Política

Bancada evangélica se revolta com resolução do governo Lula que proíbe proselitismo religioso em presídios

Documento de conselho vinculado ao Ministério da Justiça gera reações entre parlamentares protestantes no Congresso Nacional

Agência O Globo - 04/05/2024
Bancada evangélica se revolta com resolução do governo Lula que proíbe proselitismo religioso em presídios
Lula - Foto: Reprodução

A resolução de número 34 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), vinculado ao Ministério da Justiça, gerou um sentimento de revolta entre parlamentares que compõem a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional. Publicado em 24 de abril, o documento recomenda a proibição do proselitismo religioso nas cadeias do país.

A resolução que tem como objetivo definir diretrizes e recomendações para a assistência socio-espiritual em presídios também proíbe outras práticas como a participação de servidor público como voluntário religioso nesses espaços e o pagamento do dízimo às igrejas por parte dos detentos.

O trecho que causou repercussão entre os deputados e senadores, contudo, diz respeito ao proselitismo religioso, que consiste na prática de tentar converter alguém à religião.

"Será assegurada a atuação de diferentes grupos religiosos em igualdade de condições, majoritárias ou minoritárias, vedado o proselitismo religioso e qualquer forma de discriminação, de estigmatização e de racismo religioso", diz trecho da resolução que apresenta a vedação como uma forma de garantir a livre escolha de cada detento.

Representantes da bancada evangélica, contudo, interpretaram que pastores estariam proibidos de ir aos presídios para apresentarem as atividades religiosas, conduta que é praticada pelas igrejas cristãs.

Ao GLOBO, o presidente da frente no Senado, Carlos Viana (Podemos-MG), caracterizou a resolução enquanto desrespeitosa.

— A proposta do governo simboliza um preconceito religioso. É bom lembrar que ninguém é obrigado a se converter, as pessoas participam e tomam as decisões livremente. Esta medida vai inclusive contra a declaração dos direitos humanos que diz que as pessoas são livres para praticar a região que quiser e mudar de religião e serem respeitados — afirmou o senador que afirma que um dos princípios do protestantismo é justamente pregar nas cadeias, assim como fez Jesus Cristo.

Por sua vez, na Câmara dos Deputados, o integrante da bancada Messias Donato (PP-ES) alegou que a medida é mais uma "perseguição" por parte do Palácio do Planalto.

— O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, do Ministério da Justiça, proibiu que levemos a Palavra de Deus nos presídios. O que revolta não é apenas a perseguição, mas os esforços para impedir que a palavra de arrependimento e perdão seja espalhada para os que precisam — disse.

O impasse gera uma nova rusga entre o presidente Lula (PT) e os evangélicos. Desde o início do governo, líderes reclamam da ausência de proximidade com o Palácio do Planalto, enquanto pastores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro mantém críticas ao petista.