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Madonna reúne gerações de X a Z na Praia de Copacabana; mais novos maratonaram shows da diva pela internet

Cantora pop encerra Celebration tour no Brasil neste sábado (4)

Agência O Globo - 04/05/2024
Madonna reúne gerações de X a Z na Praia de Copacabana; mais novos maratonaram shows da diva pela internet

Eles não assistiram aos clipes de Madonna na MTV, nem ouviram seus hits em LP — os discos de vinil que têm são, no máximo, objetos de colecionador. São acostumados mesmo com YouTube e música no streaming, mas, nem por isso, jovens da Geração Z — os nascidos no fim da década de 1990 até 2010 — são alheios à diva das divas (segundo o Chartmetric, que coleta dados do mercado fonográfico digital, a maior parte do público dela tem entre 24 e 35 anos). Podem não os maiores fãs da americana, mas eles estarão, sim, presentes hoje em Copacabana para ver e serem vistos.

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Muitos têm passado por lá. No Dia do Trabalhador, na última quarta-feira, Paulo Vitor Miranda, de 20 anos, de Volta Redonda, estava na porta do Copacabana Palace, onde a cantora está hospedada. Ele fez um “bate e volta” do interior para o Rio, naquele dia, apenas para reconhecer o terreno, ou seja, entender a disposição do palco, porque quer estar o mais perto possível da grade. Energia de novato, mas amor de veterano.

— Madonna é onipresente, e todo o mundo a conhece — diz Paulo, que vestia look igual ao que a estrela usa no show e que ele pretende repetir hoje: coturno, corselet verde e jaqueta preta com adereços.— Mas meu despertar foi na adolescência. Comecei a ouvir a música, gostar e foi indo assim.

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Via ‘carrossel’

Já o estudante Filipe Drescher, de Cuiabá, de 20 anos, lembra que se encantou com a cantora enquanto assistia à novela “Carrossel” no SBT, quando tinha 11 anos. O que teria Madonna a ver com a cândida professora Helena? Ele explica.

— Tinha um comercial que passava toda hora no intervalo em que ela aparecia para anunciar o perfume dela para a Jequiti — conta o rapaz, se referindo à fragrância Truth or Dare, revendida no Brasil pela empresa. — Por causa de uma novela infantil virei fã de Madonna (risos).

Pode até ter sido na TV que Filipe descobriu sua ídolo, mas é no computador e no celular que ele passou a consumi-la vorazmente, pelo YouTube e plataformas de streaming — algo bastante natural para a geração dele e para a seguinte, os millennials. Segundo a Deezer, 33% dos ouvintes de Madonna no Brasil têm entre 26 e 34 anos e 12% entre 18 e 24 anos — no YouTube, esse número sobe para 43% dos inscritos no canal dela segundo o Chartmetric. Caso do produtor audiovisual Arthur Serafin, ainda um zennial de 24 anos, natural de Criciúma (SC) e morador de Florianópolis. Ele se apaixonou por Madonna tão logo começou a adolescência, quando começou a usar mais as redes. Descobriu a música “Human nature”, cujos versos “express yourself, don’t repress yourself” (se expresse, não se reprima, em tradução livre), fez todo sentido para um jovem que se descobria gay.

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— Estava lidando com a ideia de sair do armário e aquilo me bateu de uma forma muito profunda. Comecei a ouvir outros álbuns, assistir a clipes e a documentários — diz o catarinense.

O universo LGBTQIAP+ também levou o estudante de Psicologia de São Paulo Willian Alencar, de 23 anos, a Madonna — um ícone para a comunidade desde a ascensão dela ao estrelato pop. O rapaz conta que a relação da mãe com um tio gay e diversos amigos também homossexuais — todos fãs — fizeram com que ele, desde sempre, estivesse inserido no fandom da cantora.

— Virei fã por questões geracionais — diz Willian — Tenho amigos que escutam ela, mas nenhum fã como eu.

É assim também no círculo de amizades das cariocas Eduarda Vilar, de 13 anos, e Paola Pigatti, de 16. As duas têm histórias semelhantes: ficaram fãs de Madonna por influência das mães e com uma ajudinha a mais do TikTok, onde vira e mexe viraliza uma canção dela. “Material girl”, de 1984, foi a última grande trend, em 2022, e já tem mais de 350 milhões de vídeos. Ambas vão ao show acompanhadas dos pais.

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— Gosto bastante do tipo de música dela, alegre e dançante — diz Paola, que a viu pela primeira vez no filme “Quem é essa garota”, assistido com a mãe. — Meus amigos até sabem quem ela é, mas não dão tanta atenção.

Etarismo

Todo os entrevistados têm a mesma hipótese para o fato de Madonna não conseguir chegar com força na Geração Z, mesmo com os grandes nomes idolatrados por essa turma sorver de uma porção de coisas que ela fez e faz (bote aí Lady Gaga, Dua Lipa, Taylor Swift etc.): preconceito de idade. Pesquisadores de música pop assinam embaixo.

— Existe um etarismo muito grande — diz Mariana Lins, da Universidade Federal de Pernambuco, com dissertação de mestrado e tese de doutorado sobre Madonna. — Há, no entanto, uma tentativa notória por parte dela de tentar se comunicar com esse público. No TikTok, por exemplo, ela até se posiciona bem. Dentro do possível, é uma pessoa que tem tentado manter esse contato com a realidade atual do mercado, (mas) existe um rechaço enorme, não só a ela, como a outros também.