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Megashow de Madonna chega com as cores do Brasil naquela que deve ser a maior apresentação de sua carreira

Rainha do pop ocupa Praia de Copacabana neste sábado (4) e expectativa é recorde de público

Agência O Globo - 04/05/2024
Megashow de Madonna chega com as cores do Brasil naquela que deve ser a maior apresentação de sua carreira

Há pelo menos 30 dos seus 40 anos de carreira, Madonna vem mantendo uma certa intimidade com o Rio de Janeiro. Da primeira visita, em 1993 com o The Girlie Show no Maracanã, à mais recente, em 2012, com o espetáculo da turnê do disco “MDNA”, no Parque dos Atletas, a cantora mobilizou a cidade com suas intervenções no palco, suas escapadas e suas tentativas de integrar-se ao fuzuê local (em 2008, acompanhada de um namorado carioca, Jesus Luz), sempre dentro do que o seu status de megaestrela permitia.

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Mas nada foi — e dificilmente será — como o que está para acontecer na noite de hoje, nas areias de Copacabana, a partir das 21h45, no show da Celebration Tour.

Desde a chegada de Madonna, na segunda-feira, o Rio vive — com justiça — em meio a um clima de réveillon fora de época. Mulher que moldou o mundo pop à sua imagem e semelhança e que resistiu a todas essas últimas décadas (e às estrelas mais jovens) sem descer do salto ou sair do palco, ela encerra na cidade a sua turnê de comemoração dos 40 anos de reinado com o maior show de sua vida, para um público estimado de mais de 1,5 milhão de espectadores. Ou seja: não será um espetáculo qualquer, desta que não é uma turnê qualquer, o que espera o público esta noite.

Para começar, no Rio o palco tem o dobro do tamanho daqueles das apresentações da Celebration Tour que passaram pela Europa e América do Norte desde outubro de 2023. São 812 m² e três passarelas — a central com 22 metros de extensão — a 2,40 metros de altura do chão. E, como desta vez o show acontece ao ar livre, foram instaladas na praia 16 torres com caixas de som e 15 telões de LED (além de dois que compõem o cenário) do Copacabana Palace até o Leme. Tudo para cumprir a promessa de que este será, além de o maior show de Madonna na história, também “a maior pista de dança do mundo”.

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Uma pista que, por sinal, teve suas luzes acesas na noite de quinta-feira, no primeiro ensaio de luz e som do show. Um evento por si só, ao qual uma multidão de cariocas, turistas brasileiros e um bom punhado de estrangeiros acorreram para tentar flagrar, com seus celulares, o que acontecia por trás dos tapumes de metal que cercavam o palco.

Lá, Madonna (que até então só tinha sido vista da janela do Copacabana Palace, espiando desconfiada pelas cortinas, na foto que inspirou incontáveis memes) apareceu em pessoa, com seus dançarinos e o rosto tapado por uma máscara. Mesmo esquiva (e mal-humorada, como deixaram escapar alguns insiders), ela revelou um pouco do que será a Celebration carioca.

Usando um quimono preto, a cantora fez a alegria dos fãs nas imediações do Copacabana Palace ao cantar “Nothing really matters”, canção do álbum “Ray of light”, de 1998, que tem sido a escolhida para abrir os shows da turnê. Ela tocou guitarra em “Burning up” e “Express yourself” (nesta, acompanhada pelo filho David Banda, também no violão, e um músico no violoncelo). Depois, vestiu-se de caubói para “Die another day” e body e corselete com retalhos de jeans, luvas azuis, cordões longos brilhantes e uma máscara branca acoplada a um véu para “Bitch I’m Madonna”.

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Mas o público queria algo mais pessoal, e ela deu. Enquanto ensaiava a canção “Live to tell”, o telão reproduzia imagens de personagens ilustres cujas vidas a Aids ceifou, entre eles os brasileiros Betinho, Cazuza, Renato Russo e Sandra Bréa. Antes de cantar “La isla bonita”, velha canção de sabor latino, ela disse: “Oi Brasil, vocês estão me ouvindo? Vocês estão felizes? Estão prontos? Só checando!” Durante “La isla”, o telão exibia imagens do Rio de Janeiro, dos cartões-postais às favelas.

E aí chegou a grande supresa: “Music”, que ganhou ritmo de samba e a participação da brasileira Pabllo Vittar. Diante da drag, Madonna dançou funk com as mãos e pés no chão e o bumbum projetado para cima, na mesma posição da coreografia de “Envolver”, de Anitta. Depois, Pabllo a abraçou pelas costas. E a multidão foi ao êxtase quando componentes de escolas de samba subiram ao palco para dar um ritmo extra. Pabllo e Madonna então dançaram juntas e interagiram entre si e com um grupo de bailarinos. Ao final, cada uma segura uma bandeira do Brasil, que também foi projetada no telão.

Enquanto Madonna e Pabllo Vittar ensaiavam em Copacabana, Anitta (com quem a americana gravou o funk “Faz gostoso” no seu álbum “Madame X”, de 2018) dava uma entrevista em evento da revista Variety: “Madonna fará um show na Praia de Copacabana para mais de 1 milhão de pessoas. Quando recebi o convite, eu pensei, definitivamente irei. É histórico para o meu país”, disse a brasileira sem confirmar se o convite era para assistir ou se apresentar.

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'Meu lugar favorito no mundo'

O funk, ao que tudo indica, é o ritmo que Madonna pretende privilegiar no pré e no pós de seu show. Depois que ela sair do palco, quem segue com o som, na Praia do Leme, é o DJ Pedro Sampaio. E, às 20h, quem começa o aquecimento para o show é o DJ americano Thomas Wesley Pentz, o Diplo, produtor de músicas para Beyoncé, Britney Spears e Justin Bieber, e velho conhecido do Rio, cidade que frequenta desde 2004 em busca do batidão eletrônico das favelas.

Produtor de “Bitch I’m Madonna”, Diplo foi um dos principais divulgadores do funk no mundo, contratando para sua gravadora, Mad Decent, o grupo curitibano Bonde do Rolê e produzindo o doc “Favela on blast”, de 2009. Ele ainda teve participação no lançamento, em 2017, de Pablo Vittar — “Open bar”, primeiro sucesso da drag, é uma versão em português de “Lean on”, hit planetário do americano com o projeto Major Lazer — e hoje suas mãos podem ser vistas na produção de duas faixas de “Funk generation”, o novo disco de Anitta: “Funk rave” e “Aceita”.

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— Tenho um relacionamento muito especial com Madonna e acho muito legal que ela tenha me convidado, sabendo que eu tinha essa ligação com o Brasil há tantos anos. Então é muito lindo estar junto com pessoas no Brasil, meu lugar favorito no mundo — diz o DJ, por Zoom, de Las Vegas, enquanto anda pelos corredores do hotel junto com a rapper cingalesa M.I.A., com quem estourou em 2005 “Bucky done gun”, inspirada no funk carioca.

Diplo e M.I.A., que vieram ainda como um casal ao Brasil, para o Tim Festival de 2006, se apresentariam ontem no Encore Beach Club de Vegas (ele deixa escapar, inclusive, que gravou uma faixa com M.I.A. para o novo disco de Anitta). Logo depois, o DJ seguiria para o show de Copacabana.

— Madonna é minha musicista favorita de todos os tempos. Tocar no Rio com ela é como um sonho que virou realidade, vai ser o auge da minha vida — acredita o DJ, que contou ter recebido boas lições da cantora, quando trabalhou com ela em faixas do álbum “Rebel heart”, de 2015. — Ela é especial, uma artista da velha escola. Enquanto pensamos em singles, ela quer fazer álbuns, como uma artista clássica. Ela leva o trabalho muito a sério. Se eu ficava entrando e saindo do estúdio ou verificando meus e-mails, ela dizia: “Não é assim que se faz!”. E eu, que não estava fazendo um bom trabalho, acabei dando o meu melhor por ela.

Sobre o seu set de hoje, Diplo dizia ainda estar “pensando no que ia tocar”:

— Vou tocar música brasileira e um pouco da minha música. Talvez alguns clássicos do funk carioca, um pouco de Madonna... coisas malucas, espero que o público curta!

O DJ analisa a evolução do funk desde as primeiras vezes em que veio ao Brasil.

— Antes, tinha a FM O Dia e DJ Marlboro, e mesmo em São Paulo havia muito pouco funk. Hoje, o estilo está em todo lugar no Brasil. Tem em Manaus, Brasília... e todos muito diferentes. São Paulo agora tem um estilo único de funk, muitos artistas novos — diz. — Gabriel do Borel (do Rio, produtor de Anitta) faz coisas muito boas, energéticas... o funk explodiu em uns 20 gêneros diferentes!