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São quatro ou cinco? Mistério envolvendo cães do presidente argentino levanta dúvida sobre sua sanidade mental

Javier Milei conversa com quatro cachorros clonados e um cachorro fantasma cuja morte ele se nega a admitir

Agência O Globo - 27/04/2024
São quatro ou cinco? Mistério envolvendo cães do presidente argentino levanta dúvida sobre sua sanidade mental

A Argentina tem um presidente excêntrico que fala com quatro cachorros clonados e um cachorro fantasma cuja morte ele se nega a admitir: esse relato não oficial ganhou destaque esta semana quando aumentaram as piadas e os questionamentos sobre a saúde mental de Javier Milei.

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É "uma falta de respeito definir o presidente como uma pessoa que fala com coisas que não existem. Me parece uma questão absolutamente desrespeitosa, é se meter com a sua família", disse o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, na quinta-feira.

Foi assim que ele respondeu a um jornalista que argumentou que, se o presidente tem quatro cães e, em vez disso, vê cinco, então estamos falando de "uma pessoa que vê algo que não corresponde à realidade".

O ex-presidente Alberto Fernández também abordou o tema na quinta-feira quando respondeu ao seu sucessor, que o havia qualificado como "marionete" na noite anterior:

— Deve saber que meu cachorro não me dá conselhos e está vivo — pontuou o peronista.

Foi assim que ele provocou Milei sobre seu cachorro Conan, um mastim inglês adorado pelo presidente que morreu em 2017.

Segundo "Loco", a biografia não autorizada de Milei (2023), do jornalista Juan Luis González, o presidente não aceita a morte de Conan e se refere a ele como um de seus "cinco" cachorros, que costuma chamar de filhos de quatro patas.

Seus outros mastins ingleses são clones de Conan que Milei mandou fazer nos Estados Unidos. Ainda de acordo com a pesquisa de González, ele se comunica com os animais, os vivos e o morto, graças aos supostos ensinamentos de uma médium especializada na "comunicação interespécies".

Isso foi confirmado à imprensa nos últimos meses por várias pessoas do entorno de Milei, entre o eles o político Rafael Bielsa, que trabalhou com o presidente, e a médium Celia Melamed, que disse ao canal TN que ela o havia ajudado "a encerrar o luto com seu cachorro".

— Parece piada, mas aqui há um tema que é a saúde mental do presidente — disse González à AFP.

Milei não negou nem confirmou isso aos diversos jornalistas que lhe perguntaram sobre os cães e costuma ser evasivo ao responder.

— Suponhamos que tudo fosse verdade. Em que isso afetou sua liberdade, sua propriedade, sua vida? Não machucou ninguém — disse em outubro ao canal LN+. — Que digam o que quiserem de meus filhinhos de quatro patas — respondeu à apresentadora Mirtha Legrand em dezembro.

Um minuto de silêncio

Para González, “não é uma questão de ele [Milei] dizer que tem cinco cachorros, mas parecer ter quatro. É uma questão para todos os argentinos, os que votaram nele e os que não votaram".

No início do mês, o canal CNN divulgou uma entrevista com o presidente argentino na qual o apresentador, Andrés Oppenheimer, pergunta pelos quatro cachorros. Milei o corrige: "Cinco", disse, para surpresa dos argentinos.

— Não entendo por que faz diferença para você se há quatro, cinco ou 43 cachorros — respondeu o porta-voz Adorni a um jornalista na segunda-feira quando perguntado sobre isso.

Para González, a preocupação não é trivial.

— É possível entender muitas coisas que o governo faz por meio da instabilidade de Milei, porque é assim que esse governo se administra. Há um fio que conecta essa instabilidade com a maneira como ele governa — avaliou, referindo-se aos cortes drásticos de gastos que a Casa Rosada fez para atingir sua meta de déficit zero até o final do ano.

Claramente, os cães são uma questão delicada, e muitos manifestantes se aproveitaram disso em um mega protesto na terça-feira contra Milei por causa dos cortes no orçamento das universidades públicas, cantando "Um minuto de silêncio... Para Conan que está morto".

Um manifestante na Praça de Maio carregava uma coleira rígida de cachorro, sem o cachorro, com a seguinte inscrição no acessório vazio: "Conan". Outros seguravam cartazes alusivos ao suposto cão fantasma e conselheiro presidencial que diziam "Sem ciência, sem Conan" ou "Estude para não pedir conselhos a um cachorro morto".