Geral

Ivete, Ludmilla, Chitãozinho e Xororó, Alcione: Rock in Rio reúne nomes da MPB para gravar música pelos 40 anos do festival; 'mensagem de empatia

Evento anunciou também que o dia 21 de setembro terá apenas shows de artistas brasileiros; Sertanejos se apresentarão pela primeira vez

Agência O Globo - 29/04/2024
Ivete, Ludmilla, Chitãozinho e Xororó, Alcione: Rock in Rio reúne nomes da MPB para gravar música pelos 40 anos do festival; 'mensagem de empatia

"Deixe seu ego fora desse estúdio", dizia a placa na porta do estúdio montado nesta segunda (29) numa das salas da Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. Parecia o "We are the world" e, de certa forma era: 55 artistas do primeiro time da MPB, dos mais variados estilos, se reuniram para gravar coral e solos de "Deixa o coração falar", música em homenagem aos 40 anos do Rock in Rio, composta por Zé Ricardo.

Era a maior concentração de astros vista em muito tempo no âmbito da música brasileira — que dominará a programação da edição comemorativa do Rock in Rio no dia 21 de setembro, conforme anunciado também nesta segunda em coletiva de imprensa na Cidade das Artes. Uma novidade no Dia Brasil do Rock in Rio será a participação inédita de artistas da música sertaneja, no Palco Mundo, em show que terá Chitãozinho & Xororó recebendo, Luan Santana, Simone Mendes e Ana Castela.

Um clima da festa marcou a reunião dos artistas no tablado montado para a gravação do coral. Era possível ver ecléticos montinhos formados por Andreas Kisser e Paulo Xisto, do Sepultura, com Dinho Ouro Preto, Frejat e Péricles. Ou então por Ivan Lins, Criolo, Carlinhos Brown, Jão e Tico Santa Cruz. E mesmo de amigas como Luedji Luna, Ivete Sangalo, Majur e Iza.

— Eu sei o que vocês fizeram dentro de suas agendas para estarem aqui — agradeceu Zé Ricardo, vice-presidente do festival, que além de compor a canção, regeu e produziu a gravação. — Só vamos evitar bater o pé e bater palma! (regra que, a certa altura, foi deixada de lado pelas empolgadas estrelas).

Cada um com seus fones, no melhor estilo "We are the world", os artistas então fizeram os últimos acertos para cantar em uníssono o refrão que diz: "Deixa o coração falar/ não temos tempo a perder/ a vida é acertar e errar/ eu não quero ficar longe de você/ deixa o coração falar/ não temos a perder/ se a gente realmente se escutar/ é claro que a gente vai poder se entender".

— Eu achava que o Rock in Rio tinha que ter um dia em homenagem a quem acreditou em mim: os brasileiros — disse o criador e presidente do festival, Roberto Medina, antes da primeira gravação à vera.

Presente no coro, Alcione fez questão, ali, de evocar memórias:

— Seu Medina (Abraham Medina, pai de Roberto) gostava muito de mim, ele levava meus discos para tocar no Rei da Voz (sua rede de lojas)!

Zé Ricardo conta ter recebido a encomenda da música de um Roberto Medina que tinha acabado de assistir ao documentário sobre as gravações de "We are the world".

— Ele disse: a gente tem que ter um negócio desses! — conta Zé, que compôs "Deixa o coração falar" ao longo de um mês de "muitas versões". — Eu queria uma canção simples, que fosse chiclete, com uma mensagem de empatia. O Roberto acha que a gente está muito distante, que a gente não escuta o outro. Quero que essa música seja uma ponte para as pessoas se conectarem, porque elas podem pensar diferente e ainda assim conviverem.

Reunir esse time num começo de tarde de segunda-feira foi, para Zé, uma dessas façanhas que "só o Rock in Rio consegue".

— Muitas pessoas trocaram campanhas publicitárias de dia e desmarcaram shows, foi um desafio — diz ele, reconhecendo que agora o Rock in Rio terá outra música-tema, além daquela que se consagrou logo na primeira edição, em 1985. — Aquela música (de 85) é muito marcante e tem uma função, quero que essa nova traga algum tipo de identidade para esses 40 anos do festival. O Rock in Rio sempre lutou por um mundo melhor. Quando o "We are the world" foi feito, o problema era a fome. Ainda é. Mas hoje tem um problema maior que é a falta de diálogo, de pessoas ouvirem umas as outras.

A festa da gravação de "Deixa o coração falar" (que terá seus direitos revertidos para as ONGs Ação da Cidadania e Gerando Falcões) começou antes mesmo da gravação, na movimentação dos camarins para os elevadores. Era MC Cabelinho papeando com Ludmilla, Ivete Sangalo com Xamã, Luísa Sonza de braços dados com Duda Beat... mestre do soul brasileiro, o cantor Hyldon reencontrou Diogo Nogueira, que conhecera criança nos braços do pai, o sambista João Nogueira.

Depois de receber Iza (que se apresentará no palco Sunset com oito meses de gravidez), Ivete Sangalo teve sua entrevista invadida pela amiga Simone Mendes.

— Um tá sempre trabalhando, o outro também... essa nossa rotina não permite encontros como esse — festejou Ivete, que confessou estar se sentindo "meio Lionel Richie" no "We are the world" brasileiro. — O encontro não pode ser desperdiçado com vaidades. E, para mim, a festa só acaba quando termina.

Dia Brasil

Em coletiva de imprensa, após a gravação da música (que foi apresentada, em momento surpresa na coletiva pelo batalhão de artistas), Zé Ricardo anunciou a programação do Dia Brasil, 21 de setembro. Além dos artistas sertanejos, o palco Mundo recebe os shows de Capital Inicial, Detonautas, NX Zero, Pitty, Rogério Flausino e Toni Garrido no chamado “Para Sempre: Rock”. Já no “Para Sempre: MPB” acontecem performances de Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Majur, BaianaSystem, Ney Matogrosso e Margareth Menezes. E para o “Para Sempre: Trap” o festival anunciou MC Cabelinho, Kayblack, Matuê, Orochi, Filipe Ret, MC Ryan SP e Veigh.

No Palco Sunset, o “Para Sempre: POP” contará com shows de Duda Beat, Gloria Groove, Jão, Ludmilla, Lulu Santos e Luísa Sonza; no “Para Sempre: Samba”, Zeca Pagodinho e sua banda, convidaram para subir ao palco Alcione, Diogo Nogueira, Jorge Aragão, Maria Rita e Xande De Pilares; já no “Para Sempre: Rap”, Criolo, Djonga, Karol Conká, Marcelo D2 e Rael são os artistas confirmados.

Enquanto isso, o Global Village recebe o “Para Sempre: Bossa Nova” com Bossacucanova com participação de Cris Delanno, Leila Pinheiro, Roberto Menescal e Wanda Sá; o “Para Sempre: Soul” com Banda Black Rio, Claudio Zoli e Hyldon; e o “Para Sempre: Jazz” com Leo Gandelman, Jonathan Ferr, Antônio Adolpho e Joabe Reis.

No Espaço Favela acontece o “Para Sempre: Funk” com shows de MC Don Juan, MC Hariel, MC IG, MC Livinho, MC Dricka, MC Ph; o “Para Sempre: Música Clássica” com Nathan Amaral e Orquestra Jovem da Sinfônica Brasileira; e o “Para Sempre: Baile Funk” com Buchecha, Funk Orquestra, Mc Carol, Tati Quebra Barraco, Cidinho E Doca e Kevin O Chris.

Por fim, o New Dance Order recebe o “Para Sempre: Eletrônica” com os DJs Mochakk, Beltran X Classmatic, Eli Iwasa X Ratier e Maz X Antdot colocando toda a plateia para dançar ao som de muita dance music.

Chitãozinho celebrou a primeira vez em que ele e seu irmão Xororó se apresentarão no festival:

— O Rock in Rio faz parte da história do povo brasileiro, e há muitos anos a gente sonhava com esse momento, só faltava a nossa música chegar lá... finalmente estamos realizando esse sonho!

— Meu irmão sempre falou: o Rock in Rio é maravilhoso, só tinha um defeito: faltava um palco para a música brasileira — completa Xororó.

— Vai ser o show dos nossos 50 anos de carreira que está viajando pelo Brasil desde o ano passado, só que com um som mais pesado, porque a gente sabe que o PA lá fala alto — avança Chitãozinho. — E vamos ter a brilhante participação da Orquestra de Heliópolis e do Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura). Quem sabe ele não faz o solo de "Evidências"?