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Show da Madonna: quem é o artista brasileiro que criou o cubo de 'Bedtime Story'

A Rainha do Pop procurou Gabriel Massan após conferir uma exposição dele em Londres

Agência O Globo - 04/05/2024
Show da Madonna: quem é o artista brasileiro que criou o cubo de 'Bedtime Story'
Show da Madonna: quem é o artista brasileiro que criou o cubo de 'Bedtime Story' - Foto: Reprodução / internet

Um dia, o artista visual Gabriel Massan, nascido em Nova Iguaçu e criado em Nilópolis, recebeu uma mensagem de Madonna numa rede social. Ela havia visitado uma exposição dele, “Third World: The Bottom Dimension”, na Serpertine Galleries, localizada no Hyde Park, em Londres, onde a cantora costuma pedalar. Madonna gostou do que viu e perguntou se o brasileiro gostaria de colaborar com ela caso a oportunidade surgisse. Ele topou, é claro. E a oportunidade surgiu: Madonna o convidou para criar uma peça original para a apresentação do hit “Bedtime Story”, incluído no setlist da “Celebration Tour”, turnê que ela encerra neste sábado (4) na Praia de Copacabana.

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Madonna explicou a Massan o que queria: uma peça que funcionasse como um avatar, que transmitisse sua imagem e fosse controlado por ela. Assim surgiu o cubo que projeta os movimentos da cantora no palco sobre uma animação. Ao GLOBO, Massan recordou os desafios de criar uma para a Rainha do Pop:

— Tive bastante liberdade. Minhas propostas conceitual e narrativa foram aprovadas em Paris, onde ficava o meu estúdio na época. Quando cheguei a Nova York, desenvolvi tudo junto com meus colaboradores e diretores. Projetei a cena, o tempo e a luz junto com a equipe da turnê — conta o artista. — Havia ensaios todos os dias e reuniões para tomar decisões técnicas e criativas. Madonna, Jamie King, o diretor da turnê, e eu analisávamos junto o que havia sido acrescentado ao trabalho e discutíamos como deveríamos continuar. Foi um processo de colaboração artística, uma maratona intensa. Madonna trazia ideias e eu interpretava. Ou eu trazia ideias que ela ampliava.

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Massan costuma recorrer a programas de desenvolvimento de jogos para produzir filmes de animação 3D e instalações interativas. É um trabalho experimental e os resultados, diz ele, são sempre imprevisíveis.

— No caso do cubo, o desafio central foi conceber, produzir e dirigir um projeto que levaria meses em 15 dias. Seguimos um cronograma muito apertado e detalhado, pois a equipe era formada por diferentes colaborares em diferentes fusos horários. Havia gente na Austrália, no Japão, nos Estados Unidos, na França, no Reino Unido e na Polônia — afirma o brasileiro. — Usamos técnicas avançadas de captura de movimento para espelhar a coreografia da apresentação no avatar. A gravação das expressões faciais de Madonna foi minha, e o corte da imagem dela ao vivo foi feito por um sistema de inteligência artificial usado pelo time da turnê, o que exigiu testes extensivos.

Influência absoluta

Massan conta que teve uma infância “com muita liberdade para confabular e viver na minha imaginação frenética”. Ele vivia “cercado por personagens da Disney e mangás e animes japoneses”. A avó era poeta. O tio tinha paixão pela escola de samba Beija-Flor. A mãe era fã da Xuxa. E o pai era ativista do movimento negro e fora dançarino.

Ainda criança, ele enveredou pelo teatro e, já adolescente, começou a criar séries para o YouTube usando o jogo de simulação de vida virtual The Sims. Ingressou no curso de comunicação social da Universidade Estadual de Minas Gerais, mas desistiu e voltou para o Rio, onde produziu suas primeiras instalações e ganhou uma bolsa para estudar videoarte e videoinstalação na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Mais tarde, interessou por animação 3D e esculturas digitais. Participou de algumas exposições coletivas, mudou-se para São Paulo e, em seguida, partiu para a Europa — fora aceito numa residência artística na Espanha.

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Massan cita como suas influências autores como a brasileira Denise Ferreira da Silva, a americana Saidiya Hartman e o franco-caribenho Édouard Glissant, os videogames “Parasite Eye”, “Final Fantasy”, “Persona” e “Bayonetta” e filmes animação de cineastas como Akira Kurosawa, Tsai Ming Liang, Hideaki Anno, Hirokazu Koreeda, Mamoru Oshii e Nam June Paik. Ele também é fã de Madonna, é claro.

— Madonna faz parte da minha vida desde que eu nasci, por influência absoluta dos meus pais. Depois, ela desempenhou um papel importante na formação da minha identidade e no amadurecimento da minha sexualidade durante a adolescência — diz ele. — Como artista, a troca e o aprendizado que guardo comigo após a construção desse trabalho são imensuráveis. Me sinto grato por poder colaborar com alguém que admiro e que inspirou e tornou possíveis tantas transformações sociais graças a seus questionamentos.