Internacional

Biden faz piadas sobre Trump em jantar anual: 'Sou um homem adulto concorrendo com uma criança de 6 anos'

Jornalistas e políticos confraternizaram com filé mignon no evento da Associação de Correspondentes da Casa Branca enquanto manifestantes pró-Palestina protestavam do lado de fora

Agência O Globo - 28/04/2024
Biden faz piadas sobre Trump em jantar anual: 'Sou um homem adulto concorrendo com uma criança de 6 anos'
Joe Biden - Foto: REUTERS/Jonathan Ernst/Direitos Reservados Fonte: Agência Brasil

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não perdeu tempo. Logo no início de seu discurso no jantar anual da Associação de Correspondentes da Casa Branca no sábado, o democrata começou a falar sobre as questões que dominam a eleição de 2024, incluindo sua idade e o julgamento do ex-presidente Donald Trump por suborno em Nova York.

— A eleição de 2024 está a todo vapor e, sim, a idade é uma questão — disse Biden em um discurso de cerca de 10 minutos. — Sou um homem adulto concorrendo com uma criança de 6 anos.

'Era menos que inútil’: Cotada a vice de Trump revela ter matado cachorro de 14 meses a tiros

Imunidade presidencial de Trump? Decisão da Suprema Corte deve atrasar ainda mais julgamento sobre interferência eleitoral

O democrata continuou:

— Donald tem tido alguns dias difíceis ultimamente. Você pode chamar isso de um momento “tempestuoso” [stormy weather, em inglês] — comentou, fazendo uma referência indireta a Stormy Daniels, uma ex-atriz pornô que alega ter tido um caso extraconjugal com Trump em 2006 e recebido um pagamento de suborno nos dias anteriores à eleição de 2016, um acordo que está no centro de seu julgamento em Nova York.

Os comentários foram surpreendentes, já que Biden proibiu seus assessores de falar publicamente sobre os problemas legais de Trump. Mas também foram feitos em um momento em que Biden intensificou seus ataques ao magnata, acentuando a distância entre um presidente em campanha e um ex-presidente que passa seus dias no tribunal.

O jantar anual no Washington Hilton Hotel proporcionou aos jornalistas e funcionários do governo uma pausa em suas discussões habituais para uma noite de glamour e fofocas em comemoração à liberdade de imprensa. Biden, que realizou menos entrevistas coletivas do que seus antecessores, estendeu seu brinde aos jornalistas reunidos para o jantar.

— Alguns de vocês reclamaram que eu não respondo o suficiente às suas perguntas — disse Biden. — Sem comentários. O New York Times emitiu uma declaração me criticando por “evitar ativa e eficazmente jornalistas independentes”. Se isso for necessário para que o New York Times diga que sou ativo e eficaz, eu concordo.

Fora dos portões do Washington Hilton, no entanto, a indignação com o apoio de Biden à guerra de Israel em Gaza era evidente.

Quando jornalistas e políticos chegaram ao hotel, muitos foram cercados por manifestantes pró-palestinos que gritavam: “Que vergonha!” Outros manifestantes, usando coletes de imprensa com os nomes de mais de 100 jornalistas palestinos que foram mortos em Gaza, deitaram-se em frente ao local do jantar.

— Ao colocar nossos corpos na rua, criamos um pouco de desconforto [para os jornalistas que participam do evento] — afirmou Hazami Barmada, uma das organizadoras do protesto.

Dentro do salão de baile do hotel, muitos jornalistas usavam broches com a inscrição “Free Evan” (Evan Livre) para aumentar a conscientização sobre o repórter do Wall Street Journal Evan Gershkovich, que está detido na Rússia desde março de 2023 — injustamente, de acordo com o governo dos EUA.

Kelly O'Donnell, repórter sênior da Casa Branca para a NBC News, que também é presidente da associação de correspondentes, usou seus comentários para chamar a atenção para os jornalistas que foram capturados ou mortos enquanto realizavam seu trabalho, incluindo Gershkovich; Austin Tice, que foi sequestrado enquanto fazia uma reportagem na Síria; e repórteres que foram mortos em Gaza.

— Nossa profissão pode ser perigosa — disse O'Donnell. — Desde outubro, cerca de 100 jornalistas foram mortos, a maioria deles em Gaza.

Ainda segundo O'Donnell a associação de correspondentes quis escolher este ano um apresentador que fosse tanto roteirista quanto comediante. Colin Jost, coâncora do programa “Weekend Update” do “Saturday Night Live” — e ex-repórter do Staten Island Advance — passou cerca de 23 minutos tirando sarro do presidente.

Mas o discurso de Jost foi relativamente leve e até mesmo solidário a Biden. Ele terminou observando que seu avô, que morreu recentemente, havia votado no democrata na última eleição.

— O motivo pelo qual ele votou em você é porque você é um homem decente — afirmou Jost, que não perdeu a oportunidade de cutucar o presidente sobre seus números nas pesquisas. — Meu coâncora do Weekend Update, Michael Che, ia se juntar a mim aqui esta noite, mas, em solidariedade ao presidente Biden, decidi perder todo o meu apoio entre os negros.

Comendo medalhões de filé mignon grelhado, celebridades e jornalistas também tiveram a chance de ver aqueles que estão definindo as políticas que afetarão os americanos nos próximos anos. Lester Holt, âncora da NBC News, sentou-se ao lado de Jeffrey Zients, chefe de Gabinete da Casa Branca, que fez questão de se levantar e falar brevemente com o reverendo Al Sharpton.

Nem todo mundo estava de smoking ou vestido — o senador John Fetterman, democrata da Pensilvânia, apareceu vestindo um moletom branco com capuz e um desenho de gravata borboleta na frente.

Hollywood estava bem representada no jantar, com a atriz Scarlett Johansson, que é casada com Jost, sentada na primeira fila. Populares âncoras de notícias a cabo jantaram com os atores Jon Hamm e Sean Penn, entre outros.

Antes de se dirigirem a seus assentos, políticos como o senador Chuck Schumer, de Nova York, o líder democrata, e o governador J.B. Pritzker, de Illinois, conversaram com os convidados enquanto os funcionários da campanha de Biden falavam sobre as pesquisas recentes que mostram Biden diminuindo a vantagem de Trump.

Biden também parecia encorajado. Embora raramente tenha mencionado Trump pelo nome no início de sua Presidência, ele o provocou agressivamente nos últimos tempos e continuou no sábado.

— A idade é a única coisa que temos em comum — disse Biden, de 81 anos, sobre Trump, 77. — Meu vice-presidente realmente me apoia — acrescentou, referindo-se à decisão do ex-vice-presidente Mike Pence de não apoiar Trump.

Biden também usou seu discurso no jantar para alertar sobre as ameaças de seu oponente político à democracia — cada vez mais um foco de sua mensagem aos eleitores.

— Concentre-se no que está de fato em jogo. Os riscos não poderiam ser maiores — concluiu.