pelas próximas duas horas, a maior pista de dança do mundo. O que restava era aguardar os presentes que ela destinaria aos cariocas — que não foram tantas, mas emocionaram.

A impaciência com o atraso de Madonna era percebido no toque dos leques do público. E enfim, às 22h32, o mestre de cerimônia Bob The Drag Queen anunciou que a festa ia começar. "Nothing really matters" foi só introdução para que Madonna fizesse uma viagem pelo tempo até o começo da carreira, com "Everybody".

"Alô, Rio de Janeiro, bem-vindos ao metrô de Nova York!", saudou ela, antes de avançar por "Into the groove", outra dos primórdios da carreira.

"Chegamos, finalmente chegamos ao Rio!', festejou ela, com uma cerveja na mão e à disposição para falar um "caralho" em português e contar a história de sua vida "como se fosse um diário". Madonna era só animação em discorrer sobre aquela Madonna de 40 anos atrás para seus novos amigos, o publico do Rio de sábado à noite, que respondeu com um coro de "Madonna!", antes que ela pegasse a guitarra e lembrasse — conforme o script do show — os primeiros e punks tempos em Nova York com "Burning up".

"Open your heart", em seguida, traduziu a alegria da Madonna oitentista, que saiu das boates de NY para o mundo — era a esperada pista de dança, que ela tratou de manter rolando com "Holiday", outra de suas pérolas pós-disco da juventude.

O ato 2 do show começou, como esperado, com "Live to tell", canção da perda da inocência dos anos 1980 diante da epidemia da aids — e nos telões, além dos americanos vitimados pela doença apareceram brasileiros como Cazuza, Renato Russo, Caio Fernando Abreu, Zacarias e Lauro Corona — um momento tocante e muito aplaudido.

A gravidade de "Live to tell" abriu caminho para a encenação dos dramas católicos de "Like a prayer", primeiro número mais evidentemente teatral do show, com o filho de Madonna, David Banda, como se fosse Prince reencarnado, fazendo solo de guitarra. Dos mosteiros medievais, a cantora foi então para um ringue de luzes e, entre os dançarinos-lutadores de "Erotica" e sua opressiva-sedutora torrente de frequências graves. Algo que só poderia levar ao surubão de grande efeito visual de "Justify my love" e a recriação no dembow da rapper dominicana Tokischa do libertador "Hung up" — saída ideal para o clima musical pesado que havia sido criado pela sequência.

O piano dramático da filha Mercy James pôs Madonna nos trilhos de "Bad girl", outra canção lenta de um show que oscilou com muita frequência entre a pista e a contemplação. "Vogue" reconduziu e bem a noite para a dança, com uma Madonna de cabelos platinados e reluzente vestido azul, verde e amarelo — a dona de uma festa de som, cores e corpos que rapidamente contagiou todos —, com direito a desfile de Anitta entre os dançarinos na passarela.

"Human nature" (interrompido no meio pela cantora com um grito de "caralho!") e "Crazy for you" passaram voando para a entrada do Ato 5, The Beast Within, com fogo no palco e muito teatro. Foi necessário o vigor dos beats de "Die another day" para que o público reacendesse e entrasse no clima rap-country de "Don't tell me" da caubói Madonna. "Eu sei o que significa 'gostosa"!", brincou Madonna, ao fim, diante da saudação do público — e mandou um belo "Express yourself" ao violão.

O ímpeto violeiro impulsionou Madonna (com David Banda no instrumento) por "La Isla Bonita", com a muito aguardada participação da bateria de escola de samba, que emendou em um "Music" — a apoteose do show com a cantora e Pabllo Vittar, as duas de verde e amarelo, com bandeira e tudo mais — o afago que se esperava aos brasileiros, seus fãs tão fiéis.

O cubo de imagens do brasileiro Gabriel Massan deu o palanque para que Madonna desse aquele pique rumo à reta final do show, com a infalível "Ray of light" — que casou muito bem com a "Rain", clássico das rádios light FM.

Uma junção de "Billie Jean" e "Like a virgin", com Michael Jackson e Madonna, apenas em silhuetas, no telão? Uma das belas ideias da Celebration Tour, que serve para que ela de um salto no tempo até 2015, com "Bitch I'm Madonna" — um outro tipo de pop, com muito barulho e menos sutilezas, mas que cuidou de levar a estrela até os dias de hoje.

Hora de ir embora, depois de duas horas de show, com bandeira brasileira em punho — sem um "Faz gostoso" com Anitta ou quaisquer grandes desvios no roteiro da Celebration Tour. Mas com a certeza de que completou sua jornada no palco que merecia.